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A política externa de Biden e os seus possíveis impactos geopolíticos - Parte II.


Figura disponível em: https://cdnph.upi.com/ph/st/th/7121638281421/2021/upi/e208ecfe0e7eb8e96ca6987709946961/v1.2/Bidens-national-security-defense-strategies-need-specific-action-goals.jpg?lg=5&=1

Como o Blog é um espaço livre e dedicado a discussão e a reflexão de como os países se relacionam, bem como para verificarmos a importância da Geopolítica que nos ajuda a compreender o que acontece no mundo e como nos inserimos nele, abordaremos no artigo de hoje a visão do atual governo dos EUA.

Nesse sentido, no nosso artigo "A política externa de Biden e os seus possíveis impactos geopolíticos", de 13 de março de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-política-externa-de-biden-e-os-seus-possíveis-impactos-geopolíticos, afirmamos que o documento Interim National Security Strategic Guidance, que daria uma ideia de como seria conduzida a política externa de Biden, bem como serviria de referência para a elaboração dos principais documentos estratégicos do governo, como o National Security Strategy, era extremamente relevante e que deveria ser alvo de uma análise pormenorizada pelo governo brasileiro, pois mostrava como os EUA pretendiam se relacionar com o mundo, e com certeza certas visões expostas nos impactariam de alguma forma. Outrossim, vimos a continuação da disputa hegemônica entres os governos de Washington e de Pequim, onde a China deveria perder espaço político, em virtude do retorno dos EUA aos organismos multilaterais, buscando recuperar a liderança mundial perdida no governo Trump, e com isso, de certa forma, tentaria anular o softpower chinês. O documento mostrava a intenção dos EUA em tentar ser o estabilizador mundial, e que achamos isso muito difícil de ser atingido, pois estamos num mundo inseguro e imprevisível. Além disso, no artigo mantivemos a nossa opinião de que estamos numa fase em que a geopolítica mundial está instável, sem uma liderança que a possa manter em estabilidade, ou seja, num mundo G-ZERO.

Assim recomendamos a leitura do artigo mencionado acima para entendermos melhor como o documento, promulgado em 12 de outubro deste ano, chamado National Security Strategy - NSS, disponível no Blog por meio do link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_54ac8cbb2233457dbe76fe1a571381c1.pdf, foi elaborado. Nele existem alguns pontos que achamos por bem destacar e que seguem abaixo:


- existe a afirmação de que a Ordem Mundial pós Guerra Fria, mundo unipolar com os EUA, se encerrou e que vivemos na era na competição entre as Grandes Potências, algo que o Blog vem afirmando em seus artigos. Além disso, afirma que o mundo vem sofrendo com vários desafios como: emergência climática, terrorismo, inflação, insegurança alimentar e falta de energia;


- os EUA advogam de que o mundo necessita da sua liderança para que seja livre, próspero e seguro,. Com isso, acreditam que são a melhor opção para liderar o mundo no atual período de incertezas. Em nossa análise, isso denota que querem continuar impondo os seus valores, e assim voltar a Ordem Mundial anterior - mundo unipolar;


- os EUA defenderão a democracia ao redor do mundo contra os regimes autoritários - democracia x autocracia;


- a Rússia é considerada uma ameaça imediata ao sistema internacional livre e aberto, como demonstrado pela invasão da Ucrânia. Enquanto a China é o único competidor com capacidade econômica, militar, diplomática e tecnológica de alterar a Ordem Mundial. Entretanto, também mencionam o Irã e a Coreia do Norte como autocracias com poder de desestabilizar, em menor medida, o sistema internacional. Assim, vemos que os EUA ratificam os russos como uma ameaça militar imediata, enquanto confirmam os chineses como o seu principal adversário de longo prazo. Logo apresentam no documento como irão encarar cada ameaça, inclusive os desafios citados acima;


- devido as limitações estratégicas da Rússia, afirmam que ela possui alguns interesses em cooperar com países que não comungam dos valores ocidentais, especialmente no hemisfério sul. Com isso, podemos ver a importância da aproximação russa com os países da África e da América do Sul, dentre eles o Brasil;


- o documento informa que a atual crise energética mundial é resultante do uso da energia (petróleo e gás) como poder - Geopolítica Energética - demonstrando a necessidade de acelerar a transição energética, sendo isso um grande desafio para os EUA. Nesse sentido, em nossa visão, é esperada uma maior pressão ocidental para uma redução do consumo dos combustíveis fósseis, que terá como justificativas a emergência climática e o aumento da segurança energética;


- a estratégia dos EUA será baseada em seus interesses nacionais, a saber: proteção dos estadunidenses, expansão da oportunidade e da prosperidade econômica, e defesa dos valores democráticos que possibilitam o estilo de vida estadunidense. Entretanto, as parcerias e coalizões (OTAN, AUKUS Five Eyes, QUAD - todos esses abordados em nossos artigos) com Estados que comungam dos mesmos interesses e valores é primordial, principalmente contra os que oferecem uma visão oposta e que se esforçam para ameaçar os interesses ocidentais. Além disso, os EUA irão investir em inovação e tecnologia, notadamente no campo militar, bem como darão atenção ao fortalecimento da sua sociedade, por meio do incremento dos valores democráticos e da qualidade de vida. Um ponto que chamou atenção em nossa análise é que enfatizam os aliados democráticos da Europa e do Indo-Pacífico, relegando os demais aliados a uma posição de menor destaque, em que pese citar algumas iniciativas para a África e Oriente Médio, de onde podemos concluir o papel da América do Sul como secundário dentro da política dos EUA:


- o NSS possui, em sua parte IV, as estratégias por região do globo, que têm como linha mestra o que foi mencionado no item imediatamente acima, e que consideramos importante que sejam lidas e analisadas pelo nosso governo, pois além de tratar da América Latina, aborda a Antártica como um continente reservado para a paz e a ciência;


- pode-se ver a importância que dão a proteção da liberdade de navegação, pois no documento é citada várias vezes. Outrossim, aborda os problemas da pesca ilegal e da proteção dos recursos marinhos. Portanto, vemos como o mar é fundamental para os interesses estadunidenses, o que explica o dimensionamento da sua marinha e as tensões políticas e as crises militares com os os Estados que tentam controlar as Linhas de Comunicações Marítima - LCM e as regiões marítimas estratégicas. Além disso, confirma-se a teoria que desenvolvi e que consta no artigo " Os EUA e os desafios atuais para manter a hegemonia global", de 11 de abril de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-eua-e-os-desafios-atuais-para-manter-a-hegemonia-global:


"a marinha norte-americana se desloca da linha do Equador para cima, pois é aonde os EUA possuem seus grandes problemas (hotspots), não vindo para o hemisfério sul (por enquanto), o que é bom para o Brasil (não há problemas aparentes no Atlântico Sul). Isso é justificado, devido aos seguintes motivos: possuem navios extremamente caros; muitas tarefas a serem cumpridas para manter abertas as LCM; necessidade de projetar poder militar; e fazer frente as ameaças globais. Sendo assim, o orçamento de defesa norte-americano não permite que os seus meios navais sejam empregados em locais cuja relação custo/benefício seja alto"


Portanto, o NSS, em nossa análise, complementa o Interim National Security Strategic Guidance, apresentando uma visão mais abrangente, objetiva e madura de como serão conduzidas as políticas externa e de defesa dos EUA, com o intuito de superar os seus adversários, em especial a China - seu principal oponente, bem como demonstra a pretensão de restaurar a antiga Ordem Mundial Unipolar, que no momento está em transição e sendo desafiada pela China e a Rússia, como havíamos falado no artigo "A Aliança Estratégica Sino- Russa e a Nova Ordem Mundial", de 06 de fevereiro de 2022, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-aliança-estratégica-sino-russa-e-a-nova-ordem-mundial.

O Blog é de opinião que o NSS deve ser analisado pelo nosso governo, principalmente pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa, com o intuito de traçar estratégias para que não haja o comprometimento dos nossos objetivos estratégicos, na era em que vivemos - Competição entre as Grandes Potências.

Acreditamos que ficará mais difícil, em futuro de curto e de médio prazos (período de até 10 anos) não se ter um alinhamento bem definido, como no período da Guerra Fria, até que a Nova Ordem Mundial esteja estabelecida.

Qual a sua opinião? Que estratégias devemos adotar?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossas análises:

Matéria de 13/10/2022:

Matéria de 12/10/2022:




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