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No embate entre elefantes (China e EUA) quem sofre é a grama: Brasil.

Figura gerada por IA
Figura gerada por IA

O Blog, desde 2020 em diversos de seus artigos, tem alertado sobre a necessidade do Brasil desenvolver uma estratégia de longo prazo que o imunize — ou ao menos reduza — os impactos decorrentes da intensificação da disputa geopolítica entre a China e os EUA.

Nesse contexto, os recentes episódios relacionados à ameaça de aplicação de sanções econômicas por parte dos EUA — que poderiam impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros — vêm, em nossa análise, incentivando uma aproximação mais acentuada do governo brasileiro com os países do bloco BRICS+. Entre esses países, a China assume um protagonismo especial. Segundo avaliações de membros do governo e de alguns analistas políticos, Pequim seria a alternativa mais viável para suavizar os impactos de uma crise comercial com Washington, dado que os chineses já ocupam a posição de principal parceiro comercial do Brasil. Em tese, poderiam absorver parte das exportações que seriam prejudicadas pelas sanções estadunidenses.

Para compreender melhor a gênese dessa crise, recomendamos a leitura do artigo “A Nova Crise Política entre Brasil e EUA”, publicado em 18 de julho de 2025, disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-crise-política-entre-brasil-e-eua.

No cenário paralelo das negociações entre o Mercosul e a União Europeia, é importante destacar que o acordo segue travado por entraves políticos, especialmente a pressão da França em defesa de seus interesses agrícolas. Em nossa visão, essa pauta tende a perder prioridade para os europeus diante da possibilidade concreta de um pacto tarifário entre EUA e UE em futuro próximo — o que reduziria a urgência e, com isso, o interesse europeu no Mercosul.

Dessa forma, caso o Brasil opte ou seja forçado a se distanciar dos EUA — que atualmente são seu segundo maior parceiro comercial e o maior investidor estrangeiro direto, conforme o artigo "EUA lideram investimentos externos diretos no Brasil", de 23 de maio de 2025, do jornal O GLOBO, disponível em https://oglobo.globo.com/economia/summit-brazil-eua-2025/noticia/2025/05/23/eua-lideram-investimentos-externos-diretos-no-brasil.ghtml — o país pode acabar se tornando excessivamente dependente da China. Essa alta dependência representaria, em nosso entendimento, uma vulnerabilidade geopolítica crítica, pelos seguintes motivos:

1. A China busca mitigar suas vulnerabilidades, inclusive referente a necessidade do agronegócio brasileiro:

O governo chinês vem incentivando o desenvolvimento agrícola em países africanos como forma de diversificar seus fornecedores. Como discutido em nosso artigo “A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial. Parte II: Conflitos” (07 de maio de 2021), acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial-parte-ii-conflitos, essa movimentação segue a lógica de ampliar a influência geopolítica chinesa, em sintonia com estratégias também adotadas por França e Israel. Além disso, o vídeo abaixo publicado pela estatal chinesa CGTN, em 23 de junho de 2025, corrobora essa análise ao destacar os investimentos chineses em segurança alimentar e em agricultura africana:

2. O setor de defesa do Brasil possui dependência logística e militar do Ocidente

A base industrial de defesa brasileira (BID) continua frágil, e o país depende amplamente de acordos com os EUA e países europeus para manter sua capacidade de defesa. Uma guinada econômica em direção à China, sem o devido equilíbrio estratégico, afetaria diretamente esse setor sensível. Isso evidencia a ausência de um planejamento estratégico robusto por parte do Estado brasileiro, mostrando que o poder político nunca priorizou o desenvolvimento de uma BID forte e autóctone;

3. O mercado dos EUA é mais relevante em setores industriais de alto valor

Os EUA são importantes compradores de produtos de alta tecnologia brasileira, como aviões, motores e autopeças. A China, por outro lado, não desempenha esse papel, o que tornaria mais difícil substituir as exportações perdidas com os estadunidenses;

4. O Brasil vem perdendo influência geopolítica no seu entorno estratégico

A ausência de uma estratégia ativa tem feito o país perder protagonismo no seu Entorno Estratégico: América do Sul, Atlântico Sul, África Ocidental e Antártica, o que poderá inviabilizar uma possível aspiração de se consolidar como o líder regional, e futuramente num centro de poder; e

5. A ascensão da Argentina como competidor geopolítico

A Argentina vem se reposicionando como uma potência regional alinhada aos EUA. Com crescente capacidade militar e apoio ocidental, transforma-se em um concorrente direto do Brasil na disputa por protagonismo sul-americano.

Diante de tais evidências, é possível inferir que o Brasil carece de uma grande estratégia de longo prazo, voltada à redução de suas vulnerabilidades e à proteção de seus interesses nacionais diante das novas dinâmicas do sistema internacional. E como afirmamos com base na fórmula clássica da análise de risco:

Risco = ameaças x vulnerabilidades, o Brasil enfrenta, atualmente, um risco geopolítico alto,

                     capacidades

pois acumula vulnerabilidades (internas) e carece de capacidades institucionais, tecnológicas e estratégicas para enfrentá-las de forma autônoma, bem como para diminuir o impacto das ameaças (externas).

Neste cenário, o velho ditado popular permanece atual: “Não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta”. No caso brasileiro, essa cesta pode vir a ser a China, podendo tornar o Brasil refém de um Estado estrangeiro — o que, somado à distância geográfica e à assimetria de poder potencializam essa vulnerabilidade.

Ao observarmos o predomínio dos discursos ideológicos sobre o pragmatismo e a arte estratégica, constatamos que o Brasil parece caminhar sem rumo — ou pior, em direção ao desastre.

É preciso, portanto, corrigir a rota com urgência, sempre alinhada com a preservação da soberania e do futuro do país.

Em nossa opinião, a construção de uma estratégia de Estado — acima dos governos — deve priorizar, além de outras providências:

Embora admirável enquanto filosofia de vida, a música de Zeca Pagodinho “Deixa a vida me levar” não pode ser o lema da política externa e de defesa de um país com a envergadura do Brasil. O futuro exige estratégia, visão e coragem de planejar.


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