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A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte II - "olho por olho", será que todos ficarão cegos?


Figura disponível em https://www.stimson.org/wp-content/uploads/2023/03/AdobeStock_250227016-scaled.jpeg

O Blog desde 2020, por meio do artigo "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", publicado em 24 de dezembro de 2020 e que está disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel, afirmou que o Oriente Médio estava vivenciando uma nova configuração, tendo os israelenses e iranianos como as principais potências regionais em disputa, em que se podia verificar a formação de dois blocos antagônicos liderados por estes países.

Naquele artigo, também afirmamos que os países muçulmanos sunitas, que normalizaram as relações com Israel, buscavam uma aliança militar contra o inimigo comum - Irã - sendo bastante pragmáticos, deixando a causa palestina de lado, e seguindo o ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", bem como, uma parceria econômica e tecnológica que poderia trazer prosperidade e segurança a toda região.

Nesse sentido, estava ocorrendo uma "guerra indireta" entre o Irã e Israel, em que ambos os países vinham se enfrentando. Assim, os iranianos empregavam os seus proxies seguindo a sua ideia de "Profundidade Estratégica", como analisamos no artigo "Profundidade Estratégica - o pensamento iraniano e a política anti estadunidense", de 30 de outubro de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/profundidade-estratégica-o-pensamento-iraniano-e-a-política-anti-estadunidense, no qual mencionamos os grupos simpatizantes ao regime iraniano - proxies: o Hezbollah (Líbano), o Hamas (Território Palestino), os Houthis (Iêmen) e as milícias xiitas no Iraque; enquanto os israelenses realizavam sabotagens e assassinatos no território iraniano, bem como, atacavam alguns dos seus aliados, tanto os proxies mencionados quanto a Síria.


Figura disponível em https://ichef.bbci.co.uk/ace/ws/640/cpsprodpb/EAF1/production/_133154106_iran_regional_map_v3_640-2x-nc.png

Logo, havia uma lógica de uma retaliação indireta a alguma ação do oponente, em que, na maioria das vezes, o país agressor não assumia a autoria tanto da ação quanto da retaliação, havendo sempre uma guerra de ameaças e narrativas, em que pese ser de conhecimento tácito de todos sobre quem as realizou.

É digno de nota que esses países nunca se enfrentaram "formalmente", se atacando diretamente, via suas forças armadas, ou seja, nunca efetuaram ataques diretos ao território do outro, já que, em nossa visão, não seria vantajoso para ambas as partes um conflito aberto, em virtude dos enormes danos que poderiam ser causados, já que possuem um grande poder militar.

Convém mencionar que o pensamento do Oriente Médio é de não demonstrar fraqueza, ou seja, impera a lógica da força e de governos fortes, inclusive nos governos democráticos da região, como Israel. Recomendamos a leitura do nosso artigo "Islamismo e democracia, são compatíveis?", de 16 de abril de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/islamismo-e-democracia-são-compatíveis, onde falamos que, historicamente, o mundo muçulmano sempre conviveu com governos fortes, e muitas vezes ditatoriais.

Quando se iniciou em 07 de outubro de 2023, o atual conflito entre Israel e o Hamas, pensávamos, conforme a nossa análise constante no artigo "Conflito Israel x Palestina: poderá mergulhar a região em conflito generalizado? Parte III. Impactos, de 22 de outubro de 2023, que pode ser lida em https://www.atitoxavier.com/post/conflito-israel-x-palestina-poderá-mergulhar-a-região-em-conflito-generalizado-parte-iii-impactos, que ele poderia mergulhar o mundo num caos, caso houvesse a entrada de outros atores, como o Irã e o Hezbollah, pois a imprevisibilidade dos envolvidos teria como uma consequência a potencialização do conflito, pois haveria um envolvimento direto do Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados.

Nesse diapasão, ocorreu em 01 de abril deste ano, um ataque de Israel, não assumido como esperado, ao consulado iraniano na Síria, por mísseis disparados de aeronaves F-35. O ataque resultou na morte de membros da Guarda Revolucionária iraniana, dentre eles 3 comandantes, sendo Mohammad Reza Zahedi, o mais importante e o principal alvo do ataque - o serviço de inteligência israelense considerava que Zahedi coordenava o apoio iraniano ao Hamas e algumas operações na Síria e no Líbano, o que ensejou a ameaça de retaliação iraniana, como de costume.

Portanto, em nossa análise, o padrão do raciocínio do governo de Tel Aviv seria que o Irã mantivesse o "modus operandi" de retaliar por meio de seus proxies ou diretamente em algum alvo israelense fora de Israel, mantendo a lógica da guerra indireta que vinha sendo travada entre eles, permanecendo, assim, um certo equilíbrio, mesmo que tênue.

Entretanto, este evento foi considerado pelos iranianos como uma violação de sua soberania, bem como das convenções internacionais, já que, na opinião do governo de Teerã, teria sido um ataque direto de Israel contra o Irã.

Dessa forma, em nossa visão, o ataque israelense ao consulado foi avaliado pela sociedade iraniana e pelos aliados iranianos como a "gota d'água" na guerra indireta, colocando muita pressão no governo de Teerã por uma retaliação mais contundente, pois a imagem de um Irã forte havia sido fortemente abalada.

Nesse cenário, após transcorridas duas semanas do ataque israelense, no dia 13 de abril de 2024, o Irã efetuou uma retaliação robusta - 170 drones e 120 mísseis (cruzeiro e balísticos) - do seu território ao israelense, o que se revestiu de grande importância, pois foi o primeiro ataque direto de um Estado contra Israel desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Convém mencionar, que o governo de Tel Aviv não esperava por esta resposta de Teerã.


Figura disponível em https://www.poder360.com.br/internacional/ira-diz-que-ataque-foi-em-legitima-defesa-contra-agressao-sionista/

Logo, podemos concluir que o padrão de ação - reação israeli - iraniano não funciona para todas as situações, o que demandaria uma melhor análise do processo de tomada de decisão, pois trata-se de um problema complexo, já que no mundo real não há como se ter certeza do comportamento do oponente.

É importante mencionar que os Jogos de Guerra são fundamentais para se analisar problemas complexos, pois esta metodologia consegue apresentar, com boa proximidade com o mundo real, os possíveis comportamentos da força que se opõe, antecipando, assim, possíveis surpresas, revelando vulnerabilidades, melhorando o gerenciamento do risco, e com isso aperfeiçoando o processo de tomada de decisão, diminuindo o impacto da influência da intuição do decisor no plano a ser adotado.

A resposta iraniana nos permite certas reflexões:


a) como ela, até o momento, se revestiu no maior ataque com drones em único dia, bem como envolveu um grande número de mísseis, dentre eles balísticos, podemos considerar como um ataque robusto. Entretanto, o ataque não contou com a surpresa, pois o Irã manifestou, por vários canais, quando e como faria a retaliação, permitindo uma defesa (navios com sistemas antimísseis, aeronaves de combate, baterias terrestres antiaéreas etc) que se opusesse eficazmente, em outras palavras, deu tempo para que a defesa fosse realizada e não ocorresse perigo aos civis. Assim, em nossa análise, ela foi calculada para ao mesmo tempo ser uma resposta forte e não escaladora para um guerra aberta;


b) a partir de agora, como dissemos anteriormente no texto, o padrão de ação - reação israeli - iraniano não é mais confiável, sendo uma incógnita as futuras ações a uma agressão, seja ela direta ou indireta, já que abriu um novo precedente de um ataque direto;


c) como a Jordânia e a Arábia Saudita contribuíram para a defesa de Israel, confirma-se o que vínhamos afirmando no artigo "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", citado no texto, que o Irã é considerado pelos países muçulmanos, que se aproximaram de Israel, como a principal ameaça da região;


d) que Israel é muito dependente de alianças, pois sozinho não terá condições de se defender de um ataque em larga escala. Relembra-se que o ataque iraniano, apesar de robusto, não foi com a força máxima e nem foi de surpresa, e que a defesa israelense contou com o apoio de meios militares dos EUA, França, Reino Unido, Jordânia e Arábia Saudita;


e) a resposta iraniana fortaleceu o governo de Teerã, que estava sendo pressionado, e aumentou a sua influência junto aos seus aliados; e


f) o governo de Tel Aviv ganhou um alívio político, pois mudou o foco do problema dos reféns israelenses para o conflito contra o Irã, bem como reconquistou o apoio internacional que estava bastante abalado pelas mortes dos palestinos no conflito contra o Hamas.


Nesse quadro, a esperada retaliação israelense, seguindo a lógica do Oriente Médio, estava causando uma grande inquietação no mundo, pois poderia mergulhar a região numa guerra sem controle, o que traria os seus aliados (EUA e alguns países europeus) para o conflito.

Dessa forma, no dia 19 de abril de 2024, Israel teria retaliado o Irã com ataques, por meio de drones que foram abatidos. Entretanto, foram relatadas explosões nas proximidades da cidade de Isfahan, e não se sabe, até o momento, qual foi o armamento empregado, infere-se que tenham ocorrido ações de sabotagem. Além disso, houve ataques no Iraque contra uma base de apoio ao Irã.

Assim sendo, Israel continuou seguindo a lógica do Oriente Médio, só que, em nossa análise, usou menos a intuição, pesando mais os impactos de uma resposta desmedida.

Portanto, acreditamos que, a partir de agora, as ações e reações serão muito bem pensadas, pois a região esteve à beira de um grande conflito, em que todos perderiam, e que foi fruto de uma ação mal calculada (ataque ao consulado).

Outra conclusão que podemos ter é que o atual governo israelense vem demonstrando um certo despreparo em proteger o seu Estado, pois foi nesse período que teve o seu território atacado duas vezes - Hamas e Irã - ficando claro que o Estado de Israel possui as suas fragilidades, pois ficou patente a grande dependência dos seus aliados, perdendo a fama de invencível.

O Blog é de opinião que o ataque iraniano ao território israelense moldará, a partir de agora, as ações e reações entre estes países, inaugurando uma nova era geopolítica na região. Além disso, ficou bastante nítida a diferença de importância e de apoio prestado pelo Ocidente a Israel e a Ucrânia.

Qual a sua opinião?

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