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Sistemas A2/AD: precisamos para a defesa da nossa fronteira oriental (Atlântico Sul)?


Figura disponível em: https://russianmilitaryanalysis.files.wordpress.com/2020/01/bastion-p-targeting-scheme.jpg?w=768

O Blog tem afirmado que a principal ameaça militar ao nosso país virá pela fronteira oriental, ou seja, pelo Atlântico Sul, em que vários fatos históricos do Século XX, como a II Guerra Mundial (1939-1945), a "Guerra da Lagosta"(1961-1963), e o conflito das Malvinas (1982) entre o nosso vizinho argentino e o Reino Unido, que ocorreu dentro do nosso Entorno Estratégico, ratificam a nossa percepção.

Além disso, mostramos que tem havido um aumento das disputas marítimas no mundo, tendo como a principal causa a busca pela exploração de recursos naturais, como petróleo, gás, minerais importantes como"terras raras"e outras valiosas commodities, inclusive na América do Sul, onde existe uma problemática entre o Chile e a Argentina sobre Águas Jurisdicionais, conforme o nosso artigo "Disputa marítima entre Chile e Argentina: novo período de tensões?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/disputa-marítima-entre-chile-e-argentina-novo-período-de-tensões. Ademais surgiu, também, o fenômeno de territorialização do mar.

Portanto, afirmamos em nosso artigo de 13 de outubro de 2021, "Análise da pesquisa sobre possíveis tendências e cenários, até 2040, que podem impactar o Brasil", que o espaço marítimo se apresenta como o palco de futuros conflitos entre Estados, e que aqueles que não tenham uma boa capacidade dissuasória ou não estejam preparados poderão ter as suas soberanias no mar colocadas à prova.

Nesse sentido, publicamos vários artigos, com o intuito de chamar a atenção para a nossa vulnerabilidade nessa região fronteiriça - o mar, que é extremamente estratégica para o Brasil. Convém relembrar que no nosso país cerca de 95% do comércio exterior, 95% do petróleo e 80% do gás advém do mar, além de outras fontes econômicas com grande potencial de exploração, como a mineração em águas profundas.

Assim, recomendamos a releitura de algumas das nossas matérias que selecionamos abaixo, com o intuito de servir como apoio ao entendimento da nossa vulnerabilidade, bem como para ajudar na análise de possíveis soluções:


- 40 anos da Guerra das Malvinas - Reflexões para a Defesa Brasileira, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/40-anos-da-guerra-das-malvinas-reflexões-para-a-defesa-brasileira ;

- As pérolas inglesas no Atlântico Sul e a sua importância estratégica, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/as-pérolas-inglesas-no-atlântico-sul-e-a-sua-importância-estratégica ;

- Como planejar uma Marinha de Guerra? Tema para reflexão da sociedade, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/como-planejar-uma-marinha-de-guerra-tema-para-reflexão-da-sociedade ;

- Análise da pesquisa sobre possíveis tendências e cenários, até 2040, que podem impactar o Brasil, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/análise-da-pesquisa-sobre-possíveis-tendências-e-cenários-até-2040-que-podem-impactar-o-brasil ;

- Brasil: precisamos ter uma estratégia marítima para o século XXI, https://www.atitoxavier.com/post/brasil-precisamos-ter-uma-estratégia-marítima-para-o-século-xxi ;

- A importância da ZOPACAS para o Brasil. Quando iremos tratar com seriedade essa questão?!, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-importância-da-zopacas-para-o-brasil-quando-iremos-tratar-com-seriedade-essa-questão ;

- Elevação do Rio Grande: oportunidade e vulnerabilidade para o Brasil, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/elevação-do-rio-grande-oportunidade-e-vulnerabilidade-para-o-brasil ;

- Os EUA e o início da preocupação com o Atlântico Sul - aumento da dark fleet chinesa, pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/os-eua-e-o-início-da-preocupação-com-o-atlântico-sul-aumento-da-dark-fleet-chinesa ;

- Inimigo à vista: Pesca ilegal - ameaça que se aproxima cada vez mais do Brasil, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/inimigo-à-vista-pesca-ilegal-ameaça-que-se-aproxima-cada-vez-mais-do-brasil ;

- Como fazer as Ilhas de Fernando de Noronha e da Trindade serem mais estratégicas? Vamos refletir, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/como-fazer-as-ilhas-de-fernando-de-noronha-e-da-trindade-serem-mais-estratégicas-vamos-refletir ;

- Série Vulnerabilidades do Brasil: Atlântico Sul, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/série-vulnerabilidades-do-brasil-atlântico-sul ;

- Entorno Estratégico Brasileiro: estabelecimento de bases chinesas e seus possíveis desdobramentos, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/entorno-estratégico-brasileiro-estabelecimento-de-bases-chinesas-e-seus-possíveis-desdobramentos ;

- Possíveis ameaças ao Brasil, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/possíveis-ameaças-ao-brasil .


Nesse cenário de disputas marítimas, e de estarmos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro, como sempre temos afirmado no Blog, observa-se, neste Século, o incremento de estudos, análises e divulgação sobre os sistemas anti-acesso e de negação de área, conhecidos em inglês por Anti-Access and Area Denial - A2/AD. Assim, ganham destaque os estudos referentes as regiões do Mar do Sul da China e da China Oriental, onde China, Japão, Rússia e Taiwan têm desenvolvido sistemas para esse fim, devido as tensões locais.

Dessa forma, colocou-se em questão o uso dos Navios Aeródromos na projeção de poder ou em operações de ataque com o advento dos mísseis antinavio de longo alcance, em que um bom exemplo seria a defesa de costa chinesa frente aos navios estadunidenses, e que se transformou em um grande desafio para os EUA.

É interessante mencionar que uma estratégia de defesa que vislumbre o uso do A2/AD, geralmente é empregada por Estados militarmente mais fracos, visando mitigar as suas fraquezas contra uma possível agressão de Estados mais fortes. Porém, é fundamental frisar que o A2/AD não é capaz, por si só, de impedir uma operação de projeção de poder por parte de uma Força Naval muito superior, mas serve para dissuadir ou dificultar tal operação em uma determinada área de operações, reduzindo, assim, a capacidade de manobra da força oponente.

Assim, vemos que existem vários países que desenvolvem e vendem tais sistemas, como: K-300P (Bastion) da Rússia com alcance de 300km / Exocet (MBDA) da França com alcance 180 km / RBS 15 (SAAB) da Suécia com alcance de 200km / NSM ( Kongsberg ) da Noruega com alcance de 185km. Logo, podemos perceber a importância que os sistemas A2/AD têm na Europa, principalmente na região do Mar Báltico.

No recente conflito da Ucrânia verificamos a importância e efetividade de uma estratégia que use A2/AD, pois houve o afundamento do principal navio russo no Mar Negro por mísseis Neptune, que são misseis ucranianos antinavio. É digno de nota que é estratégico para a Rússia, no seu entorno, ter o controle do Mar Negro, e que a marinha ucraniana era muito inferior à russa, sendo neutralizada no início do conflito, não ocorrendo a Guerra no Mar.

No nosso país temos as seguintes definições que constam na publicação MD35-G-01 GLOSSÁRIO DAS FORÇAS ARMADAS, de 2015, e que são importantes mencionarmos:


- Defesa da Costa: Conjunto de medidas e de operações militares terrestres, navais e aéreas adotadas e empreendidas, com o fim de dificultar ou repelir qualquer forma de ataque ao litoral.

Portanto, vemos que é uma ação predominantemente naval, auxiliada pelas Forças Terrestre e Aérea, que pode variar desde o controle de uma área marítima até a negação do uso do mar ao inimigo, desde os portos inimigos até o limite do litoral brasileiro, impedindo ou dificultando, que este inimigo consiga exercer alguma ameaça ao território nacional.

Com isso implica em uma defesa avançada, ou seja, infringir perdas ao agressor o mais longe possível. Assim, os mísseis de defesa antiaérea e antinavio de longo alcance seriam importantes face a um inimigo superior.


- Defesa do Litoral: Conjunto de ações marítimas, terrestres e aéreas que objetiva impedir o inimigo a utilizar a área marítima adjacente ao litoral ou projete seu poder sobre terra, tudo visando a garantir a integridade da faixa terrestre contígua ao mar.

Pode-se inferir que seria uma defesa contra a projeção de poder, como operações anfíbias, nas áreas marítimas adjacentes ao litoral e portos, ou seja, mais próximos ao nosso território. Dessa forma, misseis de defesa antiaérea de médio e curto alcance seriam relevantes.

De acordo com a Estratégia Nacional de Defesa - END, de 2020, duas áreas do litoral merecem atenção especial, do ponto de vista da Defesa: a faixa que vai de Santos a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas.


Logo, percebemos que temos de ter defesa em camadas contra uma força naval agressora, onde a Marinha do Brasil - MB faria a Guerra no Mar, com o apoio da Força Aérea Brasileira, fazendo o esforço principal na Defesa da Costa, ficando o Exército Brasileiro com o esforço principal na Defesa do Litoral.

A nossa análise sobre o papel da MB encontra respaldo na publicação O POSICIONAMENTO DA MARINHA DO BRASIL NOS PRINCIPAIS ASSUNTOS DE INTERESSE NAVAL - EMA322, de 2017, que pode ser acessada em https://www.marinha.mil.br/sites/default/files/ema-322.pdf :


"É dever da MB dissuadir a concentração de forças hostis nos limites das águas jurisdicionais brasileiras e, em caso de crise ou de conflito armado, impedir a aproximação de uma força naval adversária, que tenha a intenção de pressionar com sua presença, ou efetuar ataques provenientes do mar contra o território brasileiro, o mais longe possível das costas brasileiras."


Outrossim, torna-se fundamental termos um Sistema que possibilite a Consciência Situacional Marítima, e que no nosso caso seria o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul - SISGAAZ, e que temos defendido em vários de nossos artigos a sua importância e urgência. Isso possibilitará termos um Comando e Controle compatível com a extensão de nossas águas jurisdicionais.

As nossas Forças não possuem um sistema A2/AD compatível com as ameaças provenientes pela nossa fronteira oriental, pois, em que pese termos o Astros II, os atuais Mísseis Táticos de Cruzeiro com alcance de até 300km - MTC 300, desenvolvidos pela AVIBRAS, não se prestam a Defesa da Costa, em virtude do seu sistema de guiagem não possuir radar de busca. Aliado a esse fato, não possuímos, ainda, sistemas de defesa antiaérea de médio e longo alcances, conforme abordamos no nosso artigo "Série Vulnerabilidades do Brasil: Defesa Antiaérea", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/série-vulnerabilidades-do-brasil-defesa-antiaérea .

Nesse cenário, uma linha de ação poderia ser o estudo sobre a utilização do sistema de guiagem do Míssil Antinavio de Superfície - MANSUP, de tecnologia nacional, cujo projeto encontra-se em sua terceira etapa, conforme nota da MB, que pode ser lida no link https://www.defesanet.com.br/07set2021/noticia/44370/MANSUP---Projeto-Missil-Antinavio-de-Superficie-avanca-para-a-terceira-etapa/, no MTC 300 para possibilitar o seu emprego no Astros II na Defesa da Costa.

Isso possibilitaria termos alguma Defesa da Costa, com poder dissuasório, nas regiões consideradas como de maior prioridade pela END, mencionadas anteriormente, enquanto se refaz o nosso Poder Naval, que carece de aprimoramento e atualização, por meio do Programa de Reaparelhamento da Marinha - PRM.

É lícito pensar que uma contestação da soberania brasileira em suas águas jurisdicionais será proveniente de um Estado com Poder Naval superior. Dessa forma, o uso de um sistema A2/AD pelo nosso país para a defesa do nosso território estaria alinhado com o que outros países fazem.

Portanto, reafirmamos a necessidade do Poder Político tratar com a atenção e a seriedade devidas a questão da nossa vulnerabilidade da fronteira oriental - Atlântico Sul, pois apesar de ser importante a MB participar junto as Forças de Segurança na repressão aos crimes transnacionais nas nossas águas jurisdicionais, como apreensão de drogas, é questão de sobrevivência do nosso Estado ter uma Marinha que faça valer o seu posicionamento, que voltamos a repetir:


"É dever da MB dissuadir a concentração de forças hostis nos limites das águas jurisdicionais brasileiras e, em caso de crise ou de conflito armado, impedir a aproximação de uma força naval adversária, que tenha a intenção de pressionar com sua presença, ou efetuar ataques provenientes do mar contra o território brasileiro, o mais longe possível das costas brasileiras."

Assim, recorremos mais uma vez a Rui Barbosa que nos disse:


"Mas não basta admirar: é preciso aprender. O mar é o grande avisador. Pô-lo Deus a bramir junto ao nosso sono, para nos pregar que não durmamos. Por ora a sua proteção nos sorri, antes de se trocar em severidade. As raças nascidas à beira-mar não têm licença de ser míopes; e enxergar, no espaço, corresponde a antever no tempo"


O Blog é de opinião de que estamos muito atrasados e relapsos em prover uma Defesa condizente com a estatura do nosso país, possuidor de riquezas abundantes, onde as disputas marítimas têm aumentado no mundo em busca de recursos naturais, cada vez mais difíceis de serem explorados em terra. Além disso, vivemos num mundo mais imprevisível e menos seguro, e que estamos numa escalada armamentista, como mostramos no artigo "Escalada armamentista, parte II", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/escalada-armamentista-parte-ii .

Logo, devido ao desafio da extensão da nossa costa, o Blog acredita que um Sistema A2/AD que proteja as nossas infraestruturas críticas, e que possua mobilidade para atender os diversos pontos do nosso território é fundamental e urgente.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para complementar a nossa análise:

Matéria de 22/08/2021:

Matéria de 24/01/2016:



2 Comments


Felipe Salles
Felipe Salles
May 06, 2022

Prezado Tito, defesa costeira é realmente algo indispensável pro Brasil, mas "A2/AD" em um país como o nosso com milhares e milhares de km de costas que se defrontam para um oceano completamente aberto, sem estrangulamentos, como o Atlântico, aí isso não faz qualquer sentido.

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Prezado Sr Felipe, muito obrigado pela sua opinião. Porém, discordo totalmente em virtude de que o apresentado não é para colocar em toda Costa, mas nas infraestruturas críticas e nas regiões priorizadas pela END, conforme consta no artigo. O A2/AD não tem como premissa usar em pontos que requeiram estrangulamento, creio que quando o Sr ler com calma as definições de Defesa da Costa e Defesa do Litoral poderá entender melhor como se deve usar e a que destinam os sistemas A2/AD.

Outrossim, vários países que adotam essa estratégia não utilizam em pontos estreitos, senão não haveria a necessidade de longos alcances. Estou disponível para conversas e análises. Fraterno abraço

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