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Os BRICS poderão ter a sua relevância incrementada no cenário internacional? Parte VI: A Cúpula dos BRICS 2025 e o Redesenho da Ordem Internacional.

Introdução

A Declaração dos Líderes dos BRICS, disponível em https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/declaracao-de-lideres-do-brics-2014-rio-de-janeiro-06-de-julho-de-2025#:~:text=1.,Governan%C3%A7a%20mais%20Inclusiva%20e%20Sustent%C3%A1vel%E2%80%9D e divulgada no Rio de Janeiro em 6 de julho de 2025, marca um ponto de inflexão decisivo no cenário internacional. Sob a presidência brasileira, a cúpula foi palco não apenas de uma reafirmação dos princípios que estruturam o bloco, mas também de uma agenda ambiciosa, assertiva e geopoliticamente estratégica. Com um olhar atento ao multilateralismo, à reforma das instituições globais, à expansão do bloco e à contestação velada das políticas unilaterais estadunidenses, a declaração evidencia um amadurecimento institucional dos BRICS como alternativa sistêmica frente à hegemonia liberal Ocidental liderada pelos EUA.

Assim, este artigo tentará analisar os principais elementos da declaração, articulando-os com o contexto geopolítico global contemporâneo, com os fundamentos analíticos presentes no nosso artigo “Os BRICS poderão ter sua relevância incrementada no cenário internacional (Parte V)”, de 24 de janeiro de 2025 acessível em https://www.atitoxavier.com/post/os-brics-poderão-ter-a-sua-relevância-incrementada-no-cenário-internacional-parte-v-a-presidência, bem como com as análises e repercussões da Declaração dos Líderes dos BRICS perante os EUA.


O Contexto Geopolítico da Cúpula de 2025


a) O retorno de Trump e a política externa confrontativa dos EUA

A realização da Cúpula dos BRICS em 2025 ocorreu em um momento de fortes tensões sistêmicas. A reeleição de Donald Trump no pleito presidencial estadunidense de 2024 reintroduziu um discurso nacionalista, protecionista e avesso à cooperação multilateral. Sua retórica contra organismos internacionais e sua ênfase em tarifas punitivas — como a anunciada sobretaxa de 10% sobre produtos de países que, segundo ele, desvalorizam artificialmente suas moedas — foram claramente endereçadas, ainda que de forma não explícita, na declaração do BRICS, conforme podemos ver nas palavras de Trump publicadas na Truth Social:


"Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção em relação a essa questão" (fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-07/trump-ameaca-paises-que-se-alinhem-ao-brics-com-tarifa-de-10)


Nesse sentido, alguns líderes do bloco reagiram com indignação e preocupação à fala do presidente Trump, o que catalisou uma resposta estratégica de alguns membros do BRICS, conforme verificado no artigo da CNN, de 07 de julho, disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/paises-do-brics-reagem-a-fala-de-trump-sobre-tarifa-adicional-de-10/.

Portanto, podemos inferir que a menção ao uso ampliado de moedas locais nas trocas comerciais internas ao BRICS e com parceiros do Sul Global deve ser interpretada como uma manobra de resistência à hegemonia do dólar e como uma resposta direta ao retorno de políticas econômicas coercitivas por parte dos EUA.


b) O avanço da multipolaridade

Simultaneamente, a intensificação das disputas geopolíticas entre China, EUA, Rússia e União Europeia, somada ao declínio relativo do poder estadunidense, vem favorecendo o surgimento de uma arquitetura global multipolar. A ascensão econômica e diplomática da Índia, a resiliência estratégica da Rússia mesmo sob sanções ocidentais, e a assertividade tecnológica da China vêm posicionando o BRICS como um contrapeso relevante à ordem liberal liderada pelo Ocidente.

Em nossa análise de janeiro de 2025, constante do artigo “Os BRICS poderão ter sua relevância incrementada no cenário internacional (Parte V)”, descrevemos este ambiente: “a presidência brasileira ofereceu ao BRICS a oportunidade de se consolidar como vetor diplomático dos interesses do Sul Global, sem alinhar-se incondicionalmente a nenhuma das potências tradicionais”.


O Conteúdo Geopolítico da Declaração de 2025, principais pontos:


  • Multilateralismo, soberania e reforma da ONU:

O primeiro eixo da declaração reafirma o compromisso com o multilateralismo e com o fortalecimento de uma ordem internacional baseada em normas. Os BRICS reiteram a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU para refletir o mundo do século XXI. A inclusão de países africanos, latino-americanos e asiáticos emergentes como membros permanentes é apresentada como imperativo moral e estratégico.

Essa agenda reflete não apenas um apelo à justiça histórica, mas também uma tentativa de redesenhar a arquitetura de governança global para que ela não reflita mais exclusivamente os interesses das potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial.


  • Expansão do bloco: BRICS+:

A aceitação da Indonésia como novo membro pleno do BRICS, bem como a formalização de parcerias com países como: Bolívia, Cazaquistão, Nigéria, Cuba, Uganda e outros, sinaliza a consolidação de uma “Plataforma BRICS+”.

Essa estratégia de expansão visa aumentar a densidade política e econômica do bloco, ao mesmo tempo em que amplia sua legitimidade como voz do Sul Global. Conforme observamos no nosso artigo citado como referência, trata-se de uma construção diplomática com objetivos claros de influenciar a distribuição de poder em fóruns globais, diluindo a predominância do G7.


  • Desdolarização e moedas locais:

A declaração reitera o compromisso do BRICS com o uso de moedas nacionais em transações comerciais, estimulando plataformas financeiras alternativas ao SWIFT e ao FMI. Esta pauta — que há anos figura nos encontros do grupo — ganha novos contornos em 2025, diante das ameaças tarifárias renovadas por Trump e da guerra cambial que se avizinha.

A reação dos países do BRICS, conforme reportado pela CNN Brasil, foi firme: a adoção de instrumentos que promovam a resiliência financeira dos países emergentes frente a pressões externas é vista como questão de soberania econômica.


  • Saúde, IA e clima como vetores de liderança global

Sob coordenação brasileira, os BRICS lançaram declarações conjuntas sobre três temas transversais: inteligência artificial, saúde pública e financiamento climático. Em todos os casos, os documentos destacam a necessidade de governança inclusiva e participação efetiva dos países emergentes na definição de padrões globais.

Essa agenda reflete um deslocamento do eixo geopolítico tradicional — baseado exclusivamente em segurança e comércio.


Conclusão

A Declaração dos Líderes do BRICS de 2025 representa mais do que um manifesto político: é a expressão de uma vontade coletiva de redesenhar os contornos da ordem internacional. Ao articular uma agenda de reforma institucional, expansão inclusiva e resistência à coerção econômica, o bloco tenta se projetar como um vetor de transformação sistêmica.

Ainda que os desafios internos e as assimetrias entre os membros permaneçam, o BRICS se consolida como um espaço privilegiado de construção de alternativas. Para o Brasil, trata-se de uma oportunidade estratégica de reafirmação diplomática. Para o sistema internacional, o prenúncio de um futuro menos unipolar e mais complexo.


Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 06/07/2025:

Matéria de 04/07/2025:

Matéria de 07/07/2025:


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