O ano de 2020, apesar de todos os problemas advindos da pandemia da COVID-19, tem sido auspicioso para Israel, pois num período de aproximadamente de 3 meses (agosto a outubro), o governo de Tel Aviv, com o forte apoio estadunidense, conseguiu firmar 3 acordos de normalização de relações com países árabes, sendo os dois primeiros com os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Barein, e em outubro com o Sudão.
O Sudão está com sua economia fragilizada, e está num período de transição governamental. No passado tinha relações próximas com o Irã, o que facilitava o contrabando de armas e munição para grupos extremistas islâmicos, como a Al Qaeda, e para as organizações libanesa e palestina aliadas dos iranianos, como o Hezbollah e o Hamas. Além disso, era considerado como um esconderijo para os militantes desses grupos.
Porém, desde 2015 isso vem mudando, pois o atual governo de Cartum vem se alinhando à Arábia Saudita. Nesse sentido, o acordo entre Israel e o Sudão impacta negativamente no Irã.
O restabelecimento das relações entre Israel e o Sudão, antes inimigos, foi veementemente condenado pelos governos iraniano, turco e palestino, pois alegam que é uma traição ao firmado pela Liga Árabe no passado, em que as relações com Israel somente poderiam ser retomadas após a devolução dos territórios ocupados. Entretanto, na percepção do Blog, os reais motivos seriam os seguintes interesses geopolíticos:
Irã: diminuição de sua área de influência geopolítica no Oriente Médio, com a perda de um aliado que auxiliava com apoio logístico em sua disputa com Israel e com a Arábia Saudita, e que poderia auxiliar num possível controle do Mar Vermelho;
Turquia: quer ser o líder sunita no mundo muçulmano, vem disputando com a Arábia Saudita, e com isso tende a ficar do lado palestino, como seu o defensor da formação de seu Estado;
Palestina: a aproximação de mais um Estado árabe com Israel enfraquece a causa palestina, colocando-a em uma posição cada vez mais frágil nas negociações para criação de seu Estado.
A população sudanesa está dividida sobre o estabelecimento do acordo, em que pese ser um bom negócio para o país, pois os EUA se comprometeram a retirar o Sudão da lista de países considerados apoiadores de grupos terroristas, após a compensação financeira as famílias estadunidenses que foram vítimas de atentados perpetrados no país, e isso abriria as portas para a entrada de investimentos e recursos que irão melhorar a qualidade de vida e de infraestrutura sudaneses. Porém, o acordo, que vinha sendo negociado secretamente, carece do reconhecimento oficial do parlamento do Sudão que ainda precisa ser formado.
Algumas análises especializadas revelam que o governo de Cartum só aceitou o acordo devido as vantagens econômicas advindas da assinatura, esquecendo as rivalidades do passado e a causa dos palestinos.
Para Israel o acordo chega em num momento em que parcela de sua população vem realizando protestos contra o governo de Benjamin Netanyahu, e a aproximação dos países pode ajudar a melhorar a sua popularidade, se mantendo, assim, no poder. Além disso, abre a oportunidade de criação de mais um mercado consumidor para o país, bem como é importante para a sua segurança nacional. Dessa forma, é mais um acordo estratégico para Israel. A figura abaixo mostra a situação atual das relações entre os países árabes e Israel:
No tocante aos EUA, o acordo entre Israel e o Sudão nas vésperas da eleição presidencial estadunidense faz com que Donald Trump aproveite a oportunidade para fazer uma propaganda de sua política externa à população. Contudo, o forte envolvimento do seu governo nesses processos de paz tem como alvo os eleitorados judeu e cristão evangélico (que são pró-Israel), e que de acordo com algumas pesquisas perfazem cerca de 25% do total dos possíveis votantes. O governo de Washington propaga que outros países árabes irão aderir ao processo de normalização de relações com Israel. Tais países podem ser Omã e Arábia Saudita.
O Blog é de opinião de que não é coincidência o anúncio do estabelecimento desses acordos às vésperas da eleição presidencial estadunidense, e que foram usados todos os recursos necessários para isso, como parcerias econômicas e militares com os países que assinaram tais compromissos com Israel. Um dos exemplos é autorização de venda para os EAU de aeronaves F-35, com a anuência israelense, desde que continue sendo a potência militar dominante no Oriente Médio, onde recentemente os EUA informaram que lhe apoiarão militar e tecnologicamente para isso. Outrossim, é mais um acordo estratégico para a segurança de Israel, enfraquecendo a posição palestina e a influência iraniana na região, bem como ajuda a Netanyahu a se manter no poder.
Ratificamos as análises do Blog contidas nos nossos artigos: "O acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos e seus possíveis impactos geopolíticos", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/o-acordo-entre-israel-e-emirados-árabes-unidos-e-seus-possíveis-impactos-geopolíticos e "Acordo de Paz com Israel: Será a Arábia Saudita o próximo?" , acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/acordo-de-paz-com-israel-será-a-arábia-saudita-o-próximo , principalmente no cenário em que uma aproximação dos Estados árabes com Israel, colocará uma grande pressão sobre o regime de Teerã, e iniciará uma nova era na região do Oriente Médio, que não necessariamente será de paz, e que os palestinos não são prioridade para os Estados Árabes, e que o Irã aumentará a sua influência sobre a palestina.
Qual a sua opinião? Você acha que é uma coincidência esses acordos serem anunciados, em pouco tempo, próximos a eleição presidencial dos EUA?
Seguem alguns vídeos para nos ajudar em nossas análises:
Matéria de 23/10/2020:
Matéria de 24/10/2020:
Matéria de 26/10/2020:
Matéria de 27/10/2020:
Matéria de 24/10/2020:
Matéria de 05/02/2020:
Matéria de 24/10/2020:
Matéria de 26/10/2020:
Matéria de 25/10/2020:
Matéria de 11/10/2020:
Matéria de 25/10/2020:
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