A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte V: E agora?
- Alexandre Tito Xavier
- há 2 minutos
- 6 min de leitura

Introdução
O Blog vem acompanhando os acontecimentos no Oriente Médio por meio da sua seção Oriente Médio, acessível em: https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/ori-m%C3%A9dio. Nesse contexto, iniciamos uma série chamada "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", desde 2020. Dessa forma, recomendamos a leitura dos seguintes artigos, visando contribuir para uma melhor contextualização do leitor:
"A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", de 24 de dezembro de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel, em que dentre várias análises, afirmamos que a nova configuração do Oriente Médio foi criada pela ameaça iraniana aos países sunitas do Oriente Médio, devido ao aumento do Arco Xiita e do programa nuclear iraniano. Dessa forma, os países que normalizaram as relações com Israel buscaram uma aliança militar contra o inimigo comum, sendo bastante pragmáticos, deixando a causa palestina de lado, e seguindo o ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", bem como uma parceria econômica e tecnológica que poderia trazer prosperidade e segurança a toda região;
"A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte II - "olho por olho", será que todos ficarão cegos?", de 20 de abril de 2024, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-ii-olho-por-olho-será-qu, das várias análises apresentadas, falamos que o ataque iraniano ao território israelense moldaria, a partir daquele momento, as ações e reações entre estes países, inaugurando uma nova era geopolítica na região. Além disso, ficou bastante nítida a diferença de importância e de apoio prestado pelo Ocidente a Israel e a Ucrânia;
"A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte III - incertezas", de 07 de agosto de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-iii-incertezas, em que apresentamos várias análises, dentre elas destacamos que haveria todos os ingredientes para a ocorrência de um conflito de alta intensidade no Oriente Médio e que o atual governo israelense estaria fomentando a escalada da crise, visando a manutenção de Benjamin Netanyahu no poder;
"A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte IV - aberta a Caixa de Pandora", de 06 de outubro de 2024, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-iv-aberta-a-caixa-de-pandor, fizemos várias inferências, dentre elas destacamos que, a partir daquele momento, no conflito entre Israel e o Irã tudo seia possível, conforme analisado no artigo, e com isso ratificamos a nossa opinião, apresentada no artigo "Hezbollah e sua importância geopolítica no Oriente Médio. Parte II. E agora?", que Israel abriu a sua Caixa de Pandora, e que muitos desdobramentos inesperados acontecerão.
O recente confronto entre Israel e Irã, iniciado em 13 de junho pelo governo de Tel Aviv, atingiu um patamar inédito de intensidade, caracterizado por ataques diretos ao território iraniano e retaliações maciças a partir de Teerã. Esta escalada ultrapassa os limites tradicionais da chamada "guerra nas sombras" e sinaliza uma possível reconfiguração geopolítica de longo prazo no Oriente Médio.
Assim, este artigo tentará analisar os desdobramentos do conflito à luz da Doutrina Begin, examinará as motivações estratégicas israelenses, o papel dos proxies iranianos e apresentará dois cenários prospectivos com potenciais impactos regionais e globais.
A Doutrina Begin: Origem, Evolução e Relevância Atual
A Doutrina Begin, formulada durante o governo de Menachem Begin (1977-1983), estabelece três pilares fundamentais da postura estratégica de Israel:
Resposta militar proporcional, rápida e precisa a qualquer ameaça existencial;
Ataques preventivos para impedir o desenvolvimento de capacidades ofensivas adversárias; e
Manutenção contínua da dissuasão por meio de prontidão militar e superioridade tecnológica.
A doutrina foi aplicada emblematicamente na destruição do reator nuclear iraquiano em Osirak (1981) e, mais recentemente, nas operações extraterritoriais contra alvos iranianos na Síria, Líbano e em solo iraniano. No atual conflito, a Doutrina Begin serve como fundamento conceitual para as ações ofensivas israelenses contra a infraestrutura nuclear e militar do Irã.
A Escalada de 2025: Operações e Repercussões:
A) Ações Militares e Resultados Imediatos
Entre maio e junho de 2025, Israel executou uma ofensiva de múltiplos vetores contra alvos estratégicos iranianos. As operações envolveram:
Bombardeios de precisão sobre o complexo nuclear de Natanz;
Ataques a oleodutos, refinarias e infraestrutura de comando e controle do IRGC;
Operações cibernéticas destinadas a paralisar redes elétricas e de comunicação militar iranianas.
Segundo fontes como AP News e The Washington Post, os ataques causaram mais de 200 mortes em território iraniano, afetando também lideranças de alto escalão da Guarda Revolucionária. Em resposta, o Irã lançou mais de 400 mísseis e drones contra território israelense, dos quais aproximadamente 95% foram interceptados, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF).
B) Reações Regionais e Internacionais
Os países do Golfo — especialmente Arábia Saudita, Omã e Qatar — intensificaram esforços diplomáticos para evitar a regionalização do conflito. Os EUA mantêm uma postura "oscilante": reforçam a defesa aérea de Israel e deslocam ativos militares para a região, mas evitam, por enquanto, qualquer envolvimento militar direto.
Na Europa, a União Europeia apela por contenção, enquanto China e Rússia utilizam o Conselho de Segurança da ONU como palco para condenar a ofensiva israelense e exigir negociações multilaterais.
Intenção Estratégica de Israel: Soberania, Dissuasão e Eliminação da Ameaça Iraniana
A) Controle Territorial e Reconfiguração Regional
O atual governo de Benjamin Netanyahu tem reforçado uma visão estratégica que prioriza:
Consolidação da presença israelense nos territórios palestinos;
Fragilização definitiva da possibilidade de um Estado Palestino viável;
Redefinição de fronteiras defensivas, ampliando zonas de segurança.
Assim, eliminar o apoio iraniano a grupos como o Hamas e o Hezbollah é central para essa estratégia. Logo, em nossa visão, a aplicação sistemática da Doutrina Begin reflete a intenção de criar uma hegemonia regional baseada em superioridade militar e isolamento dos adversários.
B) Neutralização de Proxies e Capacidades Nucleares Iranianas
O Irã, por sua vez, lidera um "Eixo da Resistência", articulado, atualmente (perdeu o apoio sírio) por meio de grupos como:
Hezbollah (Líbano);
Hamas (Faixa de Gaza);
Milícias xiitas no Iraque; e
Houthis (Iêmen).
Portanto, podemos concluir que a ofensiva israelense visa desmantelar essa rede por meio de ataques coordenados a centros de comando, depósitos de armas e rotas logísticas, além de operações de inteligência para neutralizar lideranças chave.
Cenários Prospectivos para o Oriente Médio
A) Cenário A: Escalada Regional Prolongada
Dinâmica Provável
Israel amplia o escopo dos ataques, atingindo alvos civis e militares no Irã;
Resposta iraniana se intensifica, com ataques coordenados a partir do Líbano, Iraque e Iêmen;
Hezbollah e outras milícias se engajam abertamente;
EUA e aliados ocidentais assumem papel de contenção militar, elevando o risco de confronto direto com Teerã.
Impactos Previstos:
Político-diplomáticos: Colapso de negociações nucleares, isolamento de Israel, alinhamento entre Irã, Rússia e China, e quiçá Coreia do Norte;
Humanitários: Fluxos massivos de refugiados, colapso de infraestrutura civil, crises sanitárias;
Econômicos: Disparada nos preços do petróleo, instabilidade nos mercados de energia, riscos à navegação comercial pelo Estreito de Ormuz;
Militares: Intensificação da corrida armamentista regional, incluindo desenvolvimento de sistemas antiaéreos e mísseis balísticos;
Globais: Nova dinâmica de Guerra Fria, com aumento da competição geopolítica no Oriente Médio, Pacífico e Eurásia.
B) Cenário B: Contenção Estratégica e Reconfiguração Diplomática
Dinâmica Provável
Após algumas semanas de conflito, o Irã aceita mediação internacional, com forte atuação de Omã e Qatar;
Um cessar-fogo é implementado com apoio tácito dos EUA e da União Europeia;
Teerã retoma negociações nucleares, condicionado ao levantamento gradual de sanções;
Israel adota postura de contenção limitada, mantendo operações de dissuasão.
Impactos Previstos:
Político-diplomáticos: Redução temporária das tensões, retomada de diálogo Israel-Palestina em fóruns multilaterais;
Humanitários: Contenção de novas vítimas civis, porém manutenção de crises humanitárias nas zonas já atingidas;
Econômicos: Estabilização progressiva dos mercados de energia, mas com prêmios de risco elevados para navegação e seguros;
Militares: Reforço de capacidades defensivas por Israel e Irã, com manutenção de alerta máximo;
Globais: EUA e UE reabilitam instrumentos diplomáticos; China e Rússia expandem relações econômicas com Teerã, mas evitam envolvimento militar direto.
Análise Comparativa dos Cenários:
Critério | Cenário A – Escalada Total | Cenário B – Contenção Diplomática |
Estabilidade Regional | Muito baixa | Moderada, com riscos latentes |
Envolvimento Internacional | Elevado – risco de guerra indireta EUA-Irã | Diplomacia ativa, intervenção militar mínima |
Impacto Econômico | Extremo – crise global de energia | Alto – mas com recuperação progressiva |
Impacto Humanitário | Catastrófico | Grave, mas com potencial de reversão |
Papel do Irã | Ator central ofensivo | Negociador sob pressão |
Papel de Israel | Expansionista e militarizado | Moderado, com foco em dissuasão |
Conclusão:
O atual confronto entre Israel e Irã é uma manifestação direta da evolução da Doutrina Begin no século XXI. A combinação de ataques preventivos, dissuasão ativa e controle territorial mostra que Israel busca não apenas neutralizar a ameaça iraniana, mas também reconfigurar o equilíbrio de poder no Oriente Médio a seu favor.
O cenário de escalada prolongada poderia gerar uma guerra regional de grandes proporções, com impactos econômicos e humanitários globais. Por outro lado, uma contenção negociada, embora complexa, abriria espaço para soluções diplomáticas que possam mitigar os riscos de uma conflagração maior.
A capacidade das potências internacionais, sobretudo dos EUA, da União Europeia, da China e da Rússia, de articular respostas coordenadas será decisiva nos próximos meses. A mobilização de canais diplomáticos e o fortalecimento de mecanismos de diálogo regional podem ser os únicos antídotos viáveis para conter uma escalada de consequências imprevisíveis.
Portanto, o desfecho permanece incerto. Caso o atual regime iraniano seja eliminado, não há como prever como seria um futuro governo de Teerã, podendo mergulhar todo o Oriente Médio no caos, com o surgimento de novo radicalismo, como o ocorrido com a queda de Sadam Hussein, dando origem ao Estado Islâmico.
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Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:
Matéria de 20/06/2025:
Matéria de 20/04/2012:
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