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A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte V: E agora?

Fonte: IA
Fonte: IA

Introdução

O Blog vem acompanhando os acontecimentos no Oriente Médio por meio da sua seção Oriente Médio, acessível em: https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/ori-m%C3%A9dio. Nesse contexto, iniciamos uma série chamada "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", desde 2020. Dessa forma, recomendamos a leitura dos seguintes artigos, visando contribuir para uma melhor contextualização do leitor:

  • "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel", de 24 de dezembro de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel, em que dentre várias análises, afirmamos que a nova configuração do Oriente Médio foi criada pela ameaça iraniana aos países sunitas do Oriente Médio, devido ao aumento do Arco Xiita e do programa nuclear iraniano. Dessa forma, os países que normalizaram as relações com Israel buscaram uma aliança militar contra o inimigo comum, sendo bastante pragmáticos, deixando a causa palestina de lado, e seguindo o ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo", bem como uma parceria econômica e tecnológica que poderia trazer prosperidade e segurança a toda região;

  • "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte II - "olho por olho", será que todos ficarão cegos?", de 20 de abril de 2024, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-ii-olho-por-olho-será-qu, das várias análises apresentadas, falamos que o ataque iraniano ao território israelense moldaria, a partir daquele momento, as ações e reações entre estes países, inaugurando uma nova era geopolítica na região. Além disso, ficou bastante nítida a diferença de importância e de apoio prestado pelo Ocidente a Israel e a Ucrânia;

  • "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte III - incertezas", de 07 de agosto de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-iii-incertezas, em que apresentamos várias análises, dentre elas destacamos que haveria todos os ingredientes para a ocorrência de um conflito de alta intensidade no Oriente Médio e que o atual governo israelense estaria fomentando a escalada da crise, visando a manutenção de Benjamin Netanyahu no poder;

  • "A nova configuração do Oriente Médio: bipolaridade Irã x Israel. Parte IV - aberta a Caixa de Pandora", de 06 de outubro de 2024, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-configuração-do-oriente-médio-bipolaridade-irã-x-israel-parte-iv-aberta-a-caixa-de-pandor, fizemos várias inferências, dentre elas destacamos que, a partir daquele momento, no conflito entre Israel e o Irã tudo seia possível, conforme analisado no artigo, e com isso ratificamos a nossa opinião, apresentada no artigo "Hezbollah e sua importância geopolítica no Oriente Médio. Parte II. E agora?", que Israel abriu a sua Caixa de Pandora, e que muitos desdobramentos inesperados acontecerão.


O recente confronto entre Israel e Irã, iniciado em 13 de junho pelo governo de Tel Aviv, atingiu um patamar inédito de intensidade, caracterizado por ataques diretos ao território iraniano e retaliações maciças a partir de Teerã. Esta escalada ultrapassa os limites tradicionais da chamada "guerra nas sombras" e sinaliza uma possível reconfiguração geopolítica de longo prazo no Oriente Médio.

Assim, este artigo tentará analisar os desdobramentos do conflito à luz da Doutrina Begin, examinará as motivações estratégicas israelenses, o papel dos proxies iranianos e apresentará dois cenários prospectivos com potenciais impactos regionais e globais.


A Doutrina Begin: Origem, Evolução e Relevância Atual

A Doutrina Begin, formulada durante o governo de Menachem Begin (1977-1983), estabelece três pilares fundamentais da postura estratégica de Israel:

  • Resposta militar proporcional, rápida e precisa a qualquer ameaça existencial;

  • Ataques preventivos para impedir o desenvolvimento de capacidades ofensivas adversárias; e

  • Manutenção contínua da dissuasão por meio de prontidão militar e superioridade tecnológica.

A doutrina foi aplicada emblematicamente na destruição do reator nuclear iraquiano em Osirak (1981) e, mais recentemente, nas operações extraterritoriais contra alvos iranianos na Síria, Líbano e em solo iraniano. No atual conflito, a Doutrina Begin serve como fundamento conceitual para as ações ofensivas israelenses contra a infraestrutura nuclear e militar do Irã.


A Escalada de 2025: Operações e Repercussões:

A) Ações Militares e Resultados Imediatos

Entre maio e junho de 2025, Israel executou uma ofensiva de múltiplos vetores contra alvos estratégicos iranianos. As operações envolveram:

  • Bombardeios de precisão sobre o complexo nuclear de Natanz;

  • Ataques a oleodutos, refinarias e infraestrutura de comando e controle do IRGC;

  • Operações cibernéticas destinadas a paralisar redes elétricas e de comunicação militar iranianas.

Segundo fontes como AP News e The Washington Post, os ataques causaram mais de 200 mortes em território iraniano, afetando também lideranças de alto escalão da Guarda Revolucionária. Em resposta, o Irã lançou mais de 400 mísseis e drones contra território israelense, dos quais aproximadamente 95% foram interceptados, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF).

B) Reações Regionais e Internacionais

Os países do Golfo — especialmente Arábia Saudita, Omã e Qatar — intensificaram esforços diplomáticos para evitar a regionalização do conflito. Os EUA mantêm uma postura "oscilante": reforçam a defesa aérea de Israel e deslocam ativos militares para a região, mas evitam, por enquanto, qualquer envolvimento militar direto.

Na Europa, a União Europeia apela por contenção, enquanto China e Rússia utilizam o Conselho de Segurança da ONU como palco para condenar a ofensiva israelense e exigir negociações multilaterais.


Intenção Estratégica de Israel: Soberania, Dissuasão e Eliminação da Ameaça Iraniana

A) Controle Territorial e Reconfiguração Regional

O atual governo de Benjamin Netanyahu tem reforçado uma visão estratégica que prioriza:

  • Consolidação da presença israelense nos territórios palestinos;

  • Fragilização definitiva da possibilidade de um Estado Palestino viável;

  • Redefinição de fronteiras defensivas, ampliando zonas de segurança.

Assim, eliminar o apoio iraniano a grupos como o Hamas e o Hezbollah é central para essa estratégia. Logo, em nossa visão, a aplicação sistemática da Doutrina Begin reflete a intenção de criar uma hegemonia regional baseada em superioridade militar e isolamento dos adversários.

B) Neutralização de Proxies e Capacidades Nucleares Iranianas

O Irã, por sua vez, lidera um "Eixo da Resistência", articulado, atualmente (perdeu o apoio sírio) por meio de grupos como:

  • Hezbollah (Líbano);

  • Hamas (Faixa de Gaza);

  • Milícias xiitas no Iraque; e

  • Houthis (Iêmen).

Portanto, podemos concluir que a ofensiva israelense visa desmantelar essa rede por meio de ataques coordenados a centros de comando, depósitos de armas e rotas logísticas, além de operações de inteligência para neutralizar lideranças chave.


Cenários Prospectivos para o Oriente Médio

A) Cenário A: Escalada Regional Prolongada

Dinâmica Provável

  • Israel amplia o escopo dos ataques, atingindo alvos civis e militares no Irã;

  • Resposta iraniana se intensifica, com ataques coordenados a partir do Líbano, Iraque e Iêmen;

  • Hezbollah e outras milícias se engajam abertamente;

  • EUA e aliados ocidentais assumem papel de contenção militar, elevando o risco de confronto direto com Teerã.


Impactos Previstos:

  • Político-diplomáticos: Colapso de negociações nucleares, isolamento de Israel, alinhamento entre Irã, Rússia e China, e quiçá Coreia do Norte;

  • Humanitários: Fluxos massivos de refugiados, colapso de infraestrutura civil, crises sanitárias;

  • Econômicos: Disparada nos preços do petróleo, instabilidade nos mercados de energia, riscos à navegação comercial pelo Estreito de Ormuz;

  • Militares: Intensificação da corrida armamentista regional, incluindo desenvolvimento de sistemas antiaéreos e mísseis balísticos;

  • Globais: Nova dinâmica de Guerra Fria, com aumento da competição geopolítica no Oriente Médio, Pacífico e Eurásia.


B) Cenário B: Contenção Estratégica e Reconfiguração Diplomática

Dinâmica Provável

  • Após algumas semanas de conflito, o Irã aceita mediação internacional, com forte atuação de Omã e Qatar;

  • Um cessar-fogo é implementado com apoio tácito dos EUA e da União Europeia;

  • Teerã retoma negociações nucleares, condicionado ao levantamento gradual de sanções;

  • Israel adota postura de contenção limitada, mantendo operações de dissuasão.


    Impactos Previstos:

  • Político-diplomáticos: Redução temporária das tensões, retomada de diálogo Israel-Palestina em fóruns multilaterais;

  • Humanitários: Contenção de novas vítimas civis, porém manutenção de crises humanitárias nas zonas já atingidas;

  • Econômicos: Estabilização progressiva dos mercados de energia, mas com prêmios de risco elevados para navegação e seguros;

  • Militares: Reforço de capacidades defensivas por Israel e Irã, com manutenção de alerta máximo;

  • Globais: EUA e UE reabilitam instrumentos diplomáticos; China e Rússia expandem relações econômicas com Teerã, mas evitam envolvimento militar direto.


Análise Comparativa dos Cenários:

Critério

Cenário A – Escalada Total

Cenário B – Contenção Diplomática

Estabilidade Regional

Muito baixa

Moderada, com riscos latentes

Envolvimento Internacional

Elevado – risco de guerra indireta EUA-Irã

Diplomacia ativa, intervenção militar mínima

Impacto Econômico

Extremo – crise global de energia

Alto – mas com recuperação progressiva

Impacto Humanitário

Catastrófico

Grave, mas com potencial de reversão

Papel do Irã

Ator central ofensivo

Negociador sob pressão

Papel de Israel

Expansionista e militarizado

Moderado, com foco em dissuasão

Conclusão:

O atual confronto entre Israel e Irã é uma manifestação direta da evolução da Doutrina Begin no século XXI. A combinação de ataques preventivos, dissuasão ativa e controle territorial mostra que Israel busca não apenas neutralizar a ameaça iraniana, mas também reconfigurar o equilíbrio de poder no Oriente Médio a seu favor.

O cenário de escalada prolongada poderia gerar uma guerra regional de grandes proporções, com impactos econômicos e humanitários globais. Por outro lado, uma contenção negociada, embora complexa, abriria espaço para soluções diplomáticas que possam mitigar os riscos de uma conflagração maior.

A capacidade das potências internacionais, sobretudo dos EUA, da União Europeia, da China e da Rússia, de articular respostas coordenadas será decisiva nos próximos meses. A mobilização de canais diplomáticos e o fortalecimento de mecanismos de diálogo regional podem ser os únicos antídotos viáveis para conter uma escalada de consequências imprevisíveis.

Portanto, o desfecho permanece incerto. Caso o atual regime iraniano seja eliminado, não há como prever como seria um futuro governo de Teerã, podendo mergulhar todo o Oriente Médio no caos, com o surgimento de novo radicalismo, como o ocorrido com a queda de Sadam Hussein, dando origem ao Estado Islâmico.


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Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:

Matéria de 20/06/2025:

Matéria de 20/04/2012:


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