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Instabilidade no Entorno Estratégico Brasileiro: Golpes de Estado na África Ocidental II - Gabão.


Figura disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c6p68gd847do

Em virtude da grande importância do continente africano para o nosso país, pois temos laços históricos e culturais que nos unem, bem como em virtude da sua relevância econômica, fazendo com que várias potências tenham interesse na África, nos impõe a obrigatoriedade de atentarmos para a sua situação geopolítica. Dessa forma, a costa ocidental africana faz parte do nosso Entorno Estratégico, o que denota que é uma região de interesse para o Brasil.

Assim, o que acontece naquela região, que fica do outro lado do Atlântico Sul, poderá nos afetar em alguma medida, o que justifica a necessidade de acompanharmos os eventos que por lá acontecem, o que demonstra o motivo de termos uma Seção África no Blog, que pode ser acessada pelo link https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/%C3%A1frica.

Nesse sentido, em 12 de fevereiro de 2022, apresentamos o nosso artigo "Instabilidade no Entorno Estratégico Brasileiro: Golpes de Estado na África Ocidental", que está disponível em https://www.atitoxavier.com/post/instabilidade-no-entorno-estratégico-brasileiro-golpes-de-estado-na-áfrica-ocidental, em que fizemos várias análises, das quais destacamos:

- nos países do Sahel tem-se verificado o descontentamento da população com os governos que não estão conseguindo prover melhores condições de vida, bem como o aumento do ressentimento com os franceses que sempre apoiaram os governos ditatoriais pró-França, o que tem levado a fortes protestos contra as tropas francesas estacionadas na região, isso está apresentando como consequência a redução do seu efetivo;

- tem havido um deslocamento de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos, notadamente de grupos afiliados a Al Qaeda e ao Estado Islâmico, da Líbia para o Sahel, a fim de lutar contra a presença francesa, considerada colonialista, na região;

- observa-se o aumento da presença de mercenários russos no Mali, como o Wagner Group, ocupando o espaço francês. Dessa forma, fica nítida uma disputa geopolítica entre os russos e franceses no Sahel;

- verifica-se que esse movimento de troca de poder, por meio da violência, tem se dirigido para a África Ocidental; e

- existe o temor que seja o início da multiplicação de Golpes de Estado na África Ocidental, o que poderá aumentar a instabilidade dessa região que já é impactada pela pirataria, pela rota do narcotráfico para a Europa e pela pesca ilegal.

Nesse cenário, em 30 de agosto, um mês após o Golpe de Estado no Niger e que abordamos no artigo "África, palco de disputas geopolíticas. Parte III: Níger", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/áfrica-palco-de-disputas-geopolíticas-parte-iii-níger, houve um Golpe de Estado no Gabão, que fica na porção ocidental do continente africano, levando a sua suspensão da União Africana, em que um grupo de militares destituiu o presidente Ali Bongo, após o resultado das eleições presidenciais que mostraram a vitória de Bongo para um terceiro mandato.

Convém mencionar que a sua família governa o país desde 1967, sendo que a independência ocorreu em 1960, perfazendo uma dinastia de 57 anos, contribuindo para que durante esse período o Gabão apresentasse elevados índices de pobreza e de corrupção, além de um viés autoritário. Não podemos esquecer que em 2019 houve no país uma tentativa de golpe sem sucesso.

Cabe frisar que o Gabão, que é uma ex-colônia francesa, faz parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP, sendo o quinto maior produtor de petróleo da África Subsaariana, e rico em outros recursos naturais.

Dessa forma, em que pese o Gabão não estar na região do Sahel, conforme a figura,

Figura disponível em https://www.euractiv.com/wp-content/uploads/sites/2/2022/02/Sahel-region.jpg

em nossa visão, as raízes do atual golpe têm algumas semelhanças com as análises do nosso artigo que citamos acima, como o descontentamento da população com os governos que não estão conseguindo prover melhores condições de vida, e os autoritários pró-França.

Logo, podemos concluir que a França vem perdendo a sua influência na África, o que é corroborado por Régio Conrado, professor na Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique e investigador associado na Sciences-Po em Bordéus:


"A consagração deste golpe no continente africano, sobretudo na África francófona, deve ser compreendido como a consagração daquilo que são as independências dos países africanos, na concepção dos golpistas. Toda a estrutura discursiva dos militares é que é necessário restaurar a boa governança, restaurar a independência e autonomia desses países. Para a França a situação é gravíssima porque a França vai perdendo uma parte das suas influências no continente africano. O Presidente Macron reconheceu no seu discurso aos embaixadores que é preciso não ser paternalista para com continente africano, mas é preciso defender os interesses da França. A França e o Presidente francês chegam à conclusão que o paternalismo, o neocolonialismo e tentativas de controlo e de substituição dos exércitos nacionais pela presença militar francesa degradou a imagem da França [...] a França não mudar a sua relação com os países africanos haverá, cada vez mais, contestações, revoltas e violência contra aquilo que são os interesses franceses no continente africanos. Neste momento, as relações da França com a Costa do Marfim e o Senegal - onde a França tem bases militares - pode degradar a imagem da França porque vai aprofundar o sentimento anti-francês. O continente africano não é um continente que precisa de forças estrangeiras a ocupar o território, como é o caso da França [...] Dentro do exército e das forças de segurança do Gabão existe um sentimento muito patriótico, muito nacionalista, anti-colonial e anti-francês que pode definir o tipo de relação entre os dois países. Jean Luc Mélenchon escreveu, recentemente, que mais uma vez o Presidente francês cometeu o erro estratégico de proteger o que não é possível proteger, neste caso a família Bongo. A França fica preocupada com a situação do Níger por causa do urânio e pode perde parte da sua importância estratégica no mundo quando se fala de produção de urânio" (fonte: https://www.rfi.fr/pt/programas/vida-em-fran%C3%A7a/20230830-gab%C3%A3o-fran%C3%A7a-vai-perdendo-influ%C3%AAncia-no-continente-africano)


Entretanto, as principais diferenças estão no fato de não termos verificado, até o momento, uma dinâmica de disputa geopolítica franco - russa, e nem de atividades de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos.

Figura disponível em https://static.todamateria.com.br/upload/ma/pa/mapapoliticoafrica.jpg

Portanto, o Golpe de Estado no Gabão contribui para a formação de instabilidade na África Ocidental, e por conseguinte no Entorno Estratégico Brasileiro - EEB, o que vínhamos alertando em 2022.

Cabe mencionar que as relações entre o Brasil e o Gabão vêm desde a independência gabonesa em 1960, e que de acordo com a entrevista, de 26 de agosto de 2022, do Embaixador do Gabão no Brasil Jacques Michel Moudoute-Bell para o site "Brasília in foco", que pode ser lida em https://brasiliainfoco.com/entrevista-com-o-embaixador-do-gabao-no-brasil/, havia uma intenção de dinamizar as cooperações em várias áreas, como agricultura, educação e defesa.

O Blog é de opinião que o continente africano está passando por um período de instabilidades que começam a afetar a sua parte ocidental, que faz parte do EEB, e com isso poderá impactar nos nossos interesses nacionais naquela região, que possui importância geopolítica para o nosso país.

Assim, ratificamos a importância do governo brasileiro em acompanhar a situação, bem como em analisar como poderia contribuir para a resolução pacífica do problema, visando aumentar o seu protagonismo no EEB.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 30/08/2023:

Matéria de 30/08/2023:

Matéria de 30/08/2023:

Matéria de 01/09/2023:

Matéria de 31/08/2023:


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