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Crise da Ucrânia: laboratório para a problemática de Taiwan.


Figura disponível em: https://images.wsj.net/im-461067?width=860&height=659

A China e a Rússia possuem dois importantes objetivos políticos comuns que seriam manter e ampliar as suas influências geopolíticas nos países dos seus entornos estratégicos. Nesse sentido, eles têm realizado demonstrações de força para esse intento.

Nesse contexto, a Ucrânia e Taiwan, que fazem parte, respectivamente, dos entornos estratégicos russo e chinês, vêm tentando manterem-se livres das influências dos governos de Moscou e de Pequim, por meio de apelo aos países ocidentais, aqui representados pelos EUA e os seus aliados, principalmente os europeus ocidentais, o que causa uma profunda irritação, bem como se apresenta como uma política desafiadora a essas potências regionais.

Essas problemáticas vêm sendo acompanhadas pelo Blog por meio de vários de seus artigos, como:

- "Ucrânia e a manobra geopolítica russa", de 09 de abril de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/ucrânia-e-a-manobra-geopolítica-russa; e

- "Taiwan: primeiro teste para Biden em relação à China", de 30 de janeiro de 2021, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/taiwan-primeiro-teste-para-biden-em-relação-à-china.

Na análise de ambos os artigos falamos que tanto Putin, quanto Xi Jinping testariam o comprometimento político - militar dos EUA e dos seus aliados europeus na defesa da Ucrânia e de Taiwan num possível cenário de invasão por parte da Rússia e da China, ainda mais na época que estamos vivendo, que está sendo marcada pela competição entre as grandes potências: China, EUA e Rússia.

Essa situação tem aproximado, cada vez mais, a Rússia e a China, devido as sanções econômicas que vêm sofrendo e que são lideradas pelos EUA, bem como pelas alianças militares que estão sendo criadas visando efetuar a contenção geopolítica de ambos. O Blog fez essa análise em seu artigo "China e Rússia: cada vez mais parceiros contra os adversários comuns", de 16 de dezembro de 2021, e que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/china-e-rússia-cada-vez-mais-parceiros-contra-os-adversários-comuns.

Nesse sentido, em janeiro deste ano, Putin fez uma "jogada"geopolítica assertiva e perigosa ao posicionar um grande contingente de suas forças na fronteira com a Ucrânia, visando atingir os seus objetivos estratégicos, dentre eles evitar com que Kiev faça parte da OTAN, alarmando a Europa e os EUA no tocante a uma possível invasão russa ao território ucraniano. Além disso, iniciou exercícios militares com a Bielorússia, cujo o ditador é aliado de Putin.

Figura disponível em: https://www.economist.com/img/b/608/667/90/sites/default/files/images/print-edition/20220115_EUM999.png

Com as ameaças estadunidenses e europeias em realizar uma grande retaliação à Rússia, bem como por não aceitarem as condições impostas por Moscou, Putin asseverou que, a depender do nível das sanções, poderia considerar o ato como uma declaração de guerra. Ademais, informou que poderá colocar tropas russas na Venezuela e em Cuba, colocando pressão nos EUA, o que nos remete ao período da Guerra Fria.

A OTAN, principalmente os EUA, têm disponibilizado material militar aos ucranianos, bem como tem enviado militares para adestrar as tropas do governo de Kiev, com o intuito de auxiliar a resistência ucraniana no caso de uma possível agressão russa.

É digno de nota que a parceria estratégica da Rússia com a China mitiga o problema econômico russo em caso de sanções econômicas severas por parte do ocidente.

Além disso, o conflito não é interessante para a Europa, pois é muito dependente do gás russo, e cujo corte no fornecimento terá um grande impacto nas populações europeias, notadamente no inverno. Nesse diapasão, um recente movimento geopolítico pode mudar a situação dessa dependência europeia no futuro de médio prazo, que é o interesse dos sauditas, por meio da ARAMCO, em explorar gás na Polônia e fornecer aos europeus, conforme o comunicado da empresa que pode ser lido no link https://www.aramco.com/en/news-media/news/2022/aramco-expands-european-downstream-presence-with-pkn-orlen-investments, o que diminuirá o poder de influência russo.

Atento a esse cenário tenso e difuso, Xi Jinping é um grande expectador em virtude da sua intenção de unificar a China continental com Taiwan, realizando, assim, um dos seus objetivos de governo. Dessa forma, é extremamente importante para ele observar e analisar qual será a reação ocidental, pois, a depender disso, poderá incentivá-lo a ser mais agressivo em sua politica de anexação.

Assim, em nossa análise, o líder chinês apostará todas as suas fichas no sucesso de Putin, e temos a plena convicção de que prestará o devido apoio econômico aos russos, o que permitirá com que Putin continue com o seu xadrez geopolítico.

Assim, os EUA estão numa encruzilhada, pois caso Putin consiga atingir os seus objetivos na Ucrânia, sinalizará que os estadunidenses não possuem um forte comprometimento político-militar em apoiar os seus aliados, engajando-se nas crises com as suas tropas, o que poderá abrir caminho para que a China faça o mesmo em relação a Taiwan, ainda mais porque poderá haver duas frentes de conflito.

Convém mencionar que o governo Biden vem enfrentando uma queda na popularidade em um ano de eleições legislativas, que está sendo marcado pela fracassada retirada do Afeganistão, e que o insucesso do seu partido terá como consequência o enfraquecimento do seu governo.

Outros fatores importantes em relação as principais potências da OTAN e que poderão influenciar numa possível reação dessa aliança são:

- Boris Johnson sem sofrendo pressões para renunciar, o que vem regando instabilidade interna no Reino Unido; e

- Eleições presidenciais francesas, em que Macron vem tendo problemas com a sua popularidade;

- Recente troca de poder na Alemanha; e

- Rebeldia turca em relação à OTAN e o maior distanciamento político que vem tendo da União Europeia.

Em nossa visão, o ano de 2022 apresenta uma tempestade geopolítica perfeita, e que o desfecho da crise na Ucrânia poderá mudar a ordem mundial.

O Brasil que tem como principal parceiro econômico a China, e que está se aproximando da Rússia, bem como se localiza na área de influência estadunidense, deve acompanhar com atenção essa situação e planejar uma política para fazer frente aos possíveis cenários de 2022, visando não ficar a reboque dos acontecimentos. Outrossim, cabe lembrar que o nosso país está em um ano eleitoral presidencial, sendo esse um grande desafio futuro.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossas análises:

Matéria de 20/01/2022:

Matéria de 13/01/2022:



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