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A nova corrida espacial e a geopolítica do espaço. Parte II - o movimento russo e o Brasil.


Figura disponível em https://www.oficinadanet.com.br/imagens/post/23918/capa.jpg

O espaço, que até recentemente era um ambiente de cooperação internacional, voltou a reviver uma disputa geopolítica entre as Grandes Potências, como no período da Guerra Fria entre os EUA e a ex-União Soviética, levando a uma nova corrida espacial.

Entretanto, tal disputa está muito mais acirrada do que a anterior, sendo potencializada pelo desenvolvimento de armamentos e sistemas que possuem capacidade de destruição de satélites, ainda mais quando o ambiente espacial passou a ser considerado um ambiente de guerra.

Além disso, existem outros Estados envolvidos na disputa como a Índia, bem como outros que vêm tentando desenvolver tais capacidades como o Irã e a Coreia do Norte.

Nesse contexto, podemos compreender o motivo que levou os EUA a criarem a US Space Force.

Dessa forma, o Blog criou uma Seção chamada Geopolítica Espacial que tem como objetivo proporcionar ao leitor algumas reflexões sobre o tema, que é extremamente importante nos dias atuais. Os artigos sobre o tema podem ser acessados em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/geopol%C3%ADtica-espacial.

No artigo "A nova corrida espacial e a geopolítica do espaço: A Era da Competição entre as Grandes Potências", de 10 de janeiro de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-nova-corrida-espacial-e-a-geopolítica-do-espaço-a-era-da-competição-entre-as-grandes-potências, fizemos várias análises sobre o tema, em que afirmamos que o Espaço tem sido um palco contencioso entre as Grandes Potências, mas com pouco destaque, sendo silencioso e ao mesmo tempo fascinante, e que poderá no futuro próximo inaugurar uma época de grandes conquistas para a humanidade, bem como ser decisivo como fator hegemônico. Ademais, também falamos que os chineses possuem grandes expectativas em seus projetos lunares, como a exploração de minerais o que os colocaria em outro patamar na conquista espacial e aumentaria a sua disponibilidade de recursos. Para tanto, teriam que resolver os desafios logísticos. Por outro lado, na corrida espacial da atualidade a estratégia dos EUA é de apostar na iniciativa privada, como as empresas Space X e AXIOM Space, além de outras, o que tem como vantagens a diminuição dos investimentos estatais nesse tipo de empreendimento, permite que a inovação tecnológica seja mais célere, bem como possibilita uma implementação mais rápida de tais tecnologias. Dessa forma, a NASA passaria ser mais uma cliente de tais empresas. Entretanto, para que se tenha sucesso faz-se necessário que as empresas desenvolvedoras privadas tenham lucro para que continuem com as realizações, e que caso aconteça poderá garantir a perenidade da permanência estadunidense no Espaço.

Em virtude do atual conflito da Ucrânia, que estremeceu a relação dos russo-ocidental, notadamente com os EUA, a outrora cooperação espacial entre a Rússia e os EUA foi fortemente impactada, tendo como consequência a decisão do Governo de Moscou de abandonar a Estação Espacial Internacional até 2024, bem como de implementar uma estação espacial própria até 2030.

Nesse sentido, a Rússia, em 24 de julho de 2023, convidou os países membros do BRICS para participarem do projeto de desenvolvimento da sua futura estação espacial, como podemos ver na declaração do Diretor-Geral da Roscosmos (agência espacial russa), Yuri Borisov:


Gostaria de convidar os parceiros do Brics para criar um módulo completo que, fazendo parte da ROS (primeiro módulo da estação espacial), permitiria aos países do Brics usar as possibilidades da órbita baixa da Terra para implementar seus programas espaciais nacionais” (fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-oferece-aos-parceiros-do-brics-modulo-em-sua-estacao-espacial/)


A proposta russa, em nossa análise, tem como objetivos:

a) conseguir financiamento para o projeto, pois atualmente vem sofrendo tanto sanções econômicas quanto tecnológicas severas por parte do ocidente, o que impactará certamente no cronograma de construção da futura estação russa;

b) manter-se como protagonista espacial, pois a atual Estação Espacial Internacional deverá ser desativada pelos EUA, no máximo até 2030; e

c) usar a futura estação espacial como uma ferramenta de influência geopolítica, principalmente junto aos Estados não alinhados totalmente ao ocidente (EUA e os seus aliados europeus), como alguns países africanos, latino americanos e islâmicos.


Convém mencionar que, em 03 de outubro de 2023, conforme informação da agência de notícias Sputnik Brasil e do site Interfax (disponível em https://interfax.com/newsroom/top-stories/95079/), as agências espaciais do Brasil, da Turquia e da África do Sul receberam um convite para participar da Estação Orbital da Rússia, como podemos verificar a seguir:


"As reuniões e os contatos bilaterais no âmbito desse fórum mostraram que o interesse pela cosmonáutica russa e pelos avanços russos é muito grande. Informamos aos nossos colegas sobre nossos planos de desenvolver a ROSS e de dar continuidade ao nosso programa tripulado. Nós os convidamos a participar [...] Há um interesse genuíno de colegas da Turquia, do Brasil e da África do Sul. Basicamente, estamos em bom contato com os países do BRICS" (fonte: https://sputniknewsbr.com.br/20231003/russia-propoe-participacao-de-brasil-em-futura-estacao-orbital-russa--30630767.html)

Entretanto, de acordo com o que consta no site BRICS Information Portal, em 16 de maio de 2023, que pode ser lido em http://infobrics.org/post/38393/, o representante da Agência Espacial Brasileira demonstrou cautela quando questionado sobre o tema:


"Leonardi also said that Brazil was open to capacity building, exchanging students and professionals, and continuing the tradition of working with everyone in space. When asked whether the current tensions between the West and Moscow affect Brazil's cooperation with Russia on space matters, Leonardi said, "The tensions affect everybody, I would say that's not good for anyone." He also expressed hope that peace might be found as soon as possible, so that Brazil may continue to work with everyone in space. Regarding the potential for Brazil to participate in Russia's proposed space station, Leonardi said that it is a "bit too early" to discuss such a move."


É inegável que uma possível participação brasileira no projeto da estação espacial russa contribuiria para o desenvolvimento tecnológico do nosso país, bem como impulsionaria o nosso setor espacial. Porém, a adesão a este projeto poderá impactar na relação política, que está um pouco desgastada, entre o Brasil e os EUA, o que requer uma análise atenta por parte dos Ministérios das Relações Exteriores; da Ciência, Tecnologia e Inovação; e da Defesa, a fim de verificar os prós e contras dessa parceria espacial.

Portanto, acreditamos que deva ser estabelecido um grupo de estudos interministerial sobre o assunto, visando subsidiar a decisão do governo brasileiro.

O Blog é de opinião que a Rússia tentará usar o seu projeto de estação espacial, visando atender os seus objetivos geopolíticos, o que ratifica a importância da Geopolítica Espacial, como temos evidenciado em nossos artigos sobre o assunto.

Ademais, acreditamos que a participação no projeto russo seria uma oportunidade para o nosso país incrementar o desenvolvimento tecnológico autóctone brasileiro, e que um possível desgaste com o Governo de Washington valeria a pena, pois como falamos em alguns artigos, o lema do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo - Tecnologia Própria é Independência - é uma verdade que não pode ser contestada.

Portanto, em nossa visão, para que valha realmente a pena, é primordial que haja a transferência de tecnologia espacial russa para o nosso país, o que poderá "catapultar" a potencialidade do nosso Centro Espacial de Alcântara.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar na nossa análise: Matéria de 26/07/2023:


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