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O uso da migração de refugiados como arma política: Guerra Híbrida?


Figura disponível em: https://globalnews.ca/wp-content/uploads/2015/09/google-refugee-2.jpg?quality=85&strip=all

Os fenômenos de migração de pessoas em busca de melhores condições de vida, bem como fugindo de conflitos, são observados ao longo da história da humanidade.

Porém, começamos a enxergar, a partir do Século XX, por parte de alguns Estados, o uso planejado da migração de refugiados como uma forma de tentar obter vantagens políticas, com o intuito de atingir seus interesses nacionais.

Podemos citar alguns exemplos marcantes:

- Cuba: o regime de Fidel Castro utilizou, em 1965, 1980 e 1994, a migração de refugiados cubanos em massa para conseguir negociar alguns termos de migração, dentre outros temas com os EUA;

- Líbia: o regime do ditador Gaddafi empregou, em 2004 e 2006, a ameaça de envio de migrantes líbios para a União Europeia em troca de negociações sobre as sanções econômicas que estavam sendo impostas ao seu país;

- Rússia: o regime de Putin, em 2015, permitiu uma leva de refugiados do Oriente Médio, principalmente da Síria, para a Noruega, causando uma calamidade humanitária;

- Turquia: o Primeiro-Ministro Erdogan, em 2020, fez ameaças a União Europeia sobre deixar os refugiados sírios adentrarem o território europeu, bem como utilizou esse mesmo expediente durante a problemática com a Grécia.

O Blog mencionou alguns desses casos nos seus artigos:

- "Será o fim do comunismo cubano e o início de um sistema democrático?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/será-o-fim-do-comunismo-cubano-e-o-início-de-um-sistema-democrático, em que afirmamos que o último protesto cubano relevante, que ficou conhecido como Maleconazo, ocorreu em 1994 durante o regime de Fidel Castro, em que uma parte da população, em sua maioria jovens, reclamavam contra a política econômica vigente. Dessa forma, acabou sendo marcado por cidadãos cubanos que descontentes com os rumos de Cuba preferiam abandonar a ilha, o que acabou sendo permitido por Fidel, gerando uma onda migratória de cubanos aos EUA pelo mar, por meio de barcos improvisados e sem segurança. Com isso, em nossa opinião, foi uma "jogada"geopolítica brilhante do líder comunista, a fim de negociar alguns termos com os EUA;

- "A OTAN e a rebeldia turca: o que fazer?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-otan-e-a-rebeldia-turca-o-que-fazer, onde falamos que a OTAN vivencia um debate sobre o que fazer com a Turquia, pois alguns defendem que sejam adotadas sanções, outros alegam que o governo turco deve ser expulso da aliança e uma parcela tem receio de aplicar medidas de punição devido ao receio da saída turca, em virtude de sua importância geopolítica e estratégica para a Organização, onde um dos aspectos a favor da Turquia seria a contenção dos refugiados sírios;

- "Grécia e Turquia: relação tensa. Parte III. Conflito à vista", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/grécia-e-turquia-relação-tensa-parte-iii-conflito-à-vista, que em nossa análise afirmamos que o governo grego tem aumentando as patrulhas na fronteira turca, pois tem receio de que o governo de Ankara utilize os refugiados sírios, liberando a sua passagem para a Grécia, com o intuito de causar problemas no país.

Recentemente observamos, novamente, o uso da migração de refugiados como instrumento não só de chantagem política, mas também de desestabilização de governos, bem como de retaliação contra decisões políticas de um Estado.

Nesse diapasão, citamos os casos de:

- Ceuta: o Marrocos permitiu, neste ano, que imigrantes marroquinos e de outras nacionalidades se dirigissem a Ceuta, pertencente a Espanha, em retaliação à decisão do governo espanhol de permitir com que um dos líderes do movimento de independência do Saara Ocidental (Sahrawi Arab Democratic Republic - SADR (República Árabe Saaraui Democrática, ou República Saaraui)) se tratasse contra COVID-19 em seu país. Sugerimos a leitura do nosso artigo "Israel e Marrocos: quarto acordo de normalização de relações e a guerra esquecida do Saara Ocidental", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/israel-e-marrocos-quarto-acordo-de-normalização-de-relações-e-a-guerra-esquecida-do-saara-ocidental, que explica esse movimento de independência.

- Problemática Bielorrússia x Lituânia e Polônia: desde julho deste ano, o governo do ditador Lukashenko está empregando refugiados iraquianos e sírios para tentar desestabilizar o governo lituano, e possivelmente utilizará o mesmo procedimento contra o governo polonês, devido as sanções econômicas que vem sofrendo e que foram impostas pela União Europeia, em relação ao desvio de um avião civil que continha um opositor ao governo de Minsk, bem como ao apoio que esses Estados têm prestado ao oposicionistas do regime autoritário bielorrusso. Nesse sentido, em nossa análise, o emprego da migração de refugiados como arma política de coerção, chantagem e de desestabilização política faz parte da Guerra Híbrida. Além disso, podemos verificar que tal "manobra", que consideramos infame, é praticada por governos autoritários e antidemocráticos, conforme pudemos observar nos exemplos citados nesse artigo.

É digno de nota que, geralmente, os alvos desses governos autoritários são Estados democráticos. Outro ponto interessante que observamos é que no passado eram praticados por Estados militarmente mais fracos contra os mais fortes, mas com o advento da Guerra Híbrida, isso vem mudando, conforme alguns casos demonstraram: Turquia x Grécia; Bielorrússia x Lituânia etc.

A nossa afirmação pode ser verificada nos gráficos abaixo elaborados pela estudiosa Kelly M. Greenhill, em seu trabalho Weapons of Mass Migration: Forced Displacement, Coercion and Foreign Policy:

Figura disponível em: https://d3i71xaburhd42.cloudfront.net/f7e78b14fc69ba69a7d70601b49b6ab4a9e250af/5-Figure1-1.png
Figura disponível em: https://d3i71xaburhd42.cloudfront.net/f7e78b14fc69ba69a7d70601b49b6ab4a9e250af/250px/5-Figure2-1.png

Na América do Sul, também, em nossa análise acreditamos que a Venezuela, no regime do ditador Maduro, emprega a mesma "artimanha" contra a Colômbia, visando tentar desestabilizar o governo do Estado considerado como o seu maior adversário na região. Convém mencionar, que o emprego dos refugiados como arma politica, nem sempre garante que o Estado "agressor" consiga atingir os seus objetivos, mas com certeza faz com que haja crises humanitárias, e que podem se transformar em "gatilhos" para a radicalização de pessoas para os grupos terroristas extremistas.

O Blog é de opinião de que, infelizmente, alguns Estados autoritários empregam os refugiados como uma tática de Guerra Híbrida, mas que nem sempre conseguem atingir os seus propósitos por meio da coerção, chantagem ou da desestabilização interna contra outro país.

Porém, sempre causarão crises humanitárias, bem como, com esse expediente infame, permitirão com que haja o incremento da oportunidade de recrutamento de pessoas para os grupos extremistas e organizações criminosas.

Dessa forma, o Estado alvo deve estar atento por meio dos seus serviços de inteligência, a fim de evitar um possível sucesso dessa tática híbrida.

Qual a sua opinião? Você acha que o Brasil pode ser impactado por essa tática híbrida? Caso ache que sim, por quem?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossas análises:

Matéria de 03/10/2016:

Matéria de 18/05/2021:

Matéria de 14/07/2021:

Matéria de 10/08/2021:

Matéria de 10/03/2020:

Matéria de 14/01/2018:

Matéria de 20/01/2016:

Matéria de 28/07/2021:


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