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A OTAN e a rebeldia turca: o que fazer?


Figura disponível em: https://www.defence-point.gr/news/wp-content/uploads/2018/08/turkey_nato.jpg

A Turquia vem adotando uma política mais assertiva no cenário internacional, conforme o Blog analisou no artigo: "Ascensão turca: chega de ceder!", disponível em: https://www.atitoxavier.com/post/ascensão-turca-chega-de-ceder , e nas matérias que abordamos sobre a tensão grego-turca, as Guerras na Síria e na Líbia, o conflito entre a Armênia e o Azerbaijão, e a crise com a França. Além disso, vem travando uma disputa com a Rússia por influência geopolítica, e adota uma política ambígua com os EUA, onde podemos verificar que a Turquia realiza um jogo geopolítico com essas duas potências, ora se aproximando e em certos momentos se distanciando.

Nesse cenário de um governo turco mais firme e buscando o protagonismo, observamos que a OTAN tem sofrido grande constrangimento nas crises que envolveram os seus membros, como a Turquia, Grécia e a França, pois não está sabendo como resolver adequadamente essas questões, que foram originadas por iniciativas turcas.

Ademais, não podemos esquecer da compra do sistema A2/AD russo S-400 que fez com que a Turquia fosse retirada do programa de desenvolvimento do avião de combate F-35. Tal atitude turca não a permite com que se integre com os sistemas da OTAN.

O Congresso dos EUA em seu relatório: Turkey: Background and U.S. Relations In Brief, atualizado em setembro de 2020, e disponível no Blog em: https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_eeb5e59c38d24af7b3034c87e392371a.pdf , faz uma análise das relações entre os EUA e a Turquia, bem como da importância turca na OTAN, e tem como objetivo prover subsídios para os congressistas sobre possíveis sanções a serem aplicadas ao governo de Ankara, conforme verificamos num trecho do documento mencionado:

Tensions between Turkey and other NATO members have fueled internal U.S./NATO discussions about the continued use of Turkish bases. As a result of the tensions and questions about the safety and utility of Turkish territory for U.S. and NATO assets, some observers have advocated exploring alternative basing arrangements in the region.8 Some reports suggest that expanded or potentially expanded U.S. military presences in places such as Greece, Cyprus, and Jordan might be connected with concerns about Turkey.9 Several open source media outlets have speculated about whether U.S. tactical nuclear weapons may be based at Incirlik Air Base, and if so, whether U.S. officials might consider taking them out of Turkey.

Na figura a seguir vemos as bases estadunidenses e da OTAN em território turco:

Figura disponível em: https://ichef.bbci.co.uk/news/800/cpsprodpb/11DC0/production/_109325137_turkey_us_nato_bases_640-nc.png

Além do relatório estadunidense, a OTAN vivencia um debate sobre o que fazer com a Turquia, pois alguns defendem que sejam adotadas sanções, outros alegam que o governo turco deve ser expulso da aliança e uma parcela tem receio de aplicar medidas de punição devido ao receio da saída turca, em virtude de sua importância geopolítica e estratégica para a Organização, e que destacamos alguns desses pontos:

  • uso das bases em seu território que permitem operações no Oriente Médio;

  • apoio logístico e cooperação militar no combate ao terrorismo islâmico, como o Estado Islâmico;

  • contenção dos refugiados sírios e servir como um Estado "tampão"contra ameaças provenientes do Oriente Médio, por ser considerado o portão para a Europa, devido a sua localização geográfica;

  • bom mercado consumidor de armamento europeu.

Nesse diapasão foram considerados alguns cenários sobre os possíveis relacionamentos entre a Turquia e a OTAN, onde foram analisados os eventos citados pelo Blog.

O pior cenário seria a saída turca da Organização, com uma possível aliança com a Rússia. Sendo assim, isso explica, em certa medida, o dilema enfrentado pela OTAN sobre o caso turco. Pelo outro lado, o governo de Ankara sabe de sua importância e por isso joga geopoliticamente com os EUA e a OTAN, mas sem cruzar alguns sinais vermelhos, como:

  • se aliar oficialmente à Rússia;

  • confrontar abertamente os outros membros da OTAN. Vemos que sempre que ocorre uma crise, o governo turco faz ameaças, mas em seguida pede uma solução diplomática;

  • não se afasta totalmente dos EUA.

A figura abaixo ilustra os possíveis cenários:

Figura disponível em: https://www.gisreportsonline.com/media/report_images/Turkey2_2ECsa2s.jpg

Alguns analistas informam que devido a Turquia ter a certeza de que, apesar de vários sacrifícios que fez para tentar entrar para a União Europeia, e de que sempre são colocadas novas exigências, ela nunca será aceita como membro, e por isso adota uma atitude de aliado rebelde na OTAN. Dessa forma, se comporta como Unwanted ally, como descrito na figura acima. É digno de nota que desde que a Turquia entrou para a OTAN, em 1952, tem sido bastante alinhado à Aliança, e vital para segurança europeia.

A situação turca é interessante para a Rússia, pois enxerga nessa problemática um enfraquecimento da OTAN, e ter uma maior aproximação com a Turquia torna-se atraente e importante geopoliticamente, e com isso deseja atrai-la para o seu lado ou manter a rebeldia turca junto à Organização. Isso também explica, em certo grau, por que o governo de Moscou não adota uma postura mais contundente na disputa com os turcos por influência (Síria, Líbia e problemática de Nagorno-Karabakh), preferindo sempre o diálogo ao invés da confrontação. Nesse sentido, Putin apesar dos problemas entre os países tenta se aproximar de Erdogan, como abordamos no artigo: "A área de influência russa: o Urso (Rússia) está perdendo o fôlego?", acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/a-área-de-influência-russa-o-urso-rússia-está-perdendo-o-fôlego.

Porém, cabe lembrar que os dois países já mediram forças quando uma aeronave russa foi derrubada pela Turquia quando violou seu espaço aéreo em 2015, e no episódio em que 2 aviões turcos foram abatidos pela Síria (2012) e cerca de 30 de seus soldados foram mortos nos ataques das forças sírias (2020), possivelmente nos dois episódios houve participação russa.

O Blog é de opinião de que a Turquia sabe de sua importância estratégica para a OTAN/EUA e para a Rússia, e com isso vem adotando uma política em que "joga" com ambos os lados, visando atingir os seus objetivos geopolíticos. Outrossim, a sua permanência na Organização ou uma possível aliança com Moscou dependerá das vantagens que poderá conseguir com as suas manobras nesse "xadrez" intrincado.

A saída turca da OTAN será muito desvantajoso para a Aliança, e com isso a sua expulsão, na opinião do Blog, é pouco provável de acontecer.

Dessa forma, acreditamos que deverá ocorrer alguma sanção à Turquia pela OTAN, e que o governo turco continuará sendo um Unwanted ally (aliado indesejado), podendo evoluir para um Partial ally (aliado com restrições, e não muito confiável).

Qual a sua opinião? A Turquia está jogando com a OTAN ou está forçando uma situação de expulsão da Aliança? Quais seriam as consequências de sua saída?

Seguem alguns vídeos para a sua análise:

Matéria de 18/07/2019:

Matéria de 15/10/2019:

Matéria de 09/03/2020:

Matéria de 09/10/2020:

Matéria de 05/10/2020:

Matéria de 07/10/2020:

Matéria de 24/11/2015:

Matéria de 29/02/2020:

Matéria de 07/02/2020:

Matéria de 19/07/2019. Trata-se de uma TV russa, em que o político ultranacionalista e belicoso Vladimir Zhirinovsky dá uma entrevista ao vivo e fala sobre uma possível saída turca da OTAN. É interessante a sua fala, apesar de pouco confiável:

Matéria de 03/04/2019:

Matéria de 07/12/2019:


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