top of page

O conflito da Ucrânia e o futuro da OTAN.


Figura disponível em: https://www.euractiv.com/wp-content/uploads/sites/2/2016/05/NATO-logo-and-map-of-the-Atlantic.jpg

No nosso último artigo "A invasão da Ucrânia: o que pode sinalizar para o mundo?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-invasão-da-ucrânia-o-que-pode-sinalizar-para-o-mundo, efetuamos uma análise sobre as implicações da agressão russa para o sistema internacional, em que afirmamos que poderá entrar para a história como o início do caos do mundo, restando saber quando, e se, entraremos num período de paz e estabilidade mundiais. Além disso, esse episódio reforçou a nossa análise de que estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro, bem como não há, no momento, uma força que seja capaz de estabilizar o sistema internacional. Dessa forma, o futuro torna-se incerto.

Uma das justificativas do governo de Moscou para a referida invasão seria o expansionismo da OTAN, trazendo a Aliança para o interior da zona de influência e de segurança russa. Nesse cenário, a possível entrada da Ucrânia na OTAN não seria tolerada pelos russos, e com isso seria a "linha vermelha" que não deveria ser cruzada.

Figura disponível em: https://api.time.com/wp-content/uploads/2022/02/Nato-expansion-map.jpg

Convém mencionar que a Rússia possui uma história de agressões e de invasões, o que impele os governantes russos a serem muitos zelosos com os assuntos afetos a sua Segurança Nacional, ainda mais que não há barreiras naturais que possam dificultar uma invasão. Nesse sentido, entende-se a importância de se ter uma buffer zone, ou espaço tampão, entre os russos e os seus potenciais adversários.

Dessa forma, tratamos um pouco dessa questão em alguns dos nossos artigos, que seguem resumidos abaixo:


- "Bielorrússia e sua importância geopolítica", de 21 de agosto de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/bielorrússia-e-sua-importância-geopolítica, no qual afirmamos que a Bielorrússia contribui para a segurança da Rússia agindo como um Estado "buffer"contra uma possível agressão ocidental, ou seja, seu território pode ser considerado uma defesa avançada russa, pois possui como vizinhos em sua parte ocidental países membros da OTAN. Serve de ponte entre a Rússia e a Europa Ocidental; e


- "A relação conturbada entre a Rússia e a OTAN - dilema para os EUA?", de 23 de outubro de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-relação-conturbada-entre-a-rússia-e-a-otan-dilema-para-os-eua, em que dissemos que Putin conseguiu colocar a Rússia como um protagonista geopolítico, e revitalizou a capacidade militar do país que estava em decadência. Desde que assumiu a liderança do Estado russo, tem como nítida preocupação evitar a contenção que estava sendo feita pelos ocidentais, e para tanto adotou uma postura assertiva e agressiva, inclusive com intervenções e ameaças de intervenção em territórios de países do seu entorno, como foi com a Georgia e com a Ucrânia, bem como aumentando a sensação de insegurança dos Estados bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), e de outros países da Europa Oriental, como a Polônia. Ademais, Putin tenta criar Estados "tampão" ou bufferzone contra a OTAN, visando incrementar a segurança russa. Além do mais, usa a ameaça do uso da força, caso algum desses Estados "tampão"entre para a OTAN.


Assim, podemos concluir que os russos consideram, atualmente, a OTAN a sua principal ameaça, sendo a recíproca verdadeira. Destarte, o Blog vem acompanhando essa rivalidade que poderá, por algum erro de cálculo de uma das partes, ocasionar um conflito na Europa.

Ademais, uma aliança possibilita fazer frente a um Estado forte em virtude da possibilidade dos Estados-Membros em se especializar em determinadas tarefas ou na produção de determinados meios ou armamentos, em que a combinação de tudo acaba provendo um força de larga escala, coordenando como empregarão as suas forças de forma conjunta. Porém, tudo isso requer tempo. No caso da OTAN podemos exemplificar pelo caso da Holanda e da Bélgica que se especializaram na construção de navios caça-minas o que permite a outros países focarem em outras áreas.

Dessa forma, podemos inferir o motivo da Rússia considerar a OTAN uma ameaça latente.

Nesse diapasão, apresentaremos um resumo de alguns de nossos artigos sobre a OTAN ao leitor, visando ajudar na compreensão de como o atual conflito da Ucrânia poderá afetar o futuro da aliança:


- "Europa uma senhora decadente, época de se reinventar", de 10 de abril de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/europa-uma-senhora-decadente-época-de-se-reinventar, em que afirmamos que a OTAN estava enfrentando uma crise, ainda mais com o corte de recursos por parte dos EUA durante o governo o Trump, deixando o continente preocupado com a possível ameaça russa;


- "A OTAN e a rebeldia turca: o que fazer?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-otan-e-a-rebeldia-turca-o-que-fazer , falamos que a OTAN tem sofrido grande constrangimento nas crises que envolveram os seus membros, como a Turquia, Grécia e a França, pois não está sabendo como resolver adequadamente essas questões, que foram originadas por iniciativas turcas. Dessa forma, estava vivenciando um debate sobre o que fazer com a Turquia, pois alguns defendem que sejam adotadas sanções, outros alegam que o governo turco deve ser expulso da aliança e uma parcela tem receio de aplicar medidas de punição devido ao receio da saída turca, em virtude de sua importância geopolítica e estratégica para a Organização. O pior cenário seria a saída turca da Organização, com uma possível aliança com a Rússia. A situação turca é interessante para a Rússia, pois enxerga nessa problemática um enfraquecimento da OTAN, e ter uma maior aproximação com a Turquia torna-se atraente e importante geopoliticamente. Nesse artigo, abordamos também a disputa geopolítica russo-turca;


- "OTAN 2030 - possíveis impactos geopolíticos no cenário internacional. O Brasil será impactado?", de 09 de dezembro de 2020, pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/otan-2030-possíveis-impactos-geopolíticos-no-cenário-internacional-o-brasil-será-impactado , afirmamos que a Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, que é uma Aliança tanto política quanto militar, é composta, atualmente, por 30 Estados-membros e vem sofrendo muitas críticas e enfrentando os seguintes problemas, que contribuíram para a diminuição do protagonismo dessa Organização no cenário internacional. Ademais, a agressividade russa, por meio dos seus serviços de inteligência, a anexação de territórios (Crimeia e crise com a Georgia) e a implementação de bases na Síria (Mediterrâneo Oriental) e no Sudão (uma das principais linhas de comunicações marítimas para a Europa e com acesso ao Mediterrâneo), a política agressiva chinesa de expansão de sua influência geopolítica, o interesse sino-russo no Ártico e o terrorismo jihadista são considerados ameaças relevantes à segurança europeia e que preocupam demasiadamente a OTAN. Assim, é esperado que a OTAN até 2030, caso consiga manter o tripé da futura postura (fortalecimento militar - coesão política dos seus membros - aumento da presença global), volte a ter o protagonismo do passado, mas sem a grande dependência dos EUA, o que lhe dará uma maior autonomia para enfrentar os problemas e ameaças deste século, podendo fazer com que a Europa possa influir na Nova Ordem Mundial, que está em transformação. Além disso, acreditamos que a OTAN começará a ter uma presença cada vez mais global, visando atender aos interesses geopolíticos da Aliança;


- "A relação conturbada entre a Rússia e a OTAN - dilema para os EUA?", de 25 de outubro de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-relação-conturbada-entre-a-rússia-e-a-otan-dilema-para-os-eua , falamos que no período da Guerra Fria a aliança militar da OTAN e a ex-União Soviética - URSS tinham relações tensas e marcadas por desconfiança. Porém, com o fim desse período houve um pequeno distensionamento da tensão até a assunção de Vladimir Putin ao poder. Esse novo período de relação tensa entre a Rússia e a OTAN ensejou a realização de grandes exercícios militares por parte da aliança, com o intuito de se preparar para uma possível agressão, além dos exercícios serem uma mensagem aos russos. É nítido e notório que o desgaste entre a OTAN e a Rússia aumentou em 2014 com a anexação da Crimeia pelos russos, bem como com a adoção da Guerra Híbrida pelo governo de Moscou contra os países do ocidente pertencentes à aquela aliança. Outrossim, os assassinatos e as tentativas de homicídio de oposicionistas pela agência de inteligência GRU, em território europeu, potencializaram o desgaste. Nesse sentido, a OTAN vem afirmando que a Rússia é a sua principal ameaça, sendo a China encarada como um desafio. Em 07 de outubro, a OTAN expulsou 8 diplomatas russos que faziam parte da missão da Rússia junto à aliança sob a alegação de estarem realizando espionagem, bem como apoiando operações especiais em solo europeu. Tais alegações teriam sido provenientes de fontes de inteligência. Essa medida gerou uma resposta mais enérgica do governo de Moscou, onde suspendeu a missão diplomática da OTAN em território russo, o que na prática significa que desde 01 de novembro não há um canal formal de comunicação entre ambos para resolver ou esclarecer possíveis problemas. Assim, caso haja alguma necessidade de comunicação deverá ser utilizada a embaixada da Bélgica em Moscou. Após o anúncio da retaliação russa, a OTAN, em reunião de 21 de outubro de 2021, discutiu a urgência da elaboração de uma estratégia para fazer frente a uma possível agressão dos russos, principalmente nas regiões do Báltico e do Mar Negro, em qualquer ambiente operacional, inclusive o cibernético. Nesse sentido, a Rússia e a OTAN chegaram ao nível mais baixo de suas relações desde o período da Guerra Fria entre os EUA e a ex-URSS.


No quadro apresentado acima, podemos concluir que tanto a Rússia quanto a OTAN consideram um ao outro como as principais ameaças à sua segurança. Daí, vermos as tentativas de Putin em tentar dividir a coesão da aliança sempre que possível.

Porém, com o aumento da ameaça russa à Europa Ocidental, potencializada pela agressão à Ucrânia, vemos que a Aliança tem ficado mais coesa, tendo a possibilidade de receber novos membros como a Finlândia e a Suécia, após as recentes ameaças russas a esses países caso ingressem na OTAN.

Tal movimento, caso aconteça, poderá atrair outros, como Irlanda, Chipre e Malta.

Ademais, acreditamos que os países da aliança aumentarão os seus investimentos em defesa, ainda mais, chegando aos 2% do PIB.

No gráfico abaixo, vemos o aumento dos investimentos militares por parte dos Estados-Membros da OTAN.

Figura disponível em: https://img-9gag-fun.9cache.com/photo/amgvO6d_460s.jpg

A recente invasão russa à Ucrânia marca, em nossa visão, uma grave fratura no relacionamento já tenso entre a OTAN e a Rússia, que estava, como vimos acima, no nível mais baixo desde o período da Guerra Fria.

Assim, acreditamos que não deverá haver qualquer reaproximação russa com a OTAN, enquanto Putin estiver no poder, ainda mais por não ter mais Angela Merkel na liderança da Alemanha. É digno de nota que Merkel nasceu na Alemanha Oriental, e com isso conseguia dialogar com Putin, pois conhecia o pensamento, a preocupação e a história russa.

Nesse sentido, nos parece que a OTAN, que estava enfraquecida e tentava reaver a sua força, credibilidade e protagonismo do passado, ressurge como uma aliança coesa e forte, tentando fazer com que a Europa volte a ser um Polo de Poder. Com isso, a invasão russa permitiu com que os problemas e vulnerabilidades apontados no nosso artigo "Europa uma senhora decadente, época de se reinventar", de 10 de abril de 2020, comecem a ser solucionados.

No documento "The future of NATO" , de novembro de 2021, elaborado pela NATO Defense College, que pode acessado no Blog pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_cf6e77f99af84cbea0dedf145641a2bb.pdf, nos apresenta cinco cenários possíveis de ocorrer em relação a política da OTAN.

Nesse sentido, o cenário 2 apresentado no documento desponta como o mais provável no momento. Ele é conhecido como Renewed focus on collective defence, tendo como foco a defesa coletiva, como o próprio nome diz, sendo a sua origem a ameaça russa. Assim sendo, a invasão russa ratifica esse cenário, bem como as nossas análises anteriores sobre o futuro da OTAN.

O Blog é de opinião que a invasão da Ucrânia propiciou o ressurgimento de uma OTAN coesa e com força para tentar frear as possíveis investidas russas contra Estados europeus neutros, e que a Aliança aumentará de tamanho devido à ameaça russa.

Outrossim, a análise deste artigo reforça, mais uma vez, a nossa análise de que estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro, bem como não há, no momento, uma força que seja capaz de estabilizar o sistema internacional.

Nesse cenário, vemos, infelizmente, que aumenta a probabilidade de ocorrência de um conflito de alta intensidade.

Dessa forma, somente a construção de laços de confiança entre os russos e os ocidentais é que será possível retomar o período de paz e estabilidade na Europa, evitando uma nova guerra fria e uma escalada da tensão para o conflito.

Assim mantemos a nossa opinião de que o uso dos Jogos de Guerra se mostra mais importante do que nunca no atual momento em que estamos passando.

Qual a sua opinião?

bottom of page