Em virtude da pouca bibliografia em nosso país sobre o tema Jogos de Guerra - JG, o Blog intenciona despertar a curiosidade do leitor para um assunto relevante e que a cada ano vem ganhando destaque no cenário internacional, onde algumas Universidades estrangeiras, bem como algumas forças armadas internacionais possuem cursos específicos para a formação de profissionais nessa área de atuação.
Nesse sentido, escrevemos dois artigos sobre isso, e que resumidamente mostraremos a seguir:
- "Jogos de Guerra: porque precisamos criar a cultura de seu uso?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/jogos-de-guerra-porque-precisamos-criar-a-cultura-de-seu-uso, onde afirmamos que os JG são uma metodologia multidisciplinar em que cenários (fictícios, hipotéticos ou não) podem ser simulados, visando analisar possíveis desdobramentos, deficiências e conflitos de interesses, bem como testar planejamentos, e que ao seu término poderão antecipar outros cenários que deverão ser investigados ou apresentar tendências auxiliando no processo decisório do mundo real. Tal metodologia pode ser empregada em problemas civis ou militares. Ademais, falamos que além de ciência, os JG são, também, uma arte, porque na formulação dos cenários requer experiência e uma certa dose de"imaginação racional"relacionada ao problema que se deseja investigar ou analisar, bem como a um planejamento que se queira testar. Dessa forma, em nossa visão, o que realmente importa é o teste do processo decisório, onde ao final todos os participantes evoluem ao término do Jogo de Guerra. Outrossim, o nosso país está muito aquém em relação as principais potências, pois não emprega os JG como uma ferramenta de aprimoramento em setores importantes para o nosso Estado;
- "A Inteligência Epidemiológica e os Jogos de Guerra como instrumentos contra as ameaças pandêmicas", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-inteligência-epidemiológica-e-os-jogos-de-guerra-como-instrumentos-contra-as-ameaças-pandêmicas, em que falamos que a Marinha do Brasil possui, na Escola de Guerra Naval, o Centro de Jogos de Guerra- CJG que é responsável por conduzir JG e suas variantes (Jogos de Segurança e de Crise) tanto para o meio militar quanto para o civil, sendo um setor análogo ao que o NWC possui, mas com uma estrutura muito menor, e que poderia conduzir um JG referente a cenários de ameaças pandêmicas.
Dessa forma, podemos ver que os JG não possuem a pretensão de dar respostas corretas a um problema, ou seja, não se destinam a predizer, provar ou validar algo, mas de investigar ou analisar um problema ou um planejamento, com o intuito de reduzir surpresas.
Outrossim, permite estudar o motivo de um planejamento ter dado errado, visando responder a indagação: "porque perdemos?" ou "em que erramos?", possibilitando, assim, um refinamento maior do nosso plano a cada vez que o "jogamos". Por isso, que ao final do JG aperfeiçoamos a nossa capacidade de tomar decisões, o que, em nossa compreensão, é o cerne de um JG.
Nesse sentido, podemos dizer que o ideal seria continuar num "looping" testar - corrigir e adaptar - retestar até que tenhamos uma maior confiança de que o aparecimento de possíveis surpresas será minimizado.
Sendo assim, surge a importância de não "lutar" contra o cenário criado para o JG, pois nesse momento é permitido e recomendado a pensar "fora da caixa", mas lógico dentro do que o Blog chamou de "imaginação racional". Isso é importante, pois permitirá aos participantes do JG tomar decisões para uma situação não prevista e que possa ocorrer no futuro.
Uma grande vantagem dos JG é que podemos analisar decisões mais arriscadas, e que depois de analisarmos as possíveis consequências, o que no mundo real nem sempre é possível, verificarmos, sem a perda de vidas humanas ou materiais, se na prática seriam decisões aceitáveis.
Nesse quadro apresentado é que podemos inferir o quanto os JG são uma metodologia poderosa tanto para os assuntos de Defesa, quanto para qualquer outro, inclusive para as empresas, pois permite a um grupo responsável por tomar decisões a fazê-lo cada vez melhor, perante uma situação que possa se contrapor ao nossos objetivos.
Ademais, alguns podem se questionar se para um JG faz-se necessário possuir softwares de última geração, e a nossa resposta é negativo! (com uma grande exclamação). Porque o JG pode ser realizado por meio de seminário, de um jogo tipo tabuleiro, bem como por um software, com isso verificamos que todos esses recursos são instrumentos que contribuem para os JG.
Nesse diapasão, começamos a entender o motivo dos JG também serem uma arte, pois para tudo que mencionamos acima há uma necessidade premente de termos pessoal com grande experiência em conduzir JG, bem como no assunto que se deseja analisar, investigar ou testar, visando criar cenários que motivem e desafiem os participantes em seu processo decisório, além de manter a todos motivados no problema. Assim, vemos o quão é critica a montagem do cenário de um JG, e dos desafios que serão propostos. Além disso, é interessante que os que farão o papel de adversário, chamados de red cell ou red players, tenham uma grande liberdade de ação para tentar extrair o máximo dos que estão tendo o processo decisório aperfeiçoado, chamados de blue cell ou blue players.
Nesse sentido, concluímos que o objetivo fundamental dos JG é focar no indivíduo, contribuindo para a melhoria de sua performance em sua área, e aperfeiçoando, principalmente, a sua capacidade de decidir.
As figuras abaixo nos dão uma ideia de forma genérica dos JG, mais direcionada a área de Defesa:
O Blog é de opinião de que os JG são uma metodologia relevante para o aprimoramento de um grupo de indivíduos responsáveis por tomar decisões importantes, tanto no meio militar quanto no meio civil. Sendo assim, acreditamos que é primordial a constante participação em JG de qualquer Estado-Maior ou de grupos de diversos níveis de decisão de órgãos públicos ou privados, visando garantir o aprimoramento do processo decisório, bem como para incrementar a performance de cada indivíduo participante.
Além disso, conforme vimos no artigo "Jogos de Guerra: porque precisamos criar a cultura de seu uso?" que os mais eficientes e eficazes em realizar Jogos de Guerra conseguem enfrentar melhor os problemas e os seus adversários, seja no ambiente militar, político ou privado, o que explica porque os Estados que mais os usam, por coincidência, são as potências mais relevantes no cenário internacional.
Qual a sua opinião sobre o tema?
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