top of page

Jogos de Guerra: porque precisamos criar a cultura de seu uso?


Figura disponível em: https://www.csiac.org/wp-content/uploads/2016/12/3-1024x768.jpg

Quando nos referirmos a Jogos de Guerra é normal e esperado que um leitor que não tenha tido a oportunidade de se aprofundar no assunto, ou que não seja familiarizado com a área de Defesa, confunda-os com os jogos de computadores comerciais. Para tanto, emprega-se o termo wargame, visando diferenciar de war game.

Nesse sentido, tentaremos dar um ideia resumida ao leitor sobre o que seria Jogo de Guerra, relacionado ao termo wargame. É importante deixar claro que o artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas tenta despertar a curiosidade sobre o tema que vem crescendo de importância no mundo.

Dessa forma, uma das definições mais aceitas sobre wargame é a de Peter Perla, que é um estudioso do assunto, respeitado e usado como referência em quase todos os Centros de Guerra no mundo, em seu livro The Art of Wargaming: A guide for Professionals and Hobbyists:

A more restricted and more useful definition is that a wargame is a warfare model or simulation whose operation does not involve the activities of actual military forces, and whose sequence of events affects and is, in turn, affected by the decisions made by players representing the opposing sides. In the end, a wargame is an exercise in human interaction, and the interplay of human decisions and the simulated outcomes of those decisions makes it impossible for two games to be the same. As a result of all those factors, wargaming is not a panacea for learning about or solving the problems of warfare. Its forte is the exploration of the role and potential effects of human decisions; other tools are better suited to the investigation of other more technical aspects of reality.

Porém, existe uma outra definição atualizada por Perla, e que muitos especialistas em Jogos de Guerra têm preferido:

Adversarial by nature, wargaming is a representation of military activities, using rules, data, and procedures, not involving actual military forces, and in which the flow of events is affected by, and in turn affects, decisions made during the course of those events by players acting for the actors, factions, factors and frictions pertinent to those military activities.’

Sendo assim, vemos outro termo um pouco conhecido, mas que é fundamental para podermos prosseguir no entendimento, trata-se do wargaming, que é conceituado como war considered using gaming mechanics, que no caso seria um conjunto formado por regras, cenários, processos, jogadores e juízes, incertezas, experiências pessoais, dúvidas, dentre outros fatores. Além do mencionado, existe outra definição para o termo: the action of engaging in a campaign or course of action using the strategies of a military exercise.

Então vemos que wargaming é o processo de criar o wargame. Para tanto, existem fases ou etapas que devem ser observadas até o término do Jogo de Guerra, com a sua respectiva análise.

Nesse sentido, o Blog em seu artigo "A Inteligência Epidemiológica e os Jogos de Guerra como instrumentos contra as ameaças pandêmicas", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-inteligência-epidemiológica-e-os-jogos-de-guerra-como-instrumentos-contra-as-ameaças-pandêmicas, abordamos que o Jogo de Guerra - JG pode ser considerado, de forma muito resumida, como uma metodologia multidisciplinar em que cenários (fictícios, hipotéticos ou não) podem ser simulados, visando analisar possíveis desdobramentos, deficiências e conflitos de interesses, bem como testar planejamentos, e que ao seu término poderá antecipar outros cenários que deverão ser investigados ou apresentar tendências auxiliando no processo decisório do mundo real. Tal metodologia pode ser empregada em problemas civis ou militares. Além disso, demonstramos a sua aplicabilidade no enfrentamento de qualquer ameaça pandêmica.

Porém, acreditamos que podemos melhorar a nossa definição acima acrescentando que o JG é uma ciência, pois é uma metodologia multidisciplinar, mas também uma arte, porque na formulação dos cenários requer experiência e uma certa dose de "imaginação racional" relacionada ao problema que se deseja investigar ou analisar, bem como a um planejamento que se queira testar.

Convém mencionar que o que realmente importa, em nossa opinião, é o teste do processo decisório, onde ao final todos os participantes evoluem ao término do Jogo de Guerra.

Dessa forma, a figura abaixo retrata bem a dinâmica do Jogo de Guerra:


Figura disponível em: https://www.cna.org/CNA_files/centers/CNA/ow/wargaming/DesignAnalysisGraphic-03.png

Ao pesquisarmos na internet sobre o emprego dos JG, verificamos que os Estados que mais os usam, por coincidência, são as potências mais relevantes no cenário internacional, como os EUA, China, Reino Unido, França, Rússia, Alemanha. Outrossim, a OTAN também faz uso dos JG, visando incrementar as suas doutrinas, bem como para prever as suas vulnerabilidades.

Ademais, os JG se prestam também na contribuição de formulação de políticas públicas, política externa, segurança pública, resposta a catástrofes, aperfeiçoamento do setor de Defesa, inclusive melhorando o correto dimensionamento das suas Forças Armadas, dentre outras possibilidades.

É digno de nota, que os JG podem ser usados, também, no setor privado, em que as empresas poderiam se preparar melhor, por meio de estratégias de competição devidamente testadas para o mercado internacional.

Nesse quadro, podemos concluir que os mais eficientes e eficazes em realizar Jogos de Guerra conseguem enfrentar melhor os problemas e os seus adversários, seja no ambiente militar, politico ou privado. Um exemplo prático foi a campanha estadunidense no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, onde por meio de jogos de Guerra os EUA conseguiram prever muita coisa em relação aos japoneses, exceto o emprego dos kamikazes. Para tanto, faz-se necessário desenvolver uma mentalidade ou cultura de Jogos de Guerra.

Para os que estiverem interessados em se aprofundar um pouco mais no tema, recomendamos a leitura da publicação do Naval War College, intitulada War Gamer's Handbook - A Guide for Professional War Gamers, acessível no Blog no link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_095bbda00adf41928065602f746ccc1d.pdf. A publicação, em que pese estar em inglês, é de fácil leitura e permitirá ao leitor ter uma boa ideia de como se processa um Jogo de Guerra (wargame).

Além desse, recomendamos o documento A Compendium of Wargaming Terms, também da mesma instituição, que explicar os principais termos do ambiente de Jogos de Guerra, dentre eles wargaming. Pode ser acessado no Blog pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_4d7476c5cb674c128d83baaf77bfe24e.pdf.

No nosso país, a Marinha do Brasil possui, na Escola de Guerra Naval - EGN, o Centro de Jogos de Guerra, e que atende a Força, bem como a órgãos extra-Marinha, inclusive participando de JG com instituições estrangeiras. Ressalta-se que a Marinha do Brasil foi a pioneira nos JG no Brasil, em 1914, na recém criada EGN.

O Blog é de opinião de que apesar de vários países estarem usando os JG, principalmente no setor de Defesa, o nosso país está muito aquém, pois não os emprega como uma ferramenta de aprimoramento em setores importantes para o nosso Estado.

Nesse cenário, é fundamental o apoio da área de educação, por meio de desenvolvimento de cursos universitários, visando criar, aumentar e aperfeiçoar os estudiosos brasileiros, fomentando, assim, o desenvolvimento de uma mentalidade do uso dos Jogos de Guerra no Brasil.

É lógico que os Jogos de Guerra não resolvem todos os problemas, e nem se destinam a isso, mas mostram um caminho.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para a nossa análise:

Matéria de 11/07/2018:

Matéria de 05/05/2018:

Matéria de 24/10/2016:

Matéria de 16/03/2015:


bottom of page