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A influência das ORCRIM nos Estados da América Latina - Parte II: Ameaça Transnacional do Trem de Aragua: Implicações para a Segurança Nacional Brasileira.


O Blog acompanha com atenção o impacto das Organizações Criminosas na Segurança e Defesa dos Estados da América do Sul, incluindo no nosso país. Nesse sentido, tem apresentado vários artigos que podem ser acessados na Seção Brasil, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/brasil. Dentre os artigos destacamos:

  • "A Mineração Ilegal na Amazônia e a ameaça a soberania: disputas entre ELN/FARC e ORCRIM brasileiras", de 04 de junho de 2021, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-mineração-ilegal-na-amazônia-e-a-ameaça-a-soberania-disputas-entre-eln-farc-e-orcrim-brasileiras, que dentre várias análises que apresentamos, dissemos que devido ao descaso do poder político ao longo dos anos, por todos os governos, combinado com a dificuldade de patrulhamento e de fiscalização do espaço amazônico, as ORCRIM se transformaram em ameaça a soberania dos países da região, e que suas ações criminosas transnacionais podem originar tensões entre Estados vizinhos. Dessa forma, afirmamos que era fundamental o estabelecimento de parcerias estatais para a devida repressão e controle. Ademais, faz-se premente que o Estado brasileiro trate com seriedade a questão, pois os nossos sentinelas avançados, que são as comunidades indígenas, que possuem sentimento de orgulho e de pertencimento ao Brasil, ficarão a mercê dos grupos fortemente armados. Além disso, o devido combate a essa atividade controlada pelas ORCRIM contribuiria para evitar o desmatamento na Amazônia, bem como evitaria o desgaste internacional. Todavia é fundamental desenvolver a região para evitar a captação de voluntários para as ORCRIM. É preciso que a sociedade saiba e acompanhe o que acontece na região norte do país e apoie as forças envolvidas na proteção das nossas riquezas e do nosso pessoal que lá habita, pois o tema é muito pouco debatido nas esferas do poder brasileiro.

  • "A influência das ORCRIM nos Estados da América Latina, inclusive no Brasil", de 12 de agosto de 2023, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-influência-das-orcrim-nos-estados-da-américa-latina-inclusive-no-brasil, em que afirmamos que o Poder Político brasileiro tem que considerar as ORCRIM como uma ameaça a soberania nacional e, assim, elaborar uma estratégia para evitar a "mexicanização da criminalidade" no território nacional.


Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo principal analisar a origem, expansão e modus operandi do Trem de Aragua, com ênfase em sua atuação no Brasil e nas possíveis interações com organizações criminosas brasileiras.


1 - Introdução

A crescente complexidade das organizações criminosas transnacionais exige um olhar aprofundado por parte dos estudiosos da inteligência e da geopolítica, especialmente quando tais entidades ameaçam diretamente a segurança interna e a soberania de Estados democráticos. Nesse contexto, a expansão do grupo venezuelano denominado Trem de Aragua para o território brasileiro representa um novo desafio para as autoridades e uma questão de alto interesse para os analistas de inteligência e de segurança nacional.

Criado inicialmente no sistema penitenciário da Venezuela, esse grupo consolidou-se como uma facção criminosa sofisticada, multifuncional e articulada em diversos países da América Latina, como: Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Costa Rica e Brasil, e, mais recentemente, em territórios como os EUA. Sua presença na região Norte do Brasil associada à possibilidade de cooperação com facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC), acende um alerta quanto à consolidação de redes criminosas transfronteiriças no continente.


2 – Origens do Trem da Aragua

2.1 Formação no Sistema Carcerário Venezuelano

O Trem de Aragua ("El Tren de Aragua", em espanhol) surgiu em meados dos anos 2000, dentro do sistema penitenciário venezuelano, mais precisamente no presídio de Tocorón, no estado de Aragua, que dista 60 km de Caracas, se consolidando em 2015 como uma Organização Criminosa – OrCrim proeminente na Venezuela.

Inicialmente, o grupo formava-se como uma espécie de milícia carcerária que oferecia "proteção" a outros detentos, cobrando taxas e organizando atividades criminosas tanto dentro quanto fora do presídio. O ambiente prisional, marcado por uma ausência sistemática do controle estatal e pela delegação de poder aos chamados "pranes" (lideranças internas), foi o terreno ideal para o crescimento do grupo.


2.2 O Papel de Héctor Rustherford Guerrero Flores

A figura central na estruturação do Trem de Aragua é Héctor Rustherford Guerrero Flores, conhecido como "Niño Guerrero". Mesmo condenado por crimes como homicídio e roubo, Guerrero passou a controlar não apenas a dinâmica interna do presídio de Tocorón, mas também a coordenação externa das atividades do grupo. Segundo investigações da imprensa venezuelana e internacional, o presídio funcionava como uma verdadeira base operacional do grupo, com instalações de luxo, boate, piscina e zonas de "administração" do crime.


2.3 Estrutura Organizacional Inicial

O modelo de governança criminal do Trem de Aragua incorporou características tanto de facções carcerárias quanto de cartéis e milícias. A estrutura organizacional inicial era segmentada em células operacionais dedicadas a diversas atividades: tráfico de drogas, extorsão, contrabando, sequestros, controle do garimpo ilegal e roubo de veículos. Com o tempo, a organização passou a recrutar membros fora do sistema prisional e expandir sua atuação para regiões vizinhas, especialmente em contextos de fragilidade institucional e pobreza extrema.


3 – Modus Operandi e Fontes de Renda do Trem de Aragua

3.1 Diversificação Criminal e Expansão Geográfica

O Trem de Aragua caracteriza-se por sua capacidade de adaptação e expansão geográfica. Uma das principais estratégias de consolidação da facção em outros países é a replicação de seu modelo organizacional, com líderes regionais que respondem a uma cúpula transnacional. No Brasil, foram identificadas células operacionais em estados como Roraima e Amazonas. Ademais, existem suspeitas de estarem atuando em São Paulo, Santa Catarina e Paraná.


3.2 Fontes de Renda Ilícitas

As principais fontes de renda do Trem de Aragua incluem:

• Tráfico de drogas: com forte inserção nas rotas amazônicas e acesso a mercados internacionais, a facção atua como transportadora e vendedora.

• Exploração do garimpo ilegal: especialmente em áreas de fronteira amazônica.

• Extorsão e sequestros: práticas disseminadas no modelo venezuelano e replicadas no Brasil.

• Tráfico de pessoas e exploração sexual: conforme revelado em investigações no Brasil e nos EUA.


4 - Presença no Brasil e Conexões com Facções Locais

4.1 Cruzando a Fronteira

O avanço do Trem de Aragua em território brasileiro deu-se, em parte, pelo colapso institucional da Venezuela e a migração massiva de cidadãos, muitos dos quais foram cooptados ou coagidos pela facção. Roraima e Amazonas tornaram-se portas de entrada, com registros de ações violentas atribuídas ao grupo, especialmente em Boa Vista e Manaus.

4.2 Aproximações com o PCC

Há evidências de relações pragmáticas entre o Trem de Aragua e OrCrim brasileiras, notadamente o Primeiro Comando da Capital - PCC. Segundo reportagem da Agência Pública (2024), disponível em https://apublica.org/2024/05/mortes-e-parceria-com-o-pcc-como-faccao-venezuelana-trem-de-aragua-ganha-espaco-no-brasil/, pesquisadores teriam identificado articulações logísticas e alianças táticas com o PCC, inclusive em unidades prisionais brasileiras.


5 – Implicações Geopolíticas e Desafios à Segurança Nacional

5.1 Ameaça à Soberania e à Segurança Pública

A atuação do Trem de Aragua em território nacional extrapola a lógica de segurança pública e passa a ser uma questão de soberania nacional. A capacidade da OrCrim venezuelana de controlar territórios, arrecadar impostos ilegais e cooptar agentes locais representa uma corrosão do monopólio estatal da força.


5.2 Riscos nas Regiões de Fronteira

A presença do grupo em áreas de fronteira agrava problemas históricos de vigilância e presença estatal. A combinação de rotas fluviais, densidade florestal e ausência do Estado facilita o tráfico e a mobilidade dos criminosos, além de dificultar a repressão.


5.3 Desafios para a Cooperação Internacional

A resposta ao avanço do Trem de Aragua demanda uma coordenação internacional entre forças policiais, agências de inteligência e mecanismos de integração regional. A troca de dados, a harmonização legislativa e o fortalecimento das capacidades locais de vigilância e repressão são medidas urgentes.


6 – Considerações Finais e Perspectivas Futuras

6.1 Cenários Prováveis

Três cenários podem ser vislumbrados para os próximos anos:

• Crescimento contínuo: caso o grupo consolide alianças locais e se infiltre em instituições públicas.

• Conflito entre facções: com aumento da violência nas periferias urbanas e nos presídios.

• Desarticulação parcial: por meio de ações coordenadas, repressão eficaz e políticas públicas estruturantes.


6.2 Recomendações para Política Pública

• Fortalecer a inteligência estratégica sobre o grupo e suas conexões.

• Reforçar o controle fronteiriço, com tecnologia e presença do Estado.

• Integrar forças de segurança pública com os sistemas de defesa nacional.

• Promover a cooperação jurídica e policial com países vizinhos.


7 - Conclusão

A consolidação do Trem da Aregua como OrCrim transnacional com presença no Brasil evidencia o grau de sofisticação das redes criminosas contemporâneas. A superação desse desafio exige uma abordagem que combine repressão qualificada, prevenção social e coordenação internacional. Dessa forma, ignorar a gravidade da ameaça pode comprometer a estabilidade interna, a autoridade estatal e a segurança da população.

Portanto, este artigo ratifica e reforça as nossas análises e conclusões contidas nos artigos citados no início deste texto.


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Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 23/01/2025:

Matéria de 26/09/2023:

Matéria de 23/12/2024:







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