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A Geopolítica Revisionista de Trump no Oriente Médio: Síria, Irã e Arábia Saudita.


Introdução

A política externa de Donald Trump para o Oriente Médio durante sua primeira presidência (2017-2021) e suas declarações recentes (2025), como atual presidente, sobre a região revelam uma abordagem marcadamente revisionista, divergindo em alguns aspectos das estratégias tradicionais dos EUA. Com um foco declarado em "America First" e um ceticismo em relação a intervenções custosas e a construção de nações, a administração Trump buscou reconfigurar as alianças e rivalidades regionais, com implicações significativas para a Síria, o Irã e a relação com a Arábia Saudita. Ademais, Trump sempre buscou acordos financeiros vantajosos para os EUA.

Dessa forma, analisaremos a seguir os contornos dessa política em relação a esses três eixos fundamentais, que coincidentemente têm importância geopolítica para Israel.


1 - A Evolução da Posição em Relação ao Governo Sírio

A postura da primeira administração Trump em relação ao governo de Bashar al-Assad (2000 - 2024) na Síria foi inicialmente ambivalente e, posteriormente, parece ter evoluído para uma pragmática (e controversa) aceitação das realidades no terreno. Após momentos de retórica dura e ataques aéreos limitados em resposta ao possível uso de armas químicas pelo regime, a tônica geral pendia para uma redução da presença militar dos EUA e um distanciamento do objetivo de remover Assad do poder.

Mais recentemente, em sua segunda presidência, declarações atribuídas a Donald Trump e notícias sobre possíveis futuras ações indicam uma mudança ainda mais drástica, com a consideração do levantamento de sanções e até mesmo a normalização de relações com o governo sírio, agora liderado interinamente por Ahmed al-Sharaa, também conhecido por Abu Mohammad al-Julani. Convém mencionar que ele foi ex-comandante do grupo Frente Nusra, que foi filiado ao Estado Islâmico e depois a Al Qaeda, bem como posteriormente contribuiu para a formação do grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Atualmente o seu governo tem sido marcado por perseguições à cristãos e outras minorias muçulmanas em território sírio.

Logo, em nossa opinião, a atual postura estadunidense para com o atual governo sírio se mostra extremamente pragmática e totalmente fora dos padrões estadunidenses, após a era geopolítica da Guerra ao Terror (2001).

Essa potencial guinada sinaliza um alinhamento com a perspectiva de alguns países árabes, notadamente a Arábia Saudita, que buscam reintegrar a Síria ao cenário regional, vendo o novo governo como um possível contraponto à influência iraniana, ainda mais que pretende que o atual governo sírio participe dos Acordos de Abraão (restabelecimento das relações de países muçulmanos com Israel).

Recomendamos a leitura dos artigos abaixo que contribuem para uma melhor contextualização desse cenário, bem como para o leitor poder se situar melhor na complexidade da região:

Assim, essa abordagem contrasta fortemente com a política de isolamento e pressão mantida por administrações anteriores, e reflete um desejo, em nossa visão, de desvencilhar os EUA do complexo conflito sírio e focar em outros interesses percebidos como mais prementes.


2 - A Ruptura com o Acordo Nuclear Iraniano e a Política de "Pressão Máxima"

Um dos pilares da política de Trump para o Oriente Médio foi sua firme oposição ao Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA), o acordo nuclear com o Irã negociado pela administração Obama. Considerado por Trump como fundamentalmente falho e insuficiente para conter as ambições nucleares iranianas e suas atividades desestabilizadoras na região, os EUA retiraram-se unilateralmente do acordo em 2018.

Em substituição, a administração Trump, em seu primeiro governo, implementou uma política de "pressão máxima", que visava estrangular economicamente o Irã através da reimposição e expansão de sanções severas. O objetivo declarado era forçar Teerã a negociar um novo acordo mais abrangente, que incluísse não apenas seu programa nuclear, mas também seu programa de mísseis balísticos e seu apoio a grupos proxies na região, notadamente o Hezbollah e o Hamas. Essa política gerou um aumento significativo das tensões no Golfo Pérsico, com incidentes envolvendo petroleiros, drones e ataques a instalações petrolíferas. As negociações diretas com o Irã, embora almejadas por Trump em certos momentos, não frutificaram de forma conclusiva durante seu mandato.

As recentes notícias sobre possíveis novas negociações, quatro até momento em seu segundo governo, indicam uma persistência na busca por um entendimento, mas os termos e a viabilidade de tal acordo permanecem incertos, inclusive a ameaça do uso da força militar contra os iranianos.

Sugerimos a leitura do nosso artigo "O Irã conseguirá ser uma potência nuclear?", de 31 de maio de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-irã-conseguirá-ser-uma-potência-nuclear.


3 - A Consolidação da Aproximação com a Arábia Saudita

A relação com a Arábia Saudita sempre foi um dos pilares da política de Donald Trump para o Oriente Médio, caracterizada por uma notável aproximação e fortalecimento dos laços bilaterais. Trump cultivou uma relação pessoal forte com o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman - MBS e priorizou os interesses econômicos e de segurança na relação com os sauditas.

Essa maior aproximação se manifestou em vultosos acordos de venda de armamentos, no apoio (ainda que com ressalvas em alguns momentos) à intervenção saudita no Iêmen e em um alinhamento estratégico contra o Irã. A Arábia Saudita, por sua vez, viu na administração Trump um parceiro disposto a endossar sua postura regional e a relativizar preocupações com questões de direitos humanos. A administração Trump também expressou forte desejo de ver a Arábia Saudita juntar-se aos Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre Israel e alguns países árabes. Embora esse objetivo não tenha sido plenamente alcançado durante seu primeiro mandato, a base para uma potencial normalização foi fortalecida, com a Arábia Saudita demonstrando maior abertura a essa possibilidade, ainda que atrelando-a à criação de um Estado palestino, o que achamos que não acontecerá.

É digno de nota que MBS solicitou ao atual governo dos EUA o levantamento de sanções e até mesmo a normalização de relações com o governo sírio, e que abordamos no item 1, o que restabeleceria a imagem dos sauditas junto ao mundo muçulmano sunita, que estava enfraquecida, bem como contribuiria para a redução da influência iraniana. É importante relembrar que sauditas e iranianos possuem uma rivalidade criada a partir da revolução islâmica iraniana (1979) com o aiatolá Ruhollah Khomeini. Ademais, a Turquia, que vem tentando se consolidar como uma liderança muçulmana sunita e com isso rivalizando com os sauditas, também intercedeu pela Síria junto aos EUA.

Recomendamos a leitura dos artigos:


Conclusão

A política de Donald Trump para o Oriente Médio foi, em muitos aspectos, uma ruptura com as abordagens de seus predecessores. Caracterizada por um forte pragmatismo, um foco em acordos bilaterais e uma menor ênfase na promoção da democracia e dos direitos humanos, essa política vem gerando tanto elogios quanto críticas.

Em relação à Síria, a aparente disposição em engajar com o governo estabelecido, cujo líder é um ex-terrorista, sinaliza uma aceitação da realidade pós-conflito, embora levante questões sobre o futuro do processo político e a responsabilização por crimes de guerra. No que tange ao Irã, a saída do JCPOA e a política de pressão máxima aumentaram a instabilidade regional, sem garantir, até o momento, um acordo substituto que aborde todas as preocupações dos EUA e seus aliados, e melhore a instabilidade regional. Já a aproximação com a Arábia Saudita fortaleceu uma aliança tradicional, mas também gerou controvérsias devido ao histórico de direitos humanos do reino saudita e seu papel em conflitos regionais.

Em suma, a política de Trump no Oriente Médio pode ser vista como um esforço para recalibrar o papel dos EUA na região, priorizando interesses percebidos como diretos e transacionais. O legado e as consequências a longo prazo dessa abordagem revisionista para a estabilidade e o equilíbrio de poder no Oriente Médio continuarão a ser objeto de intenso debate e análise no campo da geopolítica.

Portanto, ao vermos as análises apresentadas nos artigos recomendados e na postura revisionista da política externa de Trump para o Oriente Médio, podemos verificar quão complexa e volátil é essa região, pois existem vários atores e dinâmicas geopolíticas envolvidas, tornando uma previsão geopolítica para o Oriente Médio uma tarefa quase impossível.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 13/05/2025:

Matéria de 16/05/2025:

Matéria de 17/05/2025:

Matéria de 15/05/2025:


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