O Blog em sua Seção Inteligência, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/se%C3%A7%C3%A3o-intelig%C3%AAncia, vem acompanhando os principais serviços e agências do mundo, bem como àquelas que possuem interesse em nosso país.
Nesse sentido, a Rússia sempre nos chamou a atenção, em virtude da sua agressividade e eficiência global, conforme analisamos no artigo "Seção Inteligência: Inteligência russa parte II - agressividade e eficiência global", de 28 de novembro de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-inteligência-russa-parte-ii-agressividade-e-eficiência-global. Por esse motivo, os serviços de inteligência russos mereceram da nossa parte a elaboração de várias análises, que foram materializadas em diversos de nossos artigos.
Dessa forma, tentaremos fazer uma correlação da inteligência russa com a condução de sua guerra híbrida no mundo, com destaque para as suas ações no Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados europeus.
Como apresentamos em nossos artigos da Seção de Inteligência sobre a inteligência russa, as suas operações encobertas, amplamente conduzidas por suas agências de inteligência, são uma característica central de sua política externa, particularmente em tempos de tensão global. Estas operações têm como objetivo enfraquecer adversários, promover interesses estratégicos e manter a influência da Rússia em uma ordem internacional que considera hostil aos seus interesses. Além de campanhas de desinformação, sabotagem e espionagem, a eliminação de dissidentes e outros assassinatos de alto perfil são elementos críticos dessa estratégia.
Assim, a análise sobre as atividades de inteligência e sabotagem da Rússia na Europa aponta para uma série de ameaças crescentes, que já vão além do conflito direto na Ucrânia. Estas ações envolvem desde o uso de agentes e redes locais até tecnologias avançadas de guerra eletrônica.
De acordo com um relatório, de 2024, da Chatham House - Russian disruption in Europe points to patterns of future aggression - disponível em https://www.chathamhouse.org/2024/05/russian-disruption-europe-points-patterns-future-aggression, diversos países europeus estão sendo alvo de operações de espionagem e interferência cibernética russas. Exemplos incluem ataques planejados por agentes russos contra infraestrutura crítica e o uso de redes de criminosos para ataques físicos e ciberataques. Este padrão de sabotagem e recrutamento de intermediários é particularmente notável na Polônia e nos países bálticos, onde os russos têm concentrado esforços para interromper as cadeias de abastecimento e apoiar atividades contra governos locais.
As operações encobertas e assassinatos russos provocaram sanções e condenações globais, mas também expõem lacunas na resposta ocidental. Ações coordenadas para identificar e neutralizar agentes, fortalecer a cibersegurança e combater a desinformação têm sido cruciais. Conforme mencionamos em nossos artigos, o assassinato de indivíduos que representam ameaças à segurança ou imagem da Rússia é uma tática conhecida do Kremlin. Esses atos servem para intimidar opositores e dissuadir dissidências. Além de assassinatos, as operações russas incluem:
1. Campanhas de Desinformação
O Kremlin manipula plataformas digitais e mídias estatais para espalhar notícias falsas e dividir sociedades ocidentais. A desinformação sobre a pandemia de COVID-19 e questões migratórias são exemplos recentes;
2. Infiltração em Instituições Democráticas
Casos como o de Sergei Cherkasov, um agente que infiltrou-se na Corte Penal Internacional, ilustram os esforços russos para minar instituições ocidentais.
3. Sabotagem Física e Cibernética
A Rússia tem sido ligada a ataques em infraestruturas críticas, como redes de energia e comunicações, utilizando tanto métodos cibernéticos quanto sabotagens diretas.
Logo, podemos concluir que essas ações são projetadas para alcançar os seguintes objetivos geopolíticos:
A. Neutralizar Opositores e Dissidentes
A eliminação de críticos serve para preservar o regime autoritário de Putin, enviando um aviso claro aos opositores, e aqueles que estariam pensando em não seguir as intenções governamentais.
B. Enfraquecer Alianças Ocidentais
A OTAN e a União Europeia são alvos principais. Divisões internas e escândalos políticos facilitados por operações encobertas reduzem sua eficácia e coesão.
C. Influência Regional e Global
No contexto europeu, a Rússia busca enfraquecer o apoio à Ucrânia e moldar políticas que favoreçam seus interesses, enquanto promove sua influência em regiões estratégicas como os Bálcãs e o Ártico
Para tanto, a Rússia utiliza uma combinação de agências estatais, proxies e entidades privadas para implementar suas operações encobertas, com isso segue um resumo sobre as agências de inteligência russas que abordamos no artigo "Seção Inteligência: Inteligência russa parte II - agressividade e eficiência global", citado acima, para auxiliar o leitor:
Glavnoye razvedyvatel’noye upravleniye ou Main Intelligence Agency of the General Staff of the Armed Forces - GRU: atualmente é a mais agressiva e conhecida agência de inteligência russa, bem como é a mais antiga com mais de 100 anos de existência. É uma agência de inteligência militar sendo responsável pelas forças especiais conhecidas como Spetsnaz, além disso também tem como atribuições: inteligência militar / guerra cibernética / inteligência de sinais / reconhecimento / operações de inteligência / operações psicológicas / missões de sabotagem / guerra de informações. Ademais, organiza e coordena os seus proxies por meio dos Spetsnaz. Atuou nos conflitos na Ucrânia, Síria, dentre outros;
Foreign Intelligence Service - SVR: responsável pela inteligência estrangeira (campo externo) e trabalha em coordenação com o GRU. Tal serviço é derivado da ex-KGB;
Federal Security Service - FSB: responsável pela contrainteligência, e atuaria no campo interno (segurança interna). Porém, realiza, também, operações no exterior, e ganhou destaque no tocante a inteligência externa, rivalizando com o GRU. Tal serviço é derivado da ex-KGB;
Federal Protective Service - FSO: atua como uma agência supervisora das demais, verificando as operações realizadas e os relatórios de inteligência produzidos.
Além disso, não podemos esquecer os seus proxies, coordenados pelo GRU, como o Grupo Wagner que são empregados para operar fora dos limites oficiais, conduzindo assassinatos e ações militares clandestinas. Após a sua reestruturação recente, como analisamos no artigo "O Novo Wagner Group e os seus impactos geopolíticos", de 02 de março de 2024, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-novo-wagner-group-e-os-seus-impactos-geopolíticosa, a presença do Wagner, agora renomeado como Corpo da África, foi observada não apenas na África, mas também em operações menos visíveis na Europa.
Outro aspecto importante é a crescente interferência russa nos sistemas de navegação e comunicação por GPS em regiões como o Mar Báltico e o Mar Negro, impactando tanto a aviação quanto o tráfego marítimo. Este tipo de guerra eletrônica dificulta operações de voo e já resultou no cancelamento de rotas entre a Finlândia e a Estônia, gerando custos econômicos e ampliando a insegurança no tráfego aéreo. A Rússia também utiliza uma “frota fantasma ou oculta” de embarcações para ações de espionagem e evasão de sanções, especialmente em torno da ilha de Gotland, na Suécia, uma região de importância estratégica para o controle do Mar Báltico.
Portanto, em nossa visão, essas operações representam ações típicas de guerra híbrida, onde as ações russas buscam enfraquecer os sistemas europeus de dentro para fora, sem a necessidade de uma invasão militar direta. A abordagem combina sabotagem, desinformação e ataques de guerra eletrônica, criando um ambiente de insegurança contínua que desafia a preparação e a resposta das defesas europeias.
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Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 15/10/2024:
Matéria de 07/11/2024:
Matéria de 15/10/2024 - o vídeo possui dublagem em português:
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