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Rússia e Reino Unido: tensão no Mar Negro - qual a verdade dos fatos?


Figura disponível em: https://c.files.bbci.co.uk/36F1/production/_119056041_finalmap.png

O Mar Negro tem sido um palco geopolítico interessante para se acompanhar, seja pelas recentes descobertas de reservas de petróleo e gás pela Turquia, seja pela necessidade da Rússia não ficar confinada nessa área marítima, ou seja pela anexação da Crimeia, em 2014, (ex-território ucraniano) por Moscou.

Nesse quadro, recentemente, houve a ocorrência de uma tensão entre os governos do Reino Unido e da Rússia, que envolveu o navio HMS Defender do Reino Unido e dois navios da Guarda-Costeira e cerca de 20 caças da Rússia, onde o pano de fundo foi a problemática da Crimeia, cuja anexação russa nunca foi reconhecida pela comunidade internacional. Ademais, durante a última crise entre os governos de Moscou e de Kiev, a OTAN, notadamente os EUA e o Reino Unido, prometeu a apoiar a soberania ucraniana contra possíveis agressões russas.

O cenário da atual tensão entre Putin e Boris Johnson se deu pelo fato do navio da marinha britânica estar realizando a sua navegação, pelo menor trajeto, entre o porto de Odessa na Ucrânia até a Geórgia (outro pais que possui problemas com a Rússia no tocante a Ossétia do Sul). Dessa forma, o governo de Londres alega que o seu navio estava realizando a Operação de Liberdade de Navegação (Freedom of Navegation Operations - FONOPS), e com isso estaria cumprindo a Lei do Mar por meio da "passagem inocente", bem como navegaria no limite externo do mar territorial ucraniano, mas precisamente transitava em sua zona contígua. Sendo assim, não estaria realizando atitude provocativa ou algum ato ilegal, ainda mais por estar com a sua aeronave hangarada e armamento em posição de travamento.

Em entrevista a BBC, o Comandante do HMS Defender, Captain Vincent Owen, afirmou que estaria realizando uma missão sigilosa, mas sem intenção de confronto.

Pelo lado de Moscou, o governo alega que o HMS Defender estaria violando o mar territorial russo, e que tomaria o uso da força para fazer valer a sua soberania, pois considera a Crimeia território russo, e que teria realizado disparos de advertência em área segura do navio britânico, bem como os seus caças teriam lançados bombas nas proximidades do navio, a fim de desviar o seu rumo.

A alegação russa foi formalmente negada pelo Ministério da Defesa - MOD britânico, em que refuta que ocorreram os disparos em direção ao navio, que a Rússia estaria realizando exercícios de tiro em outra área mais afastada, e que estava ciente disso. Além disso, o governo britânico não reconhece a Crimeia como sendo de jurisdição de Moscou, o que faz com que os meios russos não tenham a legitimidade de impedir o trajeto do HMS Defender.

A alegação britânica foi ratificada pelo seu Primeiro-Ministro em sua manifestação a seguir, bem como pelas figuras abaixo:


“The important point is that we don’t recognise the Russian annexation of Crimea. This is part of a sovereign Ukrainian territory, it was entirely right that we should vindicate the law and pursue freedom of navigation in the way that we did, take the shortest route between two points, and that’s what we did.” (fonte: The Guardian, em 24/06/2021).

Figura disponível em: https://www.bbc.com/news/world-europe-57583363
Figura disponível em: https://www.theguardian.com/uk-news/2021/jun/24/british-warships-might-enter-crimean-waters-again-says-minister

O trajeto realizado pelo HMS Defender é uma clara demonstração do apoio britânico ao governo da Ucrânia, e demonstra uma atitude assertiva e desafiadora em relação ao governo russo. Ademais, ratifica a opinião do Blog em seu artigo "O retorno do Reino Unido - ressurgimento da potência britânica?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-retorno-do-reino-unido-ressurgimento-da-potência-britânica, onde afirmamos que um dos objetivos do Reino Unido é de restaurar a sua posição como a potência naval europeia, bem como tem a intenção de deixar de ser uma potência média e voltar a ter o protagonismo geopolítico no cenário internacional do passado. Outro exemplo seria o envio de um Grupo-Tarefa baseado em seu porta-aviões para o Sudeste Asiático.

Convém mencionar que, no mês de junho, a Ucrânia e o Reino Unido assinaram um acordo para construção de navios e bases navais.

No dia 27 de junho foram encontrados documentos oficiais do MOD em um ponto de ônibus na Inglaterra que versavam sobre a operação do HMS Defender e que um dos objetivos era verificar a resposta russa, e que havia a expectativa de uma atitude de Moscou.

Em nossa opinião, não foi por coincidência que a bordo do navio britânico encontrava-se um repórter da BBC, e que poderia realizar uma matéria sobre o evento.

Os documentos foram entregues a BBC, e com isso foi aberta uma investigação pelo MOD para apurar o fato, pois afirmou que um de seus integrantes relatou a perda de documentos. Consideremos esse fato muito estranho e de pouca probabilidade de acontecimento, e que em nosso entender não foi um mero descuido ou negligência de um integrante do MOD.

Especulamos que poderia ter sido um ato da inteligência russa, em que teria obtido os documentos e usado desse subterfúgio para que os documentos fossem divulgados, o que poderia colocar o governo britânico como o causador do problema.

O que nos chama a atenção foi a pronta reação russa, tanto em acompanhar o HMS Defender, bem como usar a Guerra de Informação. Dessa forma, a nossa análise é que o objetivo russo seria enviar uma clara mensagem a OTAN e a Ucrânia sobre a sua prontidão e que a Crimeia seria um assunto não negociável, bem como demonstrar uma atitude de força ao público interno russo.

O Blog é de opinião que a "manobra" britânica foi premeditada e visava obter algum ganho geopolítico com algum erro russo. Ademais, demonstrou que vem pretendendo assumir o protagonismo naval europeu.

Além disso, vemos a disputa por narrativas, onde em nossa opinião a Rússia soube aproveitar melhor a Guerra de Informação.

O evento em tela, demonstra mais uma vez a importância de se ter uma Marinha bem preparada, e que possua uma compilação precisa e atualizada de suas águas jurisdicionais, pois as recentes tensões e crises têm tido o mar como origem, como vemos alertando. Isso vem ratificando a nossa opinião sobre a necessidade de elaborarmos uma Estratégia Marítima para o Século XXI, que seja levada a sério pelo poder político brasileiro.

Para tanto, acreditamos que o caso acima deve ser objeto de estudo pelo nosso governo, devido a importância crescente que a nossa Amazônia Azul vem tendo, notadamente as recentes descobertas da Elevação do Rio Grande, o que vem atraindo a atenção de importantes atores estatais estrangeiros.

Qual a sua opinião?

Seguem os vídeos abaixo para as nossas análises e aprofundamento de nossas pesquisas:

Matéria de 27/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:

Matéria de 25/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:

Matéria de 24/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:

Matéria de 25/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:

Matéria de 23/06/2021:



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