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Programas Espaciais da América do Sul e o fator China: possíveis impactos para o Brasil.


Figura disponível em https://nationalinterest.org/sites/default/files/styles/desktop__1260_/public/main_images/space_0.jpg?itok=w57q7Sij

Com o acirramento da disputa pela hegemonia mundial entre a China e os EUA, o mundo tem assistido acusações de ambos os governos sobre a forma com que cada um deles tenta aumentar a sua influência geopolítica no cenário internacional. Dessa forma, temos testemunhado uma verdadeira Guerra de Informações.

Nesse cenário, os EUA e os seus aliados alegam que a China utiliza o seu projeto Belt and Road Initiative - BRI para se tornar o protagonista geopolítico. Ademais, também promulgam que os chineses, em suas parcerias, fazem uso da Diplomacia da Armadilha da Dívida, em que o Blog por meio do seu artigo "China e a diplomacia da armadilha da dívida", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/china-e-a-diplomacia-da-armadilha-da-dívida , analisou o assunto.

Nesse artigo afirmei que a China tem se apresentado a vários países como uma grande oportunidade de negócios para aprimorar as suas infraestruturas, destacando-se os setores de energia, transportes e telecomunicações, onde um dos exemplos marcantes é o projeto Belt and Road Initiative, ou mais popularmente conhecido como a Nova Rota da Seda, onde o governo chinês alega que foi idealizado para ser uma rede de comércio e infraestrutura global, conectando o mercado da China com o mundo, e dessa forma fazendo com que todos prosperem economicamente juntos. Entretanto, os empréstimos por vezes elevados, e as cláusulas contratuais têm estipulado, em certos casos, que se o país devedor não conseguir honrar o débito, a China terá o direito de explorar o investimento realizado ou receber commodities que lhe interessa, como o caso venezuelano que paga com petróleo. Ademais, essas parcerias têm diminuído o protagonismo estadunidense no cenário internacional, o que vem incomodando os EUA. Sendo um dos objetivos da China expandir a sua influência no mundo. Atualmente o empreendimento está em quase todos os continentes, inclusive com planos para a América do Sul.

Porém, a China encontrou uma forma mais sofisticada e silenciosa de consolidar a sua influência nos países emergentes e menos desenvolvidos, e que pouco se fala ou é alvo de ataques do Ocidente (aqui considerado pelos EUA e os seus aliados europeus, incluindo a Austrália). Trata-se do estabelecimento de acordos estratégicos entre os chineses e os seus países parceiros no tocante a investimentos em desenvolvimentos de programas espaciais, como o desenvolvimento de satélites.

Como exemplo dessas parcerias podemos citar o China - Brazil Earth Resources Satellites - CBERS, ou Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, que teve início em 1988. Maiores detalhes sobre essa parceria podem ser acessados em http://www.cbers.inpe.br/sobre/historia.php. Além dessa, a China possui outras parcerias com vários países latino americanos, como Argentina, Bolívia, Chile, Equador, México, Peru e Venezuela.

Dentre os mencionados acima, destacamos o da Venezuela, pois tanto o satélite brasileiro quanto o venezuelano possibilitam o monitoramento da região amazônica. O artigo de Matheus Marculino dos Santos* (2021), intitulado "O satélite venezuelano VRSS-2 e os seus impactos no Entorno Estratégico Brasileiro - EEB", e que pode ser lido no Blog pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_76a9412421fc4c5d98aa2c4ff56bd287.pdf, faz uma análise sobre os possíveis impactos do programa satelital venezuelano no Entorno Estratégico Brasileiro, e que o Blog concorda plenamente.

No artigo de Santos (2021), destaca-se o seguinte trecho:


"Um outro cenário dessa seara geopolítica é o aumento da presença chinesa nos assuntos de defesa da região, com impactos diretos na sua influência regional. Isso é ainda mais notório no caso venezuelano, onde há um estreito alinhamento político e ideológico entre Nicolás Maduro e o líder chinês Xi Jinping. Apesar da China ser um ator extrarregional, a sua força não pode ser negligenciada, pois ela utiliza dos meios diplomáticos e cooperação internacional para aprofundar os laços entre os atores. Levando em consideração a aproximação sino-venezuelana, a cooperação no âmbito espacial envolvendo o VRSS-2 pode ser o ponto de partida para outras relacionadas no campo de defesa, como é o caso da militar, exercícios em conjunto e a venda de armas. Ela vem se estabelecendo em contraposição ao vácuo de poder deixado pelos EUA, um aliado histórico dos países do Entorno Estratégico Brasileiro, mas que nas últimas décadas não elaborou políticas específicas para a região. O principal motivo disso é que o seu foco estava no Oriente Médio e Eurásia, e não na América do Sul, uma região de relativa estabilidade internacional. A falta de estratégias de desenvolvimento norte-americana na área dos programas espaciais ofereceu oportunidades à inserção chinesa, que aproveitou desse contexto para se inserir de forma abrangente no Entorno Estratégico Brasileiro. Ela pode ser caracterizada por ter uma política mais assertiva de acordo com os anseios dos países de se inserirem no campo espacial e monitorarem os seus territórios de forma autônoma, diminuindo assim a dependência de satélites estrangeiros."


O Blog é de opinião que a China, por meio das parcerias no campo espacial, aumenta a sua influência geopolítica na América Latina, em especial no Entorno Estratégico Brasileiro, e que dentre os programas espaciais sulamericanos, o da Venezuela é que possui maior possibilidade de avançar na área de defesa, em virtude do grande alinhamento ideológico com o governo chinês, o que poderá melhorar a capacidade venezuelana de vigilância e de planejamento militar, bem como dinamizar a sua inteligência. Além disso, acreditamos que esse programa contribuirá com a inteligência estratégica chinesa.

Outrossim, acreditamos que será muito difícil que os EUA consigam ocupar o espaço chinês nesses empreendimentos no nosso continente, em que pese ser uma área de influência estadunidense.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar a nossa análise:

Matéria de 28/03/2019 :

Matéria de 09/10/2017:


* - Matheus Marculino dos Santos é Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI-UERJ), e colaborador do Blog.

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