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O programa espacial argentino e os seus possíveis impactos na América do Sul.


Figura disponível em: https://cdnnmundo1.img.sputniknews.com/img/07e5/0b/04/1117894504_313:0:1166:853_1920x0_80_0_0_20e1f086dfb17616fc6ea422799f4c45.jpg

Argentina assina contrato para veículo lançador nacional.


Matheus Marculino dos Santos[1]


Conforme o Blog vem noticiando na sua seção de geopolítica espacial, que pode ser acessada por meio do link https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/geopol%C3%ADtica-espacial, nações desenvolvidas e em desenvolvimento vêm aumentando as suas ambições espaciais.

A atual geopolítica espacial é marcada pela competição entre as grandes potências (sobretudo EUA, Rússia e China) e demais atores que buscam maior relevância nas atividades espaciais. O uso dual das tecnologias empregadas nesse ambiente é algo desejável a qualquer nação e condição de soberania. O exemplo mais notório são os veículos lançadores, capazes de colocar satélites em órbita ou até mesmo entregar ogivas nucleares.

No cenário sul-americano, no início de outubro, a Argentina firmou um convênio para a construção e desenvolvimento do lançador de satélites Tronador II-250. O contrato foi assinado entre a Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE) e a empresa argentina VENG.

O anúncio do governo consiste em investimentos de aproximadamente 9,73 milhões de pesos argentinos ao longo dos próximos anos para o desenvolvimento de um protótipo e infraestrutura de lançamento e controle. Ou seja, mesmo enfrentando uma grave crise econômica com alta taxa de inflação e aumento da desigualdade social, a Argentina não abriu mão de investimentos na área espacial.

Nas palavras do presidente argentino, Alberto Fernández: “a riqueza das sociedades e nações se baseia em ter inteligência, e por isso, investir em educação e ciência é investir no futuro”. O projeto Tronador II permitirá à Argentina completar o domínio da tecnologia espacial necessária para colocar em órbita satélites nacionais ou estrangeiros a partir do seu território, feito restrito aos EUA, Rússia, China, Japão, Índia, Israel, Ucrânia, Irã, Coreia do Norte e mais recentemente, Coreia do Sul em 2022.

É digno de nota que na atual geopolítica espacial, tais países mencionados acima concentram o mercado de lançamento de satélites, gerando receita de milhares de dólares anualmente, o que é um estímulo à indústria e à economia local para o aperfeiçoamento tecnológico. Ter a capacidade de acesso independente ao espaço é um sinônimo de autonomia, desenvolvimento tecnológico e até mesmo prestígio internacional. Contudo, tal realidade ainda é distante mesmo para Brasil e Argentina, os atores com maiores investimentos espaciais no nosso continente.

No caso brasileiro, apesar deste ter o Centro Espacial de Alcântara (CEA), até o momento não houve sucesso em dominar a tecnologia de lançamento de satélites, dependendo assim de outras nações como China e Índia para colocar em órbita satélites nacionais. A mais recente tentativa brasileira para dominar a tecnologia de lançamento de satélites ocorreu no último dia 23 de outubro com o lançamento do foguete suborbital VSB-30 a partir do Centro Espacial de Alcântara (CEA).

Já no caso argentino, o país é um dos poucos capazes de desenvolver satélites de comunicação e observação autonomamente. O seu grande desafio atual é consolidar a indústria de lançamento espacial com a formação de recursos humanos qualificados e o domínio tecnológico. Para isso, será necessária uma política de continuidade dos governos, apoio interno e investimentos contínuos na área espacial ao longo dos próximos anos para materializar a sua família de lançadores. Na figura abaixo (1), é possível ver o seu planejamento até a construção do seu veículo de lançamento, o TII-250, ideal para satélites de pequeno porte de até 500 Kg.



Figura 1: Família de veículos lançadores argentinos




Devido aos altos custos no projeto, necessidade de mão de obra altamente qualificada e de desenvolvimento tecnológico, até meados de 2030 a Argentina planeja realizar testes com os veículos suborbitais denominados TII-70 com 11 metros de altura e TII-150 com 20 metros de altura para maturação dos sistemas empregados em um veículo lançador, tecnologias já dominadas pelo Brasil há algumas décadas. Apesar dos testes das famílias de lançadores terem fins científicos, ambos os veículos experimentais apresentam um grande valor no campo militar com a melhoria dos equipamentos de defesa argentinos.

O projeto prevê lançar o TII-70 até meados de 2026 a partir do Centro Espacial Punta Indio (CEPI), enquanto o TII-150 e TII-250 com 27 metros de altura podendo levar uma carga útil de até 500 Kg estão planejados a partir do Centro Espacial Manuel Belgrano (CEMB), em Bahía Blanca. Se porventura a Argentina atingir os seus objetivos espaciais, o país terá expressivas vantagens na região ao ingressar no seleto mercado de lançamento de satélites e a possibilidade de emprego desta tecnologia nas suas forças armadas, com impactos na distribuição de poder na América do Sul. Portanto, o projeto de um veículo lançador argentino é um estímulo à sua indústria nacional e para que outras nações da região amadureçam os seus projetos de acesso independente ao espaço.


O Blog é de opinião que a aquisição de capacidades de lançamento pela Argentina implicará em profundos impactos militares, científicos, econômicos e sociais ao país.


Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:

Matéria de 04/10/2022:

Matéria de 11/10/2022:

Matéria de 10/06/2020:

Matéria de 04/10/2022:

[1] Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI-UERJ); e-mail: matheus_rj96@hotmail.com; Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9859-6823



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