O Blog vem acompanhando a disputa pela soberania das Ilhas Curilas (Kuril Islands) entre a Rússia e o Japão, por meio dos seus artigos "Ilhas Curilas: obstáculo para assinatura do tratado de paz entre Rússia e Japão"e "Ilhas Curilas: obstáculo para assinatura do tratado de paz entre Rússia e Japão - Parte II", disponíveis respectivamente em https://www.atitoxavier.com/post/ilhas-curilas-obstáculo-para-assinatura-do-tratado-de-paz-entre-rússia-e-japão e https://www.atitoxavier.com/post/ilhas-curilas-obstáculo-para-assinatura-do-tratado-de-paz-entre-rússia-e-japão-parte-ii.
Nesses artigos, afirmamos que as ilhas em questão possuem importância estratégica para a Rússia devido a sua localização, como uma fronteira no Mar de Okhotsk, permitindo o seu acesso ao Oceano Pacífico, sem uma contenção, bem como que a partir de 2018, as negociações voltaram a acontecer e que havia uma perspectiva da conclusão em 2019, o que não ocorreu. Além disso, o governo de Moscou aumentou a presença militar na região, inclusive com a realização de exercícios navais, aumentando a apreensão japonesa com as demonstrações de força. Portanto, essa disputa é mais um fator de instabilidade para a região do Pacífico Ocidental, e que indiretamente é um ponto de apreensão para os EUA, devido a envolver o seu aliado japonês. Ademais, é muito pouco provável que a Rússia aceite devolver as ilhas disputadas, pois envolve questões de soberania e de defesa, que são conceitos extremamente relevantes para o governo de Moscou, e que somente uma contrapartida muito vantajosa e que reforce a liderança de Putin, tanto internamente quanto externamente, é que poderá permitir aos japoneses atingir os seus objetivos.
Nesse cenário, com o atual conflito da Ucrânia em que a Rússia está com as suas atenções voltadas para a sua fronteira ocidental, pois está lutando uma guerra contra o esforço ocidental pró-governo de Kiev, e que em nossa análise pretende "estrangular" o governo de Moscou, por meio de um desgaste militar, com o envio maciço de armamento às forças ucranianas, lutando quase uma guerra por procuração contra os russos, e econômico, através de severas sanções às indústrias russas, notadamente as de energia, e ao seu sistema financeiro, o Japão acompanhou o mundo ocidental nas sanções econômicas contra a Rússia, aumentando as tensões entre ambos os Estados sobre a disputa territorial sobre as Ilhas Curilas.
Outrossim, o primeiro ministro japonês Fumio Kishida reivindicou, de forma mais assertiva, a soberania japonesa sobre as ilhas em questão, fato que não acontecia desde 2003. Ademais, o Ministério das Relações Exteriores do Japão alegou que o conflito russo - ucraniano impede o diálogo entre Tóquio e Moscou sobre o tratado de paz entre os seus países.
Tal posicionamento japonês fez com que a Rússia cancelasse, em março, as negociações sobre essa disputa territorial, bem como afirmasse que as quatros ilhas em questão fazem parte da Federação Russa de forma inalienável. Além disso, considera, agora, o Japão como um país hostil. Dessa forma, realizou exercícios militares, no final de março, simulando defesa contra uma possível invasão nas ilhas por meio de operação anfíbia, elevando a tensão na região.
Na página do Ministério das Relações Exteriores japonês, que pode ser acessado em https://www.mofa.go.jp/region/europe/russia/territory/overview.html, consta que as ilhas foram ilegalmente ocupadas pelos russos, conforme pode-se ver abaixo:
"The Northern Territories are inherent territories of Japan that continues to be illegally occupied by Russia. The Government of the United States of America has also consistently supported Japan's position."
Em 22 de abril foi anunciada uma nova versão do relatório diplomático anual japonês, conhecido como Bluebook, em virtude do atual conflito da Ucrânia, e que ratifica a deterioração da relação diplomática nipo - russa, inclusive criticando a invasão russa ao território ucraniano, bem como reafirmando a ocupação ilegal das ilhas Curilas pelos russos. Dessa forma, vemos o Japão adotar uma visão mais realista e dura acerca das suas relações com os russos. Ademais, pode-se perceber a confirmação do alinhamento japonês ao mundo ocidental.
O Blog é de opinião de que o Japão considera que o possível enfraquecimento russo, em virtude dos impactos militar e econômico advindos do atual conflito da Ucrânia, pode ser uma boa oportunidade para tentar negociar, em melhores condições, um acordo com o governo de Moscou sobre a questão da soberania das Ilhas Curilas, o que na nossa visão não deverá acontecer enquanto Putin estiver no poder, pois este líder deseja deixar um legado na história russa, e não vai querer ficar conhecido como o que cedeu território a um país considerado, atualmente, como "hostil".
Dessa forma, acreditamos que a piora nas relações entre Tóquio e Moscou poderá colocar mais pressão sobre o governo de Putin, fazendo com que tenha que se preocupar, também, com a sua parte oriental.
Nesse sentido, é esperado um aumento das tensões entre ambos os países, trazendo mais instabilidade para a região do Pacífico.
É interessante observar se a Rússia realizará mais demonstrações de força militar nessa região, bem como se irá se aproximar ainda mais da China, e possivelmente da Coreia do Norte, que defendeu Putin em sua decisão de invadir a Ucrânia.
É digno de nota que em março, em meio ao conflito ucraniano, houve entre os governos de Moscou e de Pyongyang um encontro para discutir o aumento das relações bilaterais, que sofrem sanções ocidentais e possuem inimigos comuns.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:
Matéria de 03/2022:
Matéria de 01/04/2022:
Matéria de 01/04/2022:
Matéria de 24/040/2022:
Matéria de 27/02/2022:
Matéria de 17/04/2022:
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