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A eleição peruana e o retorno da esquerda na América do Sul.


Figura disponível em: https://static.dw.com/image/57809437_303.jpg

O Blog em sua Seção América e Atlântico Sul, acessível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/amer-e-atl-sul, vem acompanhando a situação geopolítica do nosso continente, bem como as tendências políticas com o intuito de antecipar possíveis impactos em nosso país.

Nesse diapasão, afirmamos que as recentes eleições para mandatários de países sul-americanos sinalizam uma tendência do retorno dos partidos de esquerda no protagonismo do nosso continente.

Isso pode ser visto em nosso artigo "O novo governo boliviano e o retorno do socialismo - indicador de tendência para a América do Sul?", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/o-novo-governo-boliviano-e-o-retorno-do-socialismo-indicador-de-tendência-para-a-américa-do-sul, em que falamos que vimos mudanças de governo, da esquerda para a direita, como: ex-governo de Macri na Argentina (terminou no final de 2019), governo de Sebastián Piñera no Chile, governo de Jair Bolsonaro no Brasil, o ex-governo provisório na Bolívia (terminou em novembro de 2020), dentre outros. Tais mudanças foram o resultado da frustração das populações sul-americanas com os seus governos de esquerda que realizaram gestões populistas e com alto grau de corrupção, causando um grande descontentamento e desencanto com os discursos socialistas, ocasionando uma polarização política e ideológica em vários países. Além disso, afirmamos que a onda de direita começou a sinalizar uma perda do fôlego entre os nossos países vizinhos, conforme podemos observar pelas vitórias do atual presidente Argentino, Alberto Fernández no final de 2019, e que acolheu Evo Morales como exilado, e de Luis Arce na Bolívia. Ademais, não podemos esquecer os problemas internos enfrentados por Sebastián Piñera no Chile. Dessa forma, tais fatos poderiam ser considerados como indicadores de uma tendência do retorno da esquerda ao poder na América do Sul. Nesse cenário, é esperado que haja uma maior aproximação dos governos chinês e iraniano, e quiçá russo, como já está ocorrendo com a Venezuela e a Argentina, e agora possivelmente com a Bolívia.

Em outro artigo intitulado "O futuro incerto do Chile: Estado progressista de bem estar social x desenvolvimento econômico?", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/o-futuro-incerto-do-chile-estado-progressista-de-bem-estar-social-x-desenvolvimento-econômico, também afirmamos que a pandemia da COVID-19 potencializou os movimentos reivindicatórios sociais, que a década de protestos, iniciada em 2010, ainda está em curso, onde podemos concluir que o modelo de Estado idealizado por Hobbes está em questionamento em algumas partes do mundo, além do neoliberalismo e liberalismo. Dessa forma, vemos a América do Sul como um "caldeirão"social, em que a esquerda tem a grande possibilidade de voltar a ser protagonista no continente.

Recentemente, o resultado da eleição presidencial peruana ratificou a nossa percepção acima, com a acirrada disputa entre os candidatos de extrema direita e de extrema esquerda, em que este último sagrou-se vitorioso, em que pese não ter-se o resultado oficial.

Convém mencionar que o Peru estava passando por uma grande e grave instabilidade política que analisamos por meio do artigo "A crise peruana e os possíveis impactos geopolíticos", que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-peruana-e-os-possíveis-impactos-geopolíticos, em que dissemos que o Peru, desde 1990, vem enfrentando problemas políticos envolvendo os seus Presidentes e o Congresso, onde teoricamente têm acontecido alguns "golpes de Estado" com uma roupagem de legalidade, mas que se destinam ao atendimento de interesses políticos de certos partidos (como os fujimoristas), bem como aos interesses pessoais de alguns políticos relacionados a corrupção. Um exemplo disso foi com o ex-Presidente Martin Vizcarra, que tinha uma forte agenda anticorrupção e elevada aprovação popular, que foi derrubado politicamente pelo Congresso cujo motivo alegado era de "incapacidade moral", o que acabou levando a população às ruas, dando início a uma violenta repressão policial, tendo como consequência o acirramento dos ânimos, mesmo no período de grave pandemia de COVID-19 que o país está enfrentando. Ressalta-se que boa parte dos políticos do Congresso peruano possuem acusações sérias de corrupção. Ademais, também afirmamos que países com alto grau de corrupção, com instituições fragilizadas e apresentando convulsão social são excelentes oportunidades para o estabelecimento de governos populistas, que sempre trazem instabilidades geopolíticas para a região e que podem ser alvo de interesse por potências exógenas ao continente, onde um exemplo na América do Sul seria a Venezuela. Sinalizamos que, caso aconteça o aprofundamento do caos sócio-econômico, seria importante acompanhar um possível ressurgimento dos grupos revolucionários armados Sendero Luminoso (ainda existem pequenos grupos que se associaram ao narcotráfico) e Movimento Revolucionário Túpac Amaru (a princípio extinto em 1997 com a morte dos seus integrantes), principalmente numa possível atuação na fronteira amazônica com o Brasil.

É digno de nota que todos os presidentes eleitos neste século: Alejandro Toledo (2002-2006), Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynsky, que renunciou, (2016-2018 - em 2019 sofreu impeachment) estavam envolvidos com casos de corrupção, que foram revelados pelo escândalo da "Lava-Jato Peruana". Nessa lista de presidentes há políticos tanto de esquerda quanto de direita.

Sendo assim, a eleição peruana ocorreu no seguinte cenário:

  • ambiente polarizado entre a direita e a esquerda, conforme podemos observar pelo resultado em que o vencedor Pedro Castillo ficou com 50,18% contra 49,82% de Keiko Fujimori (que também está envolvida com casos de corrupção);

  • alta instabilidade política;

  • sociedade desgastada com os casos de corrupção política; e

  • séria crise sanitária peruana.

Pedro Castillo se elegeu com uma plataforma social e ao mesmo tempo conservadora nos costumes, pois é contra ideologia de gênero e o casamento de homossexuais, o que pode ser considerado como uma esquerda destoante dos valores progressistas comuns aos atuais partidos de esquerda dos EUA, Europa e América Latina.

Nos chamou a atenção a intenção do candidato da extrema esquerda, após assumir o poder, de mudar a Constituição por meio de uma Assembleia Constituinte, cujo principal motivo seria a vontade de realizar uma intervenção estatal na economia.

Nesse sentido, Castillo durante a sua campanha eleitoral negou que seja comunista, bem como tem pontuado que não seguirá o modelo venezuelano, além de moderar o seu discurso. Essa postura pode ser entendida como uma manobra para se conseguir mais votos. Resta-nos acompanhar como será na prática ou se seguirá a linha chavista.

Alguns analistas veem certas semelhanças do seu plano de governo com o chavismo, apesar do partido de Castillo afirmar que se baseou nas políticas da Bolívia e do Equador, com isso poderemos esperar uma aproximação com o regime de Maduro.

Acordo informações, no partido de Castillo teriam personalidades influentes que são ligados ao Movimiento por la Amnistía y los Derechos Fundamentales - MOVADEF, que seria ligado ao grupo terrorista peruano Sendero Luminoso que possui ideologia marxista-leninista-maoísta.

O MOVADEF é visto com certa cautela e apreensão por parte da sociedade peruana, pois muitos o consideram como pró-terrorismo. Nesse sentido, vemos uma parcela da imprensa peruana que acusa e outra que nega as relações de Castillo com o MOVADEF.

O Blog é de opinião de que os partidos de esquerda estão retornando ao protagonismo no cenário político sul-americano. Além disso, caso seja comprovado a ligação de Castillo com o MOVADEF, o futuro governo peruano poderá aprofundar a instabilidade política peruana, numa sociedade polarizada, ainda mais se seguir o modelo chavista, o que poderá impactar no Brasil com uma possível migração de peruanos, a exemplo do que ocorreu na Venezuela.

Outrossim, ratificamos a nossa análise, constante no artigo "O novo governo boliviano e o retorno do socialismo - indicador de tendência para a América do Sul?", onde afirmamos que é esperado que esse novo movimento de esquerda possa ter uma certa influência nas eleições de 2022 no nosso país. Porém, percebemos que no Brasil a sociedade demonstra sinais de desgaste com a polarização política, e que um caminho mais ao centro talvez seja o preferido.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para nos ajudar em nossa análise:

Matéria de 10/06/2021:

Matéria de 10/06/2021:

Matéria de 05/06/2021:

Matéria de 06/06/2021:

Matéria de 12/06/2021:

Matéria de 29/06/2018:

Matéria de 12/04/2021:

Matéria de 05/2021:

Matéria de 25/05/2021:

Matéria de 07/06/2021:

Matéria de 05/06/2021:

Matéria de 08/06/2021:


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