Os Jogos de Guerra Profissionais e os Exercícios Táticos: diferenças conceituais e aplicativas.
- Alexandre Tito Xavier
- 22 de mar.
- 5 min de leitura

Introdução
A distinção entre jogos de guerra profissionais e exercícios táticos é fundamental para compreender como instituições militares e civis aperfeiçoam suas capacidades estratégicas, operacionais e táticas. Enquanto os jogos de guerra são empregados como metodologia de análise e planejamento, os exercícios táticos buscam a aplicação prática de conceitos e doutrinas previamente estabelecidas. Assim, este artigo explora essas diferenças conceituais e suas implicações na preparação de forças militares e na gestão de crises em cenários civis e militares.
1. Jogos de Guerra Profissionais e Exercícios Táticos
1.1 Jogos de Guerra Profissionais: Características e Objetivos
Os jogos de guerra profissionais - JG são simulações estruturadas utilizadas para analisar decisões políticas, estratégicas, operacionais e táticas em ambientes complexos, ou seja, aplicação em problemas complexos por meio das interações humanas. Eles podem ser conduzidos em diferentes formatos, incluindo simulações de mesa, computacionais e mistos.
Portanto, podemos exemplificar como objetivo principal dos jogos de guerra profissionais: analisar doutrinas, avaliar políticas de defesa e antecipar possíveis desdobramentos de conflitos futuros. Convém mencionar que os jogos de guerra profissionais sempre permitirão um certo grau de treinamento dos participantes.
Conforme temos apresentado nos nossos artigos, palestras, cursos e no livro "Desvendando os Jogos de Guerra", publicado em 2022 e único livro no Brasil sobre o assunto, podemos destacar as seguintes características dos jogos de guerra profissionais:
• Modelagem de cenários: Baseiam-se em situações fictícias, reais ou hipotéticas para avaliar possíveis linhas de ação e decisões.
• Processo de tomada de decisão em ambiente incerto: Os participantes (jogadores) precisam lidar com incertezas, refletindo a complexidade do ambiente operacional real.
• Uso iterativo: Os jogos de guerra profissionais podem ser repetidos inúmeras vezes, com grupos de jogadores distintos, para investigar diferentes estratégias e suas consequências, refinando constantemente as políticas, estratégias ou planos.
• Participação multidisciplinar: Envolvem especialistas de diversas áreas de conhecimento, incluindo militares, analistas de segurança, formuladores de política dentre outros.

Logo, esses jogos são amplamente utilizados por forças armadas, forças de segurança, empresas e organizações civis (governamentais e não governamentais) para entender a dinâmica de conflitos, desde confrontos convencionais até ameaças assimétricas e guerra cibernética.
Por essa razão que no livro "Desvendando os Jogos de Guerra" temos a seguinte conclusão: "os países que mais empregam os JG, não por coincidência são as potências que mais se destacam no cenário internacional"
1.2 Exercícios Táticos e Simulação de Combate
Os exercícios táticos, por outro lado, são operações planejadas para testar e aprimorar a execução de tarefas militares ou civis em ambientes controlados, bem como massificar os procedimentos operacionais nos executores.
Dessa forma, diferente dos jogos de guerra profissionais, que se concentram no complexo cognitivo que é relacionado com o processo de tomada de decisão como decisões estratégicas e o planejamento, os exercícios táticos estão focados na execução de procedimentos operacionais.
Geralmente, para maximizar a sua efetividade, os exercícios táticos de simulação de combate frequentemente fazem uso de diferentes tipos de simulação:
• Simulação Construtiva: Ambiente em que as ações de unidades militares são representadas por modelagem computacional, permitindo análises estatísticas e tomada de decisões baseadas em dados simulados, podendo ser empregada em pesquisa operacional e experimentação doutrinária. Dessa forma, ela difere da simulação virtual, pois a interação não ocorre de maneira imersiva, mas sim por meio de análise de dados, estatísticas e gestão de informações táticas e estratégicas, se destinando, assim, para o treinamento de equipes de comando e de procedimentos relacionados ao comando e controle;
• Simulação Virtual: Utiliza ambientes digitais imersivos para treinar operadores individuais e equipes em cenários com certo grau de realismo, permitindo que os participantes realizem treinamentos sem a necessidade de deslocamento físico. Essa abordagem é amplamente empregada para o treinamento de pilotos, operadores de sistemas de armas e tripulações de embarcações navais. Logo, poderemos concluir que é um tipo de simulação intermediária entre a construtiva e a viva; e
• Simulação Viva: Exercícios realizados com tropas reais, empregando munição de festim e equipamentos operacionais para testar doutrinas e procedimentos, com isso conclui-se que se destina ao adestramento tático (individual e do grupo) e na avaliação das equipes com o intuito de prover uma qualificação ou determinada certificação de operação.
Sugerimos a leitura do artigo "A SIMULAÇÃO VIRTUAL COMO FORMA DE MANTER O ADESTRAMENTO INDIVIDUAL DO MILITAR: PROPOSTA DE ÍNDICE A SER RENOVADO PERIODICAMENTE, disponível em https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/3221/1/Cap_Buzinelli.pdf, para os que desejarem ter mais informações sobre simulação virtual.
Logo, a combinação dessas abordagens permite que os exercícios táticos sejam mais eficazes na preparação das forças armadas e de segurança, garantindo maior realismo e eficiência no treinamento de pessoal.
Um exemplo notável de exercício tático baseado em simulação de combate é o Exercício Guardião Cibernético, coordenado pelo Ministério da Defesa do Brasil. Realizado anualmente, esse é o maior exercício cibernético do hemisfério sul, reunindo forças armadas, instituições governamentais e empresas privadas para fortalecer a defesa de infraestruturas críticas nacionais contra ataques cibernéticos. Durante o exercício, são utilizadas:
• Simulação Construtiva, permitindo a modelagem de ataques cibernéticos em redes virtuais controladas.
• Simulação Virtual, com testes em tempo real para avaliar a resposta a ameaças cibernéticas.
• Simulação Viva, onde especialistas interagem diretamente com ameaças simuladas para desenvolver estratégias de mitigação.
Assim, esse tipo de exercício reforça a relação entre a simulação de combate e os exercícios táticos, demonstrando como diferentes ferramentas podem ser integradas para melhorar a preparação e a resposta operacional a ameaças.
2. Diferenças Fundamentais entre Jogos de Guerra e Exercícios Táticos
A distinção entre jogos de guerra profissionais e exercícios táticos pode ser resumida em quatro áreas principais:

Nesse sentido, podemos inferir que todo jogo de guerra profissional é uma simulação, mas nem toda simulação é um jogo de guerra.
Conclusão
Jogos de guerra profissionais e exercícios táticos desempenham papéis distintos, mas complementares, na preparação de forças armadas e na gestão de crises civis. Enquanto os jogos de guerra possibilitam a análise aprofundada de cenários e a formulação e a verificação de políticas, estratégias e planos, os exercícios táticos são essenciais para a execução eficiente de planos e doutrinas. A integração dessas abordagens garante uma preparação robusta e adaptável frente às ameaças contemporâneas, reforçando a segurança nacional e a capacidade operacional das forças de defesa e de segurança, bem como incrementando a eficiência e eficácia das organizações civis.
Nesse contexto, podemos entender o ciclo de pesquisa de Peter Perla, estudioso e referência sobre jogos de guerra profissionais, representado na figura abaixo, e cujo entendimento pode ser lido no texto que segue abaixo. Tanto a figura quanto o texto estão disponíveis no livro "Desvendando os Jogos de Guerra":

"Podemos ler, em nossa análise, a figura acima da seguinte forma: - Indutiva: a realização de exercícios militares permitirá que sejam colhidas várias observações, que após analisadas devidamente, irão originar uma hipótese, que poderá, ao ser submetida a um Jogo de Guerra analítico, gerar uma teoria que será a semente para mais estudos que possibilitarão vislumbrar a necessidade de decisões de mudança para fazer frente a cenários futuros, e que depois podem gerar novos exercícios para validarem as respectivas mudanças; - Dedutiva: a realização de um Jogo de Guerra analítico poderá gerar uma hipótese que, após a devida análise, irá sugerir a realização de exercícios militares com o intuito de validá-la (teste), e cujas observações poderão gerar novos Jogos de Guerra" (pag. 63 do livro "Desvendando os Jogos de Guerra")
Logo, não podemos confundir jogos de guerra profissionais com exercícios táticos, o que, infelizmente, alguns analistas, estudiosos e militares ainda fazem, o que explica a razão da iniciativa, no exterior, de diferenciar os termos "wargame" (jogos de guerra profissionais" de "war game" (exercícios táticos e jogos de guerra recreativos), conforme consta no livro referenciado neste artigo.
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