No dia 20 de março deste ano, a Ministra de Defesa do Reino Unido, Annabel Goldie, anunciou que o Reino Unido enviaria a munição anti-tanque, elaborada com urânio empobrecido, para municiar os tanques ingleses Challenger 2 que serão doados a Ucrânia em sua defesa contra a invasão russa, conforme pode-se ver abaixo:
Alongside our granting of a squadron of Challenger 2 main battle tanks to Ukraine, we will be providing ammunition, including armor-piercing rounds which contain depleted uranium. Such rounds are highly effective in defeating modern tanks and armored vehicles (fonte: https://questions-statements.parliament.uk/written-questions/detail/2023-03-06/hl6144)
Tal informação gerou, no dia seguinte, uma resposta firme do governo de Moscou, em que o Presidente russo, Vladimir Putin, informou que a Rússia seria forçada a reagir a essa medida, bem como afirmou que o Ocidente - OTAN - decidiu de fato lutar contra os russos. Assim, a decisão britânica de enviar munição com componentes nucleares (urânio empobrecido) estaria sendo "entendida" pelo governo russo como uma "colisão nuclear" entre as partes (Ocidente x Rússia), e com isso um passo para a escalada do conflito.
Nesse sentido, como tal munição vem sendo usada desde 1991, na primeira Guerra do Golfo, o Reino Unido acusa Putin de empregar a desinformação, visando controlar a narrativa, pois estaria tentando passar a ideia de que o Reino Unido estaria enviando armas nucleares à Ucrânia contra a Rússia.
É digno de nota que o emprego de tal munição contra os tanques russos poderia fazer uma grande diferença no campo de batalha em virtude da sua eficiência e eficácia contra veículos blindados, e que isso não é do interesse de Moscou.
Convém mencionar que o urânio empobrecido, conhecido em inglês por depled uranium - DU, é o subproduto do enriquecimento de urânio empregado como combustível para usinas nucleares ou para emprego em armas nucleares. Dessa forma, ele é menos radioativo que o urânio natural, cerca de 40% menos.
Devido as características físicas que fazem o urânio empobrecido ser mais denso que o chumbo, o tornaram ideal para perfurar as blindagens de veículos militares, tipo tanque de guerra. Os países que produzem tal munição são: EUA, Reino Unido, China, Rússia, França e Paquistão, embora outros países tenham tal munição em seus paióis.
Além disso, como é usado em munição de armas de energia cinética - alta velocidade - ao perfurar a blindagem ele atinge altas temperaturas transformando o interior do veículo num verdadeiro "inferno", praticamente vaporizando as tripulações.
Cabe informar que o urânio empobrecido também tem utilização na área médica e em aplicações industriais, dentre outras.
Entretanto, o seu uso é cercado por várias controversas, pois poderia afetar tanto as tropas quanto a população civil, bem como ao meio ambiente, havendo estudos e relatos sobre o tema, notadamente sobre os seus efeitos nas Guerras do Golfo e da Bósnia.
De acordo com o artigo da Revista The Lancet intitulado "Depleted uranium: a new battlefield hazard", disponível por meio link https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736%2802%2911811-3/fulltext , informa que quando a munição com urânio empobrecido atinge blindagens causa uma névoa de partículas finas que podem inaladas pelas pessoas ao redor, bem como serem levadas pelo vento atingindo outras pessoas e localidades. Além disso, também informa que a inalação desse produto aumenta o risco de câncer de pulmão, e de outros tipos, mas que para isso seria necessária uma grande dose, carecendo de um estudo pormenorizado dos riscos nos soldados, bem como nas populações atingidas, a longo prazo. O artigo aborda a contaminação do solo pelas munições que ficaram sob o terreno, e que poderiam afetar os lençóis de água. Porém, devido a eficácia das munições com urânio empobrecido, é esperado que o seu uso seja ampliado nas Forças Armadas de mais países.
No relatório das Nações Unidas, intitulado "The Environmental Impact of the Conflict in Ukraine - A Preliminary Review, de 2022, disponível no Blog pelo link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_070fbd182c764a39884475c4124ea1ef.pdf, informa que:
Depleted uranium in missiles forms a dust cloud on impact that has pyrophoric properties and will ignite, forming an aerosol of depleted uranium oxides that can enter the body through inhalation. The amount of dust created in this way depends on the target, with more dust created on hard surfaces such as armoured tanks or concrete walls [...] Depleted uranium can cause localized sediment and soil contamination and can affect a range of both aquatic and terrestrial species. Lawrence et al. (2015 p.451) state “In mammals, uranium toxicity can be highly detrimental to development, brain chemistry, behaviour, and kidney function”. The level of toxicity largely depends on the amount ingested, but it is especially dangerous to the liver. The chemical toxicity of depleted uranium is considered a more significant issue than the possible impacts of its radioactivity (UNEP 2007b; Briner 2010).
Logo, o relatório da ONU ratifica o artigo da revista The Lancet.
Ademais, existem vários relatos dos efeitos nocivos dessa munição nos soldados estadunidenses que lutaram nas Guerras do Golfo, bem como na população iraquiana, conforme alguns vídeos que disponibilizamos ao final deste artigo.
Nesse cenário, no dia 25 de março, Putin informou que instalará armas nucleares táticas na Bielorússia, o que em nossa visão é uma retaliação geopolítica pela intenção britânica de fornecer munição com urânio empobrecido aos ucranianos. Em seu comunicado, ele afirma que está fazendo mesmo que os EUA já o fazem quando possuem armas nucleares táticas nos territórios de seus aliados na Europa.
Portanto, em nossa análise, Putin escala a tensão com o Ocidente, e inicia uma nova Guerra Fria, ao restabelecer armas nucleares táticas na Bielorússia, como no período da ex-União Soviética, fazendo com que a estratégia de Destruição Mútua Assegurada, ou Mutual Assured Destruction - MAD, retorne com força ao cenário internacional.
O Blog é de opinião de que a decisão britânica de enviar munição com urânio empobrecido à Ucrânia, deu um bom motivo para Putin aumentar a tensão na região, bem como para fortalecer a sua posição e poder na Rússia.
Outrossim, com o envio de armas nucleares táticas russas para a Bielorússia, está sendo reinaugurada, em nossa visão, mais um período de Guerra Fria, como no passado entre a ex-União Soviética e os EUA, só que agora entre a Rússia, que possui alguns parceiros estratégicos importantes como a China e o Irã, e o Ocidente.
Ademais, é interessante ver que na Ásia, na África, e em certa medida na América Latina, os EUA e os seus aliados têm perdido o protagonismo, o que permitiu que a Rússia não ficasse isolada no Conflito da Ucrânia, bem como permitiu a ascensão chinesa.
Tal análise já vinha sendo realizada em outros artigos do Blog, o que confirma novamente o que sempre estamos dizendo, que, infelizmente, estamos vivendo num mundo mais imprevisível e menos seguro.
Com o exposto acima, é interessante ver como será o posicionamento geopolítico brasileiro num futuro próximo.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:
Matéria de 26/03/2023:
Matéria de 25/03/2023:
Matéria de 22/03/2023:
Matéria de 21/03/2023:
Matéria de 20/02/2022 - O vídeo aborda sobre os efeitos nocivos causado na população iraquiana pelo uso de munição urânio empobrecido:
Matéria de 14/09/2019 - Esse vídeo explica is possíveis impactos do uso do urânio empobrecido na fabricação de munições:
Matéria de 12/10/2009. Esse vídeo aborda a acusação do uso de munição com urânio empobrecido na população iraquiana:
Matéria de 10/10/2012:
Matéria de 01/10/2012- Filme produzido sobre o tema. Recomendo:
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