O continente africano é marcado por uma história de Golpes de Estado, desde a independência dos países africanos das potências colonialistas europeias, sendo mais de 200 tentativas ou tomadas de poder bem sucedidas, o que sempre contribuiu para a instabilidade política da região.
As figuras abaixo nos dão uma ideia da ocorrência desses eventos na África:
Uma das razões que justificam esse elevado número de trocas de poder pelo uso da violência foi a não observância por parte dos colonizadores europeus das diferenças étnicas e tribais, que compõem os povos da região, quando definiram as fronteiras dos Estados africanos. Além disso, os elevados índices de pobreza, os governos autoritários e a corrupção contribuem para a ideia de se trocar o governo.
Após um período de certa estabilidade nos países africanos, tem-se verificado recentemente, desde 2020, o ressurgimento da tendência de Golpes de Estado, em que a região do Sahel tem sido o epicentro dessa tendência, em virtude da inépcia de alguns governos locais como o de Burkina Faso (2022) em lidar com a problemática dos grupos insurgentes terroristas.
Ademais houve tentativas / Golpes de Estado no Niger (2021), no Sudão (2021), no Chade (2020) e no Mali (2020 e 2021), demonstrando um enfraquecimento dos regimes democráticos da região, ainda mais quando regimes militares estão sendo estabelecidos no poder.
Convém mencionar que nos países do Sahel tem-se verificado o descontentamento da população com os governos que não estão conseguindo prover melhores condições de vida, bem como o aumento do ressentimento com os franceses que sempre apoiaram os governos ditatoriais pró-França, o que tem levado a fortes protestos contra as tropas francesas estacionadas na região, isso está apresentando como consequência a redução do seu efetivo.
Outrossim, alguns analistas acreditam que tem havido um deslocamento de grupos terroristas fundamentalistas islâmicos, notadamente de grupos afiliados a Al Qaeda e ao Estado Islâmico, da Líbia para o Sahel, a fim de lutar contra a presença francesa, considerada colonialista, na região.
Nesse quadro, observa-se o aumento da presença de mercenários russos no Mali, como o Wagner Group, ocupando o espaço francês. Dessa forma, fica nítida uma disputa geopolítica entre os russos e franceses no Sahel.
É digno de nota que a França vem perdendo a sua influência na África, em que pese ter realizado mudanças no seu relacionamento com as suas antigas colônias, visando melhorar a sua imagem. Tal assunto já foi analisado no Blog.
Nesse cenário, verifica-se que esse movimento de troca de poder, por meio da violência, tem se dirigido para a África Ocidental, onde houve tentativas / Golpes de Estado na Guiné (2021) e na Guiné Bissau (2022). Existe uma grande preocupação desse movimento, tendo como origem Burkina Faso, atingir a Costa do Marfim, Gana, Togo e Benin, podendo se disseminar para toda a região ocidental. É importante lembrar da luta do governo nigeriano contra o grupo terrorista Boko Haram, na região norte do país.
Dessa forma, existe o temor que seja o início da multiplicação de Golpes de Estado na África Ocidental, o que poderá aumentar a instabilidade dessa região que já é impactada pela pirataria, pela rota do narcotráfico para a Europa e pela pesca ilegal.
Nesse sentido, esse cenário reveste-se de grande desafio à União Africana em como controlar esse fenômeno no continente.
Sugerimos a releitura dos seguintes artigos, visando contribuir com a análise do leitor:
- "Seção Inteligência: Os mercenários russos", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/seção-inteligência-os-mercenários-russos ;
- "África, palco de disputas geopolíticas. Parte II", acessível em https://www.atitoxavier.com/post/áfrica-palco-de-disputas-geopolíticas-parte-ii ;
- "Líbia: palco de interesses geopolíticos. II parte", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/líbia-palco-de-interesses-geopolíticos-ii-parte ;
O Blog é de opinião que o ressurgimento das tentativas de Golpes de Estado no continente africano poderá aumentar a instabilidade na região, e com isso deve ser acompanhado com atenção pelo governo brasileiro, devido a África Ocidental estar inserida no nosso Entorno Estratégico. Dessa forma, a ajuda brasileira a União Africana poderá melhorar os laços de cooperação Brasil - África, bem como aumentar o protagonismo geopolítico brasileiro.
Outrossim, fica evidenciada a disputa geopolítica franco-russa na África, sendo interessante observar a reação francesa que possui muitos interesses econômicos no continente africano, como a exploração de reservas de urânio no Sahel, não desejando perder terreno para os russos e os chineses.
Além disso, cabe acompanhar se os grupos fundamentalistas islâmicos conseguirão aumentar a instabilidade regional no oeste africano.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossas análises:
Matéria de 28/01/2022:
Matéria de 03/02/2022:
Matéria de 04/02/2022:
Matéria de 23/01/2022:
Matéria de 03/02/2022:
Matéria de 20/01/2022:
Matéria de 11/01/2022:
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