Os Estados da América Latina vêm sofrendo, a cada ano, no campo interno (aspectos políticos, econômicos, segurança interna, psicossociais e defesa) uma maior influência das Organizações Criminosas - ORCRIM, o que acaba impactando na soberania de alguns países, como temos visto em várias matérias jornalísticas.
Assim, já ocorreram nos países da América Latina vários atentados a políticos, bem como a candidatos à eleições presidenciais, que em suas campanhas pregavam a repressão as ORCRIM, como ocorrido na: Colômbia, México, Argentina, Bolívia, Venezuela, bem como no Brasil. Convém mencionar, que em pese o Haiti não integrar a América Latina, lá também houve atentado contra a liderança política.
É digno de nota que a maioria das ORCRIM estão ligadas a crimes transnacionais, como: tráfico de drogas, mineração ilegal, tráfico de pessoas e de armas.
O Blog já havia chamado a atenção para o impacto da ação das ORCRIM na soberania em seu artigo "A Mineração Ilegal na Amazônia e a ameaça a soberania: disputas entre ELN/FARC e ORCRIM brasileiras", de 04 de junho de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-mineração-ilegal-na-amazônia-e-a-ameaça-a-soberania-disputas-entre-eln-farc-e-orcrim-brasileiras.
Recentemente, em 11 de agosto, houve no Equador o assassinato do candidato a presidência do país, Fernando Villavicencio, que era crítico da atuação das ORCRIM no país, bem como denunciava uma ligação entre o grupo criminoso Los Lobos e o ex-presidente Rafael Corrêa, que se exilou na Bélgica fugindo do cumprimento de condenação da justiça equatoriana. Além disso, era o candidato do atual presidente Guillermo Lasso, conforme noticiado na CNN em:
Tal atentado nos traz novamente a um importante debate sobre a questão: "em que medida as ORCRIM estão transformando os países da América Latina em um "Narcoestado"?
Nesse cenário, vem ficando famosa a expressão "mexicanização da criminalidade", que pode ser entendida como a íntima relação entre as ORCRIM e o poder público, impactando na sociedade do país, e que é facilitada pelo grau de corrupção e de impunidade do Estado.
Cabe destacar que o processo de "mexicanização da criminalidade", geralmente, faz com que as Forças Armadas do país sejam direcionadas para combater as ORCRIM, contribuindo para a degradação da Defesa, e consequentemente da soberania.
Dessa forma, é importante pontuar que, em nossa visão, o treinamento militar para Defesa é diferente da ação de Segurança Interna, que cabem as Forças de Segurança - Polícias -, e que o uso, de forma direta, das Forças Armadas no campo interno ocasionará o desgaste com a população.
Ao atentarmos para a situação brasileira, cremos que estamos no processo de "mexicanização da criminalidade", pois já existem por parte das ORCRIM brasileiras: financiamentos de candidatos a eleições, atentados a lideranças políticas, e impactos na sociedade civil, gerando uma demanda por parte da população e de mídias jornalísticas sobre o uso das Forças Armadas brasileiras no combate as ORCRIM, ainda mais quando elas estão trabalhando em conjunto e, por vezes, competindo com ORCRIM estrangeiras.
Conforme a matéria da Revista Veja, na matéria "Cartéis mexicanos têm parceria com PCC no Brasil", de 09 de janeiro de 2022, disponível em https://veja.abril.com.br/brasil/carteis-mexicanos-tem-parceria-com-pcc-no-brasil, o cartel mexicano de Sinaloa estaria iniciando suas operações no território brasileiro:
"[...] atualmente o maior grupo criminoso do país latino, têm ocupado posições estratégicas na fronteira brasileira e há pelo menos quatro anos têm uma “parceria de conveniência” com a maior facção do país"
A referida informação reveste-se de importância e requer atenção das autoridades brasileiras, pois ao vermos o mapa abaixo, vemos que o cartel de Sinaloa está operando nos países do Entorno Estratégico Brasileiro, e com certeza planejam operar no Brasil:
Além disso, o grupo criminoso venezuelano Trem de Aragua, também, estaria operando no Brasil em parceria com o PCC, conforme a matéria da BBC Brasil, "A temida gangue da Venezuela que se espalha pela América Latina e teria laços com o PCC", de 29 de maio de 2023, acessível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g9j0xjggeo.
A figura abaixo mostra a evolução da influência das principais ORCRIM brasileiras no território nacional:
No mapa a seguir, elaborado em 2019, podemos ver a distribuição das ORCRIM pelo território nacional:
Nesse contexto, recomendamos a leitura do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, que pode ser lido https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf, visando se aprofundar nas questões de disputa entre o PCC e o Comando Vermelho.
Nesse sentido, inferimos que o ocorrido no Equador não está muito distante de ocorrer no Brasil, sendo que, por enquanto, a dimensão territorial brasileira contribui para que as ORCRIM, ainda, não interfiram totalmente no poder público brasileiro, diferentemente do que ocorre nos países latino americanos de menor extensão geográfica.
Portanto, com base no que foi exposto, podemos concluir que as ORCRIM que estão operando no Entorno Estratégico Brasileiro, na sua porção da América do Sul, são uma ameaça a soberania brasileira, e com isso o Poder Político deve levar o tema com seriedade, antes que o processo de "mexicanização da criminalidade" no nosso país esteja completado.
O Blog é de opinião que o Poder Político brasileiro tem que considerar as ORCRIM como uma ameaça a soberania nacional e, assim, elaborar uma estratégia para evitar a "mexicanização da criminalidade" no território nacional.
Nesse sentido, a realização de Jogos de Guerra seria extremamente recomendado, pois trata-se de um problema complexo, que requer uma análise das vulnerabilidades, visando evitar surpresas no controle da violência.
Qual a sua opinião?
Seguem algumas matérias para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 25/01/2022:
Matéria de 10/08/2023:
Matéria de 11/08/2023:
Matéria de 19/10/2021:
Matéria de 09/02/2017:
Matéria de 19/10/2020:
Concordo com a análise apresentada. É lamentável o que vêm ocorrendo com a gradativa tomada do poder, por parte das ORCRIM em solo brasileiro, principalmente pela omissão do Estado, que claramente se faz de cego à situação por pura conivência filosófica e financeira