Existe uma guerra, silenciosa e pouco divulgada, que vem sendo travada entre o Ocidente, representado pelos EUA e os seus aliados, e a China, com capacidade de impactar o mundo, pois afetará tanto o meio civil quanto o militar.
Trata-se da guerra tecnológica envolvendo a produção de microchips - circuitos integrados - que com o avanço tecnológico que estamos vivenciando, está presente em todos os equipamentos elétricos e eletrônicos, desde a TV até os modernos sistemas computacionais quânticos. Além disso, todos os sistemas de armas modernos, como mísseis, radares e outros armamentos e sensores dependem dos microchips para a sua produção e manutenção.
Entretanto, foi somente durante e, principalmente, após a Pandemia da COVID-19, que o mundo "acordou" para a seguinte conclusão: "quem domina a produção de microchips pode exercer influência no mundo".
Tal análise pode ser compreendida pela diminuição da produção desse produto durante a fase aguda da doença, em virtude das políticas de lockdown e pela redução da força de trabalho, bem como pela escassez de microchips após o controle da disseminação da epidemia. Tal falta explica-se pelo grande aumento da demanda de microchips pelo mercado internacional (retorno ao consumo de produtos manufaturados), e pelo advento da Guerra da Ucrânia, que potencializou a produção de armamentos inteligentes pelos russos e pelos países da OTAN.
Entretanto, não podemos esquecer que para fabricar os microchips necessita-se de matéria prima, conhecida como terras raras, e que explicamos no nosso artigo "Elevação do Rio Grande: oportunidade e vulnerabilidade para o Brasil", de 24 de fevereiro de 2021, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/elevação-do-rio-grande-oportunidade-e-vulnerabilidade-para-o-brasil, em que afirmamos que o governo de Pequim possui quase um monopólio, cerca de 80% da produção mundial, desses minerais de terras raras, e que muitos especialistas consideram como a fonte de recursos do Século XXI. Esse é um fator de força da China, ainda mais em sua disputa pela hegemonia geopolítica com os EUA, pois pode restringir a venda para o governo de Washington, que é o seu principal comprador, bem como para outros Estados em que possua alguma tensão política. É digno de nota que a exploração desses minerais é cara e complexa. No artigo, também afirmamos que se o Brasil conseguisse ter o direito de explorar a Elevação do Rio Grande, pois tem um grande potencial de terras raras, poderia se tornar um ator relevante como um dos principais mercados fornecedores dessa "commodity do futuro", sendo uma alternativa e um competidor direto com a China.
Dessa forma, o que analisamos e afirmamos no nosso artigo acima acabou ocorrendo, pois, em 2022, os EUA, e alguns aliados, aplicaram aos chineses restrições no controle de exportação de microchips (microchips avançados) com o objetivo de retardar o avanço tecnológico da China, o que gerou por parte do governo de Pequim, em julho de 2023, a imposição de restrições de exportação de terras raras, atingindo principalmente os EUA, o Japão, a França e a Holanda.
Nesse sentido, podemos entender também, além de todas as análises que fizemos sobre a disputa geopolítica no Mar do Sul da China, a importância de Taiwan nessa guerra tecnológica entre a China e o Ocidente, pois os taiwaneses, desde os anos 80, se transformaram no principal polo produtor e exportador de microchips no mundo. Assim, destacam-se as empresas Taiwan Semiconductor Manufacturing Company - TSMC e a United Microelectronics Corporation - UMC.
Daí entender-se o motivo pelo qual a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Sra. Nancy Pelosi, em 02 de agosto de 2022, ao visitar Taiwan teve um encontro estratégico com o presidente da TSMC. Tal visita a Taiwan teve como consequência a realização de manobras militares chinesas no entorno do território taiwanês e problemas diplomáticos entre chineses e estadunidenses.
Conforme podemos ver a seguir, entende-se a importância da TSMC para o governo dos EUA:
"Nos EUA, os semicondutores da TSMC são usados em aviões de combate F-35 ou no sistema Javelin de armas antitanque, com o qual a Ucrânia conseguiu neutralizar muitos tanques russos. Os componentes da TSMC também estão em supercomputadores dos laboratórios nacionais dos EUA, onde são realizadas pesquisas de interesse estratégico do governo americano. [...] Como as empresas de Taiwan também fabricam chips menos sofisticados para diversos bens de consumo, a indústria global é particularmente dependente de uma produção ininterrupta na TSCM. Não é surpresa que alertas soam quando Pequim ameaça invadir e incorporar Taiwan à China. Desde que o então presidente dos EUA Donald Trump aumentou a pressão sobre as empresas asiáticas de alta tecnologia para construírem fábricas em território americano, muita coisa aconteceu. Uma nova fábrica de chips da TSMC está sendo construída no Arizona e deve ficar pronta em 2024, ao custo de 12 bilhões de dólares (R$ 62 bilhões). A empresa pretende produzir semicondutores para clientes americanos como Apple, Nvidia ou Qualcomm perto de Phoenix. Não será a primeira fábrica da TSMC nos EUA. A empresa já produz os wafers – discos finos nos quais os circuitos integrados, os microchips, são feitos – em fábricas na costa oeste americana. No Texas, a TSCM mantém centros de pesquisa para projetar processadores. [...] A China está interessada na indústria de produção de semicondutores de Taiwan porque a China tem as terras raras e Taiwan tem a tecnologia e o know-how". Essa é uma das razões centrais pelas quais a Alemanha e os EUA não podem simplesmente ficar parados e ver Taiwan ser tomada pela China, diz Görlach. "Porque então nenhum carro também sairá das linhas de montagem em nosso país se os chips de Taiwan não chegarem."" (fonte: https://www.dw.com/pt-br/tsmc-a-campe%C3%A3-mundial-de-chips-que-fica-na-disputada-taiwan/a-62716578)
Assim, o governo de Washington promulgou, em agosto de 2022 o CHIPS and Science Act, com a intenção de aumentar a produção de microchips em território estadunidense, por meio de investimento bilionário, rivalizando com a China na guerra tecnológica, conforme pode ser lido no link https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2022/08/09/fact-sheet-chips-and-science-act-will-lower-costs-create-jobs-strengthen-supply-chains-and-counter-china/. Além disso, pretende investir em indústrias estadunidenses na Europa, bem como em indústrias parceiras neste continente, com o intuito de diversificar o local de desenvolvimento e produção.
Além dos EUA, a União Europeia - UE lançou a European Chips Act, em setembro de 2023, para diminuir a sua vulnerabilidade tecnológica, também por meio de investimentos bilionários. Mais informações podem ser obtidas no endereço https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/europe-fit-digital-age/european-chips-act_en.
Nesse cenário, o governo de Pequim decidiu, em 2023, ampliar os seus investimentos bilionários na sua indústria de fabricação de microchips, como: Semiconductor Manufacturing International Corporation - SMIC, GTA Semiconductor, Hua Hong Semiconductor, Honghu Suzhou Semiconductor Technology, Naura Technology Group ou Advanced Micro-Fabrication Equipment, dentre outras.
É digno de nota que, em dezembro de 2023, os chineses decidiram proibir a exportação de terras raras, aumentando a disputa com o Ocidente, quando se vê que este se empenha em tentar diminuir a sua dependência da China, desse recurso.
Logo, vemos uma corrida acirrada pela supremacia tecnológica que impactará no mundo, e que Taiwan, por enquanto, é fundamental para ambos os lados, pois quem a influenciar ou a controlar terá uma maior oferta desse estratégico produto - microchips - e assim poderá ter mais poder que o oponente.
Portanto, podemos inferir que, nos dias de hoje, em virtude da grande necessidade de desenvolvimento tecnológico, o microchip é tão importante e estratégico quanto o petróleo foi no passado, que originou a Geopolítica do Petróleo.
Assim, em nossa análise, de forma análoga ao ocorrido com o petróleo, é bem razoável dizermos que, atualmente, temos a Geopolítica dos Microchips.
Nesse sentido, pelo Brasil ter um bom potencial para ser exportador de terras raras, devido as suas reservas em terra e no mar (área marítima da Elevação de Rio Grande), mas que, ainda, não dispõe de tecnologia de processamento e de extração, o governo brasileiro poderia aproveitar a Geopolítica dos Microchips para desenvolver esta capacidade, em parceria com um dos lados dessa Guerra Tecnológica - China ou Ocidente. Além disso, o país poderia, também, criar condições político - financeiras para atrair um fabricante de microchips, se transformando num hub no Hemisfério Sul, barateando, assim, os custos de produção, como a China já o faz, e fará em escala cada vez maior (extração e processamento de terras raras + fabricação de microchips).
O Blog é de opinião que veremos, além da corrida tecnológica, uma busca, cada vez maior, pelo fornecimento de terras raras.
Além disso, podemos afirmar que os chineses tentarão inviabilizar o surgimento de outro exportador de terras raras ou firmar um acordo de cooperação com quem detenha grandes reservas, visando manter o controle da exportação de tal matéria prima.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 24/05/2023:
Matéria de 04/07/2023:
Matéria de 02/02/2024:
Matéria de 22/11/2023, recomendo assistir:
Matéria de 28/09/2023:
Matéria de 21/03/2023:
Yorumlar