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A crise sino-australiana: estudo de caso para o Brasil, parte II. Não estamos aprendendo.


Figura disponível em: https://cdn.countercurrents.org/wp-content/uploads/2020/08/china-australia-flags-edm.jpg

No nosso artigo "A crise sino-australiana: estudo de caso para o Brasil", de 14 de julho, acessível em: https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-sino-australiana-estudo-de-caso-para-o-brasil, afirmamos que existiam algumas semelhanças da situação australiana com a brasileira, pois assim como aquele país temos a China como principal parceiro econômico e os EUA como grande aliado, e em breve poderíamos estar no meio de uma disputa entre essas potências (concorrência pela tecnologia 5G, acusações à China por membros do governo etc), e que devemos acompanhar como essa crise acabará, a fim de nos prepararmos adequadamente para um cenário equivalente. Coincidência ou não, esse cenário já está começando a acontecer com o Brasil, conforme havíamos analisado.

Convém relembrar que em 2019, os chineses foram responsáveis por cerca de 39% das exportações australianas, sendo o principal mercado para a aquela economia, além disso os turistas e estudantes chineses injetam uma boa quantidade de recursos na Austrália. As relações econômicas bilaterais desses países respondem estimadamente por 11% do PIB australiano.

As relações entre os governos de Pequim e Camberra estão se deteriorando cada vez mais neste ano, onde recentemente a China divulgou imagens de membros das forças especiais australianas realizando atrocidades contra afegãos inocentes.

Neste cenário de tensão política entre esses Estados, a economia da Austrália começa a sofrer um forte impacto por meio do aumento de tarifas chinesas nos seus produtos, bem como com a China tentando substituir as commodities australianas por de outros Estados, como o carvão que poderá vir da Indonésia.

Pelo outro lado, a China importa da Austrália mais de 50% de suas necessidades de minério de ferro, e uma retaliação daquele pais nesse item, impactaria fortemente a economia de ambos, sendo que os chineses sentiriam mais a curto prazo e têm a capacidade de substituir sua dependência australiana por novos mercados fornecedores, como a África. Porém, no caso australiano o impacto seria muito maior, pois perderia o seu principal comprador.

Nesse sentido, os australianos estão aprendendo, da pior forma possível, que não poderiam ficar dependentes de uma grande potência, como a China, em que uma política de diversificação de mercados, nesse mundo mais imprevisível e menos seguro, é o correto a se fazer, conforme o ditado popular que nos ensina: "não coloque todos os ovos na mesma cesta".

Os chineses vêm fazendo a sua lição de casa com o seu projeto de longo prazo Belt and Road Iniciative, em que diversificarão os seus mercados exportador e importador.

Ao olharmos para as relações entre a China e o Brasil podemos ter uma sensação de déjà-vu, em que estamos trilhando o mesmo caminho australiano na disputa geopolítica entre Washington e Pequim. Apesar dos chineses comprarem muitas commodities brasileiras, como recursos minerais, carnes e produtos agrícolas, como a soja, é importante estudar e analisar o movimento chinês na África, em que estão investimento alta tecnologia na produção de alimentos, cerca de 20 anos, e formando um mercado para abastecer os armazéns chineses, e com isso em médio e longo prazos diminuirão a dependência dos nossos produtos.

Essa crise nos ensinou que a China impôs tarifas nos produtos da Austrália em retaliação a sua postura geopolítica, em que pese a sua necessidade de minério de ferro. Além disso, é esperada a diminuição dos investimentos chineses naquele país. É digno de nota que, conforme dados do World Bank, a Austrália em 2019 exportou mais para China que o Brasil.

As figuras abaixo mostram as exportações australianas e brasileiras, respectivamente, para a China:

Figura disponível em: https://d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/australia-exports-china.png?s=auschn00002%3Acomtrade&v=202012310000V20200908&ismobile=1&w=400&h=250&lbl=0
Figura disponível em: https://d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/brazil-exports-china.png?s=brachn00002%3acomtrade&v=202012310000V20200908

O Conselho Empresarial Brasil-China promulgou o documento "BASES PARA UMA ESTRATÉGIA DE LONGO PRAZO DO BRASIL PARA A CHINA", elaborado em outubro de 2020, com algumas reflexões e análises interessantes, principalmente nas sugestões apresentadas para elaboração de uma estratégia Brasil - China de longo prazo, e que está disponível no Blog em: https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_fd7fc93c72294b9d8a47efb0e618a81f.pdf .

Existem vários investimentos chineses no Brasil, inclusive em áreas estratégicas como a satelital.

O Blog é de opinião de que o governo brasileiro não estuda a crise sino-australiana e se mostra despreparado, sem um planejamento adequado, para o possível cenário de retaliação chinesa em médio e longo prazos, e com posições equivocadas e não pragmatas. Um governo pode ter simpatia por um Estado, mas não pode deixar de ser prático em suas relações comerciais e geopolíticas, pois tem um dever para com a sua sociedade.

Outrossim, se fossemos pragmatas, poderíamos aproveitar a oportunidade criada pela crise sino-australiana e aumentarmos as nossas exportações para a China, e ao mesmo tempo tentar diversificar o nosso mercado, seguindo o sábio ditado popular.

Apesar de estarmos vivendo um cenário semelhante, convém registrar que os EUA enxergam a Austrália como um aliado fiel e confiável, que esteve junto em várias situações como o combate ao terror, contenção ao expansionismo chinês, dentre outras campanhas, diferentemente do Brasil que não participa dessas iniciativas, e que terá pela frente um próximo governo estadunidense totalmente diferente de Donald Trump. Resta-nos esperar quando seremos realistas e pragmatas.

Qual a sua opinião sobre o tema? Estamos sendo práticos e maduros ao lidar com a China?

Seguem alguns vídeos para nos ajudar em nossas análises:

Matéria de 16/12/2020:

Matéria de 11/07/2018:

Matéria de 01/12/2020:

Matéria de 05/07/2016:

Matéria de 28/11/2020:

Matéria de 02/09/2016:

Matéria de 24/07/2020:

Matéria de 26/11/2020:

Matéria de 26/11/2020:

Matéria de 04/03/2020:

Matéria de 09/11/2015:

Matéria de 25/10/2019:

Matéria de 28/12/2019:

Matéria de 12/11/2019:

Matéria de 17/11/2020:

Matéria de 28/03/2013:


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